-É esse o prédio? - Charles perguntou, acendendo um cigarro. Em plena manhã, ele e Ramón Cortez haviam dado início à investigação.
-Esse mesmo - respondeu Ramón.
Ambos estavam no Mustang preto antigo do detetive particular, estacionados na calçada oposta ao prédio onde Rebecca Myers morava. O maquinário dentro da mente de Charles trabalhava a mil por hora. Ele fechou os olhos.
O detetive, embora não fosse reconhecido pelas autoridades e pela mídia, era realmente muito bom e inteligente. Ele havia ficado famoso uns vinte anos atrás após resolver um caso quase impossível, mas depois disso ele ficou sumido, resolvendo casos pequenos e investigando maridos infiéis. Sim, a carreira dele havia caído de detetive que soluciona casos impossíveis para investigador de chifres. Mas quando Ramón apareceu em sua porta com um baita dever de casa para fazer, ele não poderia dizer não. Claro que nada era pela bondade do coração de Charles, mas ele tinha uma certa consideração pelo garoto - apesar do grande valor que Cortez devia.
Ramón o havia procurado cinco anos atrás, antes de começar a trabalhar na lanchonete para vigiar Rebecca Myers. O garoto estava com problemas. Simplesmente estava no lugar errado, na hora errada, com o pacote de cocaína certo. Precisava de ajuda para se livrar dos traficantes, mas não podia denunciar, levando em conta o fato de ele estar associado ao crime. Ele pediu ajuda, e o detetive Charles apareceu. Com a ajuda de Ramón - que lhe forneceu nomes, locais, pontos de retirada e chegada dos narcóticos -, Charles fez todo o trabalho e conseguiu garantir para a polícia uma das maiores apreensões de drogas da década. Mas, nas manchetes, o nome de Charles foi ocultado - para não dizer que fora completamente injustiçado - e todas as suas contribuições no caso foram dadas como "denúncia anônima". Claro, ele ficara possesso e abrira um processo contra a polícia, mas não deu em nada. Nunca ia dar. Pelos mesmos motivos que todos nós já sabemos - a não ser que você, leitor, seja um daqueles inocentes que acreditam na pura bondade das pessoas. Se você é um desses, sinto lhe informar que as coisas não são bem assim. Não mesmo.
-Você disse que ela seguiu o mesmo trajeto de sempre até em casa, correto?
-É bem provável. Como eu disse, perdi ela de vista quando sai para deixar Camilla.
-E a sua patroa já ficou sabendo desse seu vacilo? - Charles sorriu de canto. Ele sabia de toda a vida de Ramón, ou praticamente toda, e tinha pleno conhecimento de sua vida dupla. Mas, já que ele não era afetado de maneira nenhuma, era capaz de rir da situação.
-Ela tá uma pilha - Ramón revirou os olhos e tomou um gole da cerveja. - Se eu não achar Myers logo, é capaz de eu ser abordado na rua por uma vã preta sem marcas distintas, e dois homens de terno e óculos escuros me arrastarem para dentro. E no dia seguinte, ninguém sequer lembraria de minha existência.
O detetive abriu os olhos. Estava desenhando o trajeto todo em sua cabeça. Eles o fizeram no caminho até o apartamento dela. Finalmente chegou a uma conclusão inevitável. Eles precisavam de pistas, e não havia nenhuma ali no prédio. Não conseguiram a permissão para entrar, então se limitaram a observar o entorno.
-Estamos procurando no lugar errado. - Ele abriu a porta e saiu do carro, seguido por Ramón. - Vamos.
-Para onde? - ele terminou a cerveja, amassou a lata e a jogou longe, na rua
-Para a lanchonete - ele apertou os olhos ao sol e entrou no beco. - Temos que refazer o percurso a pé. Antes, precisamos de informação. Quero confirmar uma suspeita.
***
-O que vocês querem? - disse o dono da lanchonete, completamente impaciente, atrás do balcão de atendimento
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Mente Insana, Corpo Insano
Mistério / SuspenseBecca vive uma vida normal em seu trabalho de garçonete em uma lanchonete de Nova Iorque. Solteira, jovem, trabalhando ao lado de sua melhor amiga e recebendo um salário mínimo... Tudo parecia se encaminhar dentro dos conformes, até que em uma bela...