Ramón Cortez não tinha motivos aparentes - para quem observa de fora - para querer ajudar Becca. Mas só ele sabia de seus motivos. E sim, ele tinha motivos bem plausíveis.
Acontece que Ramón não era um qualquer. Não era apenas um paquerador latino de marca maior. Também não estava ali, naquela cidade, a troco de um salário mínimo como garçom de uma lanchonete local. Ele não escolhera aquilo.
Se ele se importava realmente com a figura de Rebecca? Não. Mas ele tinha que protegê-la. A todo custo. E falhara. Logo, ele estava desesperado.
"Não a perca de vista. Não tire os olhos dela. Não deixe que nenhum suspeito se aproxime de sua casa" lhe fora ordenado. E assim ele fez. Por dois anos - dois longos anos - ninguém ameaçou a vida de Rebecca Myers. Ele fora ordenado a acabar com todas as ameaças. E ele, de fato, acabou com todas as possíveis ameaças. Era pago para isso e mantinha a vigilância constante. Não desgrudava o olho dela. Bom, apenas uma vez ele se viu forçado a não vigiá-la. E justamente nessa única vez... Ela some.
"Maravilha" pensava ele, enquanto estava deitado no banco de trás de seu carro - nada luxuoso - tomando gigantescos goles de tequila direto da garrafa e mordiscando pedaços de pizza velhos do dia anterior.
O telefone em seu bolso vibrou. Ele atendeu.
-Fala chefia - ele pigarreou.
-ONDE ELA ESTÁ, CORTEZ? - berrou uma voz feminina envelhecida
-Nossa... Cê ainda consegue gritar alto assim ein? Quantos anos você tem mesmo?
-Cale a boca! Eu exijo respostas! Onde Rebecca está?!
-Eu não sei, dona, eu não faço a menor ideia! Eu já disse isso na semana passada, disse isso há dois dias e estou repetindo, EU NÃO SEI!
-Pois trate de saber. E fale direito comigo. Caso contrário nós vamos ter uma pequena conversinha que vai te colocar nos eixos - ameaçou
-Uma conversinha é? - disse, em tom de zombaria - E o que você poderia fazer comigo?
-Fique avisado. Ache Rebecca Myers, ou então reze para que ache um bom esconderijo que me impeça de te encontrar. Por que se eu encontrar você... Pode dar adeus ao que chama de vida!
A ligação foi interrompida. Cortez encarou a tela do celular por um tempo, confuso e desnorteado por causa da bebida, e então atirou o aparelho para longe, dando mais um gole e abraçando a garrafa vazia, deixando que a dor de cabeça destruísse sua mente aos poucos, até que finalmente conseguisse dormir.
***
-Sra. Myers? - Camilla se surpreendeu. A senhora em sua frente abriu um sorriso envelhecido.
-Oi minha querida - disse com voz simpática, erguendo os braços e abraçando Camilla, que aceitou o abraço. Ela cheirava a morangos e a naftalina. - Quanta saudade! Você tá linda
-A senhora está tão fofa como antes. Entre entre - Camilla sorriu, abrindo caminho e permitiu que a senhora, agradecida, entrasse em seu apartamento bagunçado. Ela andava com o auxílio de uma bengala e com as costas encurvadas. Camilla sempre achava impressionante que, fora as rugas e marcas de velhice, Rebecca e a avó eram praticamente gêmeas. - Me perdoe pela bagunça, eu não esperava visitas. Mas o que faz aqui?
-Não se preocupe querida, eu é que devia ter avisado que viria - ela se sentou no sofá, soltando ar, cansada, se livrando de umas peças de roupa de Camilla que inundavam o estofado. - Estou aqui para saber notícias da minha neta. Sabe onde ela está? Sei que vocês são muito próximas.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Mente Insana, Corpo Insano
Mistério / SuspenseBecca vive uma vida normal em seu trabalho de garçonete em uma lanchonete de Nova Iorque. Solteira, jovem, trabalhando ao lado de sua melhor amiga e recebendo um salário mínimo... Tudo parecia se encaminhar dentro dos conformes, até que em uma bela...