Capítulo 4 - Falsa sensação de liberdade

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O sabor da liberdade era excitante.

E agora que Rebecca o tinha provado, jamais desistiria de lutar até sentir novamente.

Ela prendeu a pequena lâmina entre os pés e começou a esfregar a corda que prendia seus pulsos contra ela. O medo a forçava a desviar os olhos para o alçapão a cada segundo. Só com a ideia de estar livre, seu coração já pulsava mais rápido. A corda estalou e se partiu, e o alívio da dor lhe conferiu um momento de prazer excitante. Rebecca agarrou a lâmina e cortou as cordas que amarravam seus tornozelos. Se pôs de pé, ignorando a dor dos ferimentos e correu até o alçapão. Apesar de não ser religiosa, rezou para todos os deuses existentes desejando que a entrada não estivesse trancada. Becca empurrou o alçapão, ele rangeu e se ergueu. Estava aberto.

A entrada para o porão dava numa espécie de armário de casacos amontoados em cabides, que exalavam o cheiro nauseante de uma colônia masculina usada, aparentemente, em excesso pelo psicopata que a havia sequestrado. Ela atravessou as roupagens e chegou até a porta. Ao encostar a mão na maçaneta, pronta para se libertar, seu coração quase parou ao ouvir o som de passos pesados no assoalho se aproximando do armário.

"Merda" xingou em pensamento, e se afastou, se escondendo atrás dos casacos.

Ela tentou acalmar seu coração, tentando se convencer de que tudo ficaria bem.

Os passos chegavam mais e mais perto, seu peito estava prestes a explodir, gotas de suor brotavam de sua testa e escorriam por entre seu rosto. A maçaneta girou levemente e toda a sua esperança, num instante, caiu por terra. E então... Silêncio. A porta não havia se aberto, e os passos pararam. Nisso, uma voz brotou do lado de fora... Uma voz feminina.

-Oi! Bom dia, eu acordei e não te vi... Vim pegar meu casaco, mas a porta está trancada

-Bom dia – soou a voz do sequestrador psicopata, e outros passos se aproximaram. Passos mais pesados e marcantes – Tudo bem, é que eu estava no banho, me arrumando para atender uma emergência no trabalho. Perdoe-me, geralmente eu não sairia assim, mas o assunto é urgente. Me permita pegar o casaco pra você.

Becca recuou o máximo que o espaço do armário permitia, enquanto o barulho da porta sendo destrancada parecia traçar seu destino para uma terrível morte. Sua mente já começava a viajar nos piores cenários possíveis. Ela cerrou os olhos e se agachou, torcendo para que ele não a visse. Aquele momento breve parecia ser eterno.

Os casacos começaram a fazer barulho, balançando nos cabides. O suspense a impedia até mesmo de respirar. Ela ousou abrir os olhos e quase gritou quando viu uma mão estendendo-se, como se fosse agarrá-la.

A grande e pesada mão mudou de curso e segurou um longo casaco sem mangas, bege e de tecido fino.

-Aqui está – a voz dele estava tão próxima e nítida que o tom grave a fez estremecer por dentro

-Obrigada – agradeceu a mulher, enquanto os passos se afastavam e a porta se fechavam. Rebecca se permitiu respirar fundo, aliviada, e deixar seu coração se acalmar. – A noite passada foi incrível... Espero poder repetir a dose qualquer dia

-Por que qualquer dia quando podemos marcar para... Amanhã à noite? Te pego às oito, pode ser?

-Tá marcado – ela riu – mal posso esperar

Ela encostou na porta o suficiente para conseguir ouvir o barulho dos dois se beijando. Ela o odiou ainda mais por isso. E começou a odiar a mulher que ela nem mesmo conhecia.

-E então... Eu tenho que ir para o trabalho agora. Não quero ser rude, mas gostaria de pedir para...

-Ah não, claro – a mulher riu – sem problemas, eu entendo

Mente Insana, Corpo InsanoOnde histórias criam vida. Descubra agora