Surge uma esperança

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Estranho,

Desculpe-me pela demora da reposta, mas não estava conseguindo lidar com uma situação aqui. Não foi nada grave, pelo menos algo que possa se preocupar.

Eu pensei em contar para você o que aconteceu, mas internamente fiquei me perguntando se deveria mesmo.

Aff, fiquei dois dias pesando isso na balança e no final decidi que você merecia saber.Uma pessoa que eu considerava um amigo, quer dizer, ainda considero, se declarou. Ele acha que está apaixonado por mim.

Se fosse em outra época, eu estaria dando pulos de alegria, por que ele é lindo (muito lindo), engraçado... E de alguma forma consegue me entender, claro que não tão bem quanto você.

A questão é que desde o acontecido, quando eu não falei nada, por que fiquei tão surpresa que as palavras me fugiram, ele não está falando comigo.

Não falei sobre isso com ninguém, a não ser você, então se não for pedir demais, me dê alguma ideia de como resolver isso. Como falar para um cara tão legal que meu coração já não está mais comigo?

 

Ivy.

 

 

Como falar para um cara tão legal que meu coração já não está mais comigo?

A última frase ainda estava martelando na minha cabeça. Meu Deus, será que isso significa o que penso que significa? A quem ela está se referindo quando diz que seu coração já tem um dono?

Mil coisas passam pela minha mente agora, e acho que isso foi o mais perto que ela chegou de falar sobre seus sentimentos em relação à nós dois. Quero acreditar que esse dono sou eu. Quero acreditar que finalmente ela deixou sua muralha cair e está cedendo espaço. Mas como ter certeza?

Em quem é esse cara a quem ela se refere? Por que não mencionou seu nome? Preciso saber quem é ele, e fazê-lo cair fora, abandonar a luta que já perdeu antes mesmo de começar.

Ainda que eu saiba da existência de um concorrente, fico feliz em saber que ela confiou em mim, mesmo não sabendo a minha identidade, Ivy pediu meu conselho sobre como agir. E isso é mais do que eu esperava.

Eu não sou a melhor opção para isso, já que também estou passando por uma situação parecida. Até nisso, temos algo em comum.

Depois do que aconteceu no parque, Raquel meio que andou me evitando. Não tiro sua razão, afinal, ela esperava que eu correspondesse aos seus sentimentos. Quando saímos da roda gigante, ela alegou que estava se sentindo mal e voltamos para casa mais cedo.

Jardel não entendeu nada quando nos encontrou. Estava louco para se divertir, mas não queria ficar sozinho, então voltou com a gente. Assim que chegamos em casa, Raquel se despediu com um tchau sem graça, guardou a chave do carro no bolso e seguiu para sua casa.

Também não a procurei para conversar. Seria o melhor a fazer. Se eu não me importasse que estivesse magoada, logo sua paixonite passaria. Meu coração já está ocupado, apenas uma pessoa ocupa meus pensamentos... Ivy... Minha adorável Ivy.

Eu só espero que essa confusão não afete minha vida ou o meu trabalho aqui. Apesar de sentir saudades de casa e uma necessidade louca de estar perto de Ivy, eu gosto do meu trabalho, de ficar com as crianças, de tentar de alguma forma, educar elas para o futuro.

Fico imaginando a reação dela ao me conhecer. Será que saberá separar minhas duas metades? A primeira quando eu só me importava comigo mesmo e a segunda depois de conhecê-la e ver a garota excepcional que ela é.

São tantas questões, que às vezes me apavoro. Não sou covarde e não estou assumindo que estou com medo.

Ok, talvez um pouco de insegurança, mas quem nunca se sentiu assim?

Com esse pensamento, guardo sua carta, mas que preciosa, e sigo para mais um dia de aula. Meus pequenos ficam ansiosos quando demoro a me juntar a eles, mas ler a carta de Ivy ainda está no topo da minha pirâmide.

Falo mentalmente com ela e prometo responder sua carta quando voltar para meu quarto. Preciso pensar direito como ajudá-la a mandar o tal amigo se mancar e tirar seu time de campo, usando palavras doces e que não a deixe ainda mais pilhada.

*****

No final da tarde, quando a última criança é levada pelo pai, eu solto um longo suspiro de dever cumprido. Apesar de gostar do meu trabalho, as crianças me dão uma canseira. Mas não estou reclamando, que fique bem claro.

Estou terminando de guardar meus livros de história, quando Raquel entra na sala. Ela não parece mais triste ou abalada. Não que eu quisesse vê-la triste.

- Oi Vinny.

- Oi Raquel, estou surpreso com a sua aparição. Desde aquela noite...

- Por favor, não me lembre disso. Não sei o que deu em mim para pensar que você... Enfim, vim me desculpar e saber se não quer tomar um sorvete comigo. Eu pago.

- Bem, eu não sei. Eu pretendia ir direto para casa e descansar um pouco.

- Qual é Vinny, meia hora não vai fazer diferença. — Disse me lançando aquele olhar que eu já conhecia. — Vamos lá, só um sorvete e depois te deixo ir. Juro. — Raquel fez o sinal da cruz sobre os lábios.

- Ok, um sorvete, mas depois preciso ir para casa. — Me dei por vencido, afinal, um sorvete não seria o fim do mundo.

Enquanto aguardávamos para ser atendidos, Raquel falava sobre coisas supérfluas, nada que chamasse realmente minha atenção. Coisas de garotas que estão se descobrindo. Eu pelo menos achava que era isso.

Eu apenas balançava a cabeça em concordância, sem nem mesmo prestar atenção ao que ela estava falando. Quando não era isso, eu ria, como se estivesse achando engraçado seus comentários.

Não dei muita importância, por que meus pensamentos estavam viajando em direção à uma certa garota loira de cabelos cacheados com sorriso capaz de convencer até o presidente dos Estados Unidos que cerveja quente é gostoso.

-... Então iria ser muito legal, você não acha?

Como não falei nada, Raquel deu um tapa na minha mão, levando embora minha última imagem de Ivy.

- Você pelo menos ouviu alguma coisa de tudo que eu falei? — Perguntou irritada.

- Me desculpe Raquel, o que estava falando mesmo? — Falei olhando agora realmente para seu rosto.

Raquel bufou, cruzou seus braços e me fitou.

- Eu estava dizendo que semana que vem, vai ter um eclipse lunar, onde todo mundo aqui se reúne para ver. Poderíamos ir ver juntos...

- Eclipse lunar?

- É Vinny, aquilo que acontece quando o sol e a lua se cruzam. Nunca estudou isso na escola?

- É claro que estudei e eu sei o que é um eclipse, mas não acho uma boa ideia nós dois juntos de novo, e você sabe por que.

- Vinny, pode relaxar ok? Minha paixonite já passou. — Ela sorriu. — Estou apenas te convidando como amigo. Você ainda é meu amigo, certo?

- Sim, eu sou seu amigo...

- Ótimo! Então como meu amigo, é sua obrigação me acompanhar. Todo mundo vai. Aposto que até seus alunos.

Com essa jogada, o que mais eu poderia fazer?

- Ok, eu vou.

- Maravilha — Raquel bateu palmas, como sempre fazia quando conseguia o que queria.

Cartas para você - Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora