Rebecca sonhou naquela noite. Sonhou que aceitava o convite de Ramón, mesmo ele sendo um sujeitinho desprezível e indigno da lembrança. Sonhou que ele dizia uma ou duas palavras bonitas (e o sujeito realmente tinha uma lábia daquelas) e que ela se sentia coagida a beijá-lo. Sonhou que ele a acompanhava para dentro de casa... E sonhou que lá, Alexander a esperava com uma arma em mãos, pronto para atirar no seu colega de trabalho e a levar para longe.
Ela acordou num grito de socorro. Em menos de dois segundos, Violet entrou com uma expressão preocupada, perguntando o que havia acontecido. O monitor cardíaco bipava feito doido, o coração de Rebecca parecia prestes a explodir. A enfermeira tentava acalmá-la, oferecer um copo d'água, mas tudo o que ela queria era se livrar de tudo aquilo. Tudo a incomodava de uma maneira inexplicável. A cama macia era feita de espinhos, o travesseiro como uma rocha, o cobertor inundado por abelhas ferozes que a ferroavam mil vezes por segundo, o ar que ela respirava era venenoso, a luz que vinha da janela queimava sua pele, ela não aguentava mais ficar ali. Tudo a fazia sofrer. Tudo a fazia querer morrer para se livrar daquele sofrimento. Rebecca se debatia na cama, Violet tentava acalmá-la, mas era impossível. A calma que ela sentiria só viria com a liberdade. Com a liberdade e nada mais.
Alexander apareceu na porta e correu para ajudar Violet. Ele usou toda a sua força para aprisioná-la em seus braços, enquanto a enfermeira injetava algo pelo acesso em seu braço. A agonia começava a passar, o desespero era substituído por uma paz e tranquilidade súbitas. Seus olhos reviraram e Rebecca tombou nos lençóis, apagada, destruída, derrotada.
***
-E agora? – Violet perguntou a Alex, cruzando os braços – Essa daí vai ser encaminhada para o Hospital? – ela disse com ênfase na palavra "Hospital"
-Não... Ainda não – ele falou, pensativo – Essa daí, como você diz, ainda vai me ser muito útil.
Violet sorriu e se aproximou de Alexander com intimidade surpreendente. Ela envolveu seu pescoço com os braços, entrelaçando-os, ficando bem próxima dele, de modo que as pontas de seus narizes se encostavam.
-Vai ser útil do jeito que eu sou útil? – ela sorriu, tendenciando seu tom de voz
-Ah, não – Alex sorriu – Você é unicamente útil para mim
Ele a puxou para perto e a beijou. Um toque suave de lábios que se tornaram um beijo quente, as mãos de Alex de repente puxaram a cintura da enfermeira para perto. Violet interrompeu o beijo, ofegante, e disse sorrindo:
-Vamos para o nosso... Cantinho do prazer
Alexander sorriu com a ideia, e os dois deixaram o quarto onde Becca estava desacordada.
***
Rebecca acordou, dessa vez sem sonhar. Já estava cansada de acordar e ficar acordada por pouco mais que cinco, dez minutos. Ela se sentia muito mais disposta, como se pudesse correr uma maratona sem nem suar. Nisso, sua barriga reclamou, sentindo falta de algo que há muito tempo não via: comida.
Ela puxou as cobertas para o lado e pôs os pés para fora. Quando se apoiou no chão, por um momento pensou que ia cair para não se levantar mais. A fraqueza lhe invadiu violentamente e seu estômago vazio embrulhou. Logo a disposição de correr uma maratona havia passado, e ela se encontrava dentro dos cobertores mais uma vez. Derrotada pela própria fraqueza. Isso a fez sentir mais ódio por si mesma.
Rebecca começou a sentir mais fome, mas não queria aceitar comida daquele sociopata doentio. Mas não podia arriscar passar horas e mais horas sem comer até que alguém, enfim, resolvesse aparecer e ela se humilhasse por migalhas. Ela definitivamente não queria isso. Então resolveu chamar por alguém.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Mente Insana, Corpo Insano
Misteri / ThrillerBecca vive uma vida normal em seu trabalho de garçonete em uma lanchonete de Nova Iorque. Solteira, jovem, trabalhando ao lado de sua melhor amiga e recebendo um salário mínimo... Tudo parecia se encaminhar dentro dos conformes, até que em uma bela...