Capítulo 8 - Contagem regressiva (parte 1)

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Duas semanas... 

A frustração maior de Becca naquela plena segunda-feira de manhã era simplesmente o fato de estar sem saco para nenhum planejamento. 

Durante a noite, havia passado mal. Alguma coisa não tinha se harmonizado direito em seu estômago. Resumo da história: vômitos, Violet segurando seu cabelo e Alex observando a cena se repetir cinco vezes num intervalo de duas às quatro da manhã.

E agora, de manhã, se antes estava com disposição para correr uma maratona, se sentia como se tivesse sido atropelada por dois caminhões e atirada de cima de uma montanha. Seu corpo doía, seu estômago revirava...E Violet ali, aplicando injeções constantes - a mando de Alexander - e dando pílulas brancas que, segundo sua enfermeira particular, iriam "regular seu intestino".

Foi um verdadeiro inferno. Os quatro dias que ela ficou de cama seriam cruciais para que ela elaborasse seu plano... Mas ela não se importou no fim. Ela esperou pacientemente que seu corpo parasse de doer e que seu estômago parasse de embrulhar, para que pudesse dar início de fato à sua fuga.

Dez dias...

-Bom, acho que você já está bem melhor - Violet respondeu com um sorriso superficial.

Becca respirou fundo, aliviada. 

-Finalmente... - ela já se sentia disposta novamente. Era hora de começar a trabalhar.

-Agora descanse bastante - Violet usou a mesma voz que usava para se dirigir a pacientes do hospital. Calma, tranquila, paciente... E um tanto infantil. - E amanhã você vai acordar muito mais disposta.

-Obrigada - disse ela, sorrindo. - Boa noite.

-Boa noite - a enfermeira sorriu de volta e saiu do quarto, fechando a porta. 

Becca revirou os olhos no momento que a porta bateu.

"Odeio ela"

E então esperou alguns minutos, para ter certeza de que Alex não iria surpreendê-la com um desejo de boa noite, para se levantar e colocar sua mente descansada para funcionar. As engrenagens em sua cabeça começaram a girar e a torcer. Doeu um pouco no início... Mas foi uma dor boa. Satisfatória.

O quarto era, essencialmente, uma suíte. Tinha um closet com banheiro... Casa de rico, enfim.

A princípio, nada ali lhe parecia ser útil de fato. Tudo o que ela via eram roupas caras, de grife, sapatos de executivo rico, produtos de higiene pessoal - muitos, para um cara cujo hobbie era sequestrar garotas inocentes no meio da noite - e umas toalhas. Nada que pudesse ser útil.

Ela vasculhou o closet, e vasculhou, e vasculhou mais ainda, olhando nas gavetas, nas roupas... E em um momento teve a ideia de conferir os bolsos das roupas, na esperança de que o psicopata super bem organizado estivesse esquecido, por mero descuido, uma arma enfiada no bolso de uma calça.

Obviamente, Alexander Cruz não seria capaz de tal feito. Tudo em sua casa era meticulosamente organizado, e ele pensava em tudo. Ela aprendera com o incidente do bisturi e sua falsa sensação de liberdade. Se houvesse alguma arma ali, seria parte do planejamento de Alex.

Foi então que ela sentiu um peso em um dos casacos. Não era tão pesado ao ponto de ser uma arma de fogo, mas ela achou que seria alguma coisa minimamente útil. Ela balançou os bolsos e enfiou a mão em um deles, agarrando o que parecia ser o cabo de uma faca, mas sem lâmina.

Becca puxou o objeto curioso, e então percebeu que não era uma faca, mas sim várias lâminas e apetrechos escondidos nas laterais. Um canivete suíço. Ela quase ficou contente e esperançosa, mas o sentimento trouxe em sua memória a mesma sensação de quando encontrou o bisturi dando sopa naquela maleta velha de primeiros socorros.

Mente Insana, Corpo InsanoOnde histórias criam vida. Descubra agora