Capítulo 19 - Contagem Regressiva (parte 5)

70 10 110
                                    

Ainda faltando dois dias...

Logo após a saída de Violet, Rebecca e sua nova "amiga", Anne, estavam na companhia uma da outra. O que era extremamente desconfortável para Becca.

Mas, claro, elas duas não tinham muitas opções para escolher. O que lhes restava era conversar. E, acreditem se quiser, a forma como Anne falou da própria vida era surpreendente.

-Então, gracinha - disse ela, debochada. - Como você veio parar aqui? 

-Do mesmo jeito que você, eu suponho. Ele me perseguiu no caminho de casa, e me abordo. Quando dei por mim, estava no porão dele.

-Ah, sim, o porão! - ela riu em sentimento nostálgico. - Bons tempos aqueles. Mas, sem essa semelhança do porão, sinto dizer que eu não passei pelo mesmo "procedimento padrão".

-Então... Como chegou aqui?

-Vamos dizer que eu não vivia uma vida lá muito louvável, por assim dizer. Prepare-se para a história, gracinha.

***

Anne Hillary Rose vivia na periferia de Chicago. Era muito conhecida pela alcunha de "Anny".

Não teve uma infância muito agradável, e tinha zero paciência para a escola, largando o ensino médio na metade e trabalhando de bartender no período da noite, num dos bares mais polêmicos e violentos de toda a periferia. Mas apesar de todas as dificuldades, Anne era feliz, na vidinha que levava.

Bom... Era.

Certa vez, enquanto servia os clientes mais fiéis um pouco de cerveja, Anne viu uma figura memorável entrar pela porta do lugar. Ele se vestia como um executivo rico e jovem, o blazer abotoado em apenas um botão, colarinho aberto, sem gravata, e um ar de sensualidade provocante no delineado de seu rosto. Anne soltou um suspiro, distraída, e logo desejou aquele homem.

-Uau... - disse uma de suas colegas de trabalho. - O que ele quer aqui?

A surpresa da amiga era a mesma de Anne, mas ela se poupou de comentar. Estava ocupada demais, observando-o se aproximar dela e pedir alguma coisa. Sua distração a impediu de entender, e ela balançou o rosto.

-Perdão, o que disse? - perguntou.

-Uma cerveja, por favor. - Ele sorriu, e aquilo a matou. Seu coração parecia ameaçar explodir em seu peito.

-Claro, um instante - ela se virou e foi até o freezer. Pegou uma cerveja e entregou a ele, no balcão, evitando olhar diretamente em seus olhos.

-Obrigado - disse ele.

-Disponha

Ela se virou e correu para a cozinha, disfarçadamente é claro. Tinha ficado completamente sem reação, e estava agindo feito uma garotinha do fundamental que tinha acabado de falar com o amor da sua vida infantil.

-Anne, o que foi? - perguntou sua amiga, que a havia seguido.

-Eu não sei... - falou, e então começou a rir histericamente. - Eu sou tão idiota

A amiga dela raciocinou um pouco, e logo chegou a uma conclusão. Ela arregalou os olhos, surpresa. Então, riu.

-Ah, entendi tudo

As duas conversaram durante uns dois minutos, que foi o bastante para decidirem o que Anne iria fazer. Não acho necessário expor uma conversa de dois minutos que vai levar a o que todos nós já sabemos o que vai acontecer, apenas prestem atenção nos acontecimentos que se seguem a essa conversa.

Anne saiu da cozinha e foi atender novos clientes. Mas sua amiga foi mais rápida e os havia atendido antes. Não havia clientes novos, então ela, distraidamente, tomou um pano em suas mãos e começou a limpar o balcão, propositalmente próxima do homem que tomava uma cerveja e assistia o jogo de futebol na TV velha, pendurada num suporte que ameaçava cair a qualquer instante mas, misteriosamente, não caía. A magia dos bares velhos e precários, enfim...

Mente Insana, Corpo InsanoOnde histórias criam vida. Descubra agora