Sem pistas do remetente

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Termino de ler a carta e fico olhando pra ela, como se a qualquer momento ela fosse falar o nome do remetente. Olho novamente o envelope, procurando alguma coisa que denuncie a pessoa que me escreveu, mas não há nada.

Uma curiosidade me domina. Quero saber quem me conhece tão bem e fala comigo como se soubesse todos os meus problemas. Várias perguntas passam por minha cabeça. Como ele descobriu onde estou? E por que só agora resolveu me procurar?

Volto a ler a carta, agora me apegando a cada detalhe. Procuro em minhas memórias todos os garotos com quem saí e não vem nada ha minha mente. As poucas festas que eu me lembro, eu estava na companhia de Diogo... Ai meu Deus, será que é algum de seus amigos?

Largo a carta em cima da cama e vou até a sala de André falar com ele. Bato na porta e espero alguém autorizar a entrada. A porta se abre e uma senhora loura baixinha e rechonchuda me oferece um sorriso.

- Pois não Ivy?

- Eu queria falar com André, será que ele pode me atender?

- Estamos em reunião. É algo urgente ou pode esperar um pouco?

- Não, eu só queria lhe fazer uma pergunta, mas posso esperar até ele ter tempo. Obrigada Rosa, vou voltar para o meu quarto. – Agradeço e faço o caminho de volta para meu quarto.

Pego a carta, devolvo para o envelope e coloco dentro da gaveta do criado mudo que está colado à minha cama. Não quero saber da carta, pelo menos até falar com André. O medo que algum dos amigos de Diogo tenha me escrevido me apavora.

Estou a quase dois meses sem grandes crises de abstinência. Quando sinto que vou pirar com a vontade de ter algum tipo de droga, procuro André e juntos bolamos alguma coisa que mantenha minha mente ocupada.

Há dias que a vontade é tão louca, que chego a pensar que não vou conseguir. Fico em uma ansiedade louca e começo a caminhar de um lado para o outro no meu quarto. Minhas lembranças me torturam e tenho uma vontade louca de sair correndo e me esconder no primeiro lugar escuro que encontrar.

Nas reuniões conversamos sobre essas vontades que ainda temos e as dificuldades para nos controlar. Sinto-me aliviada quando percebo que não sou a única a passar por isso.

Balanço a cabeça, tentando espantar os pensamentos negativos que tentam me assombrar. Fecho a porta do criado e volto a me sentar na cama.

As palavras do misterioso remetente ficam martelando na minha cabeça... Sei que não deve estar tão fácil assim para você depois de tudo o que passou nas mãos do Diogo.

Como ele sabe do meu sofrimento? E até onde ele me conhece para ter a liberdade de me escrever? E por que me mandar uma carta? Algo tão ultrapassado?

Minhas mãos coçam para pegar a carta novamente, mas estou decidida a falar com André antes. Levanto-me e vou para o banheiro tomar banho. O jantar vai ser servido às vinte horas. Pontualmente. Uma das regras que demorei a me acostumar.

Depois do jantar, ficamos mais meia hora conversando e depois voltamos para nossos quartos. Nas outras noites, eu demoro a dormir, mas hoje é sexta. Amanhã é dia de visita, e seguindo a agenda que Belinda fez, é sua vez de vir me visitar.

Fizemos uma lista de revezamento, já que não posso receber minha família e meus amigos ao mesmo tempo. Temos apenas duas horas semanalmente para receber visitas, e eu aproveito até o último minuto.

Depois do banho, coloco um vestido confortável, desses que mais parecem um pijama. Não preciso me preocupar em chamar atenção dos garotos. Aqui estou tentando aprender que mais é menos.

Cartas para você - Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora