Cartas para você - Livro 2

Desistir? Nunca!!

Acabou antes mesmo de começar.

As palavras de Ivy ainda estão martelando na minha cabeça, com um CD arranhado que fica preso no mesmo verso.

Você faz parte de um passado que eu quero esquecer.

 

Achei que poderia seguir com você... Mas não dá

 

Você não é o que eu pensava ser...

 

Palavras duras, que se eu não tivesse ouvido da própria Ivy, duvidaria até o inferno que seriam verdadeiras. A maneira como ela falou, agindo com se eu fosse um total estranho – estou sendo irônico agora – como se o tempo em que ficamos trocando cartas não tivesse existido tirou o meu chão.

Para Ivy, eu sou o Pedro, traficante e amigo do cara que acabou com a sua vida. Eu sou um fantasma em sua vida. Como posso lutar com algo que sempre estará entre nós? O fantasma do Diogo sempre seria algo que a lembrará todos os dias o quanto ela foi destruída.

E mesmo sabendo que ela está certa em fugir, ainda machuca com uma brasa tocando o meu corpo, a maneira como ela olhou para mim. Seus olhos tão expressivos falaram muito mais que sua boca. E o medo que sentiu de mim, me fez parecer pior do que um bandido.

Nada doeu mais do que vê-la indo embora com Kadu sem olhar para trás uma única vez. Eu queria ter impedido-a, queria ter feito qualquer coisa que a impedisse de ir embora, mas se ela já tinha tomado sua decisão, nada do que eu fizesse ou falasse nesse momento, impediria sua partida.

E por mais que a razão grite que eu devo esquecê-la e seguir minha vida, eu não quero e não posso aceitar que tudo termine assim, antes mesmo de ter um tempo para conversar. Se Ivy pensa que vou desistir dela assim tão fácil, ela está muito enganada. Eu perdi a luta e não batalha.

Nada irá me impedir de alcançar seu coração e tirar dele qualquer vestígio de medo e desconfiança que ela possa ter adquirido com a descoberta da minha identidade.

- Vinny, vai ficar tudo bem... – Disse Raquel tocando meu ombro.

- Tire a porra da sua mão do meu ombro, garota!. – Falei virando-me para ela e lhe entregando toda a minha raiva.

- Qual é, vai brigar comigo agora?

- Isso tudo é culpa sua.

- Culpa minha? Ela te manda pastar e a culpa é minha?

- Se você não tivesse mexido nas minhas cartas, escrevido aquelas mentiras, nada disso teria acontecido. – Falei esquecendo que as pessoas pudessem nos ouvir.

- Quer mesmo acreditar nessa ilusão? Sua amada Ivy, iria correr daqui de qualquer jeito. Não viu a maneira como ela te olhou depois de descobrir toda a verdade?

- Ela não iria reagir assim se eu tivesse feito como eu tinha planejado, mas você com esse nariz e a sua obsessão por mim, estragou tudo. Eu a perdi.

- Você não pode perder algo que nunca teve. A tal Ivy nunca foi sua, assim como você nunca foi importante para ela. Quando vai acordar desse sonho e olhar ao seu redor? Você precisa de alguém que te compreenda e te aceita como é.

- E aposto que essa pessoa é você. – Falei com ironia. – Acorda Raquel, se toca e entende de uma vez por todas que EU NÃO QUERO VOCÊ.

Minhas palavras saíram tão expressivas, que Raquel deu um passo para trás. Quem sabe dessa vez, depois de uma sacudida, ela acordasse e percebesse que eu nunca, jamais iria vê-la como mulher.

- Você é um grande idiota Vinny... Grite comigo o quanto quiser, mas você sabe da verdade, ela é uma garota mimada que nunca vai querer um pobretão, traficante e mentiroso.

- É incrível a opinião que tem sobre mim e ainda assim não para de correr atrás. – Eu falei cruzando os braços sobre meu peito.

- Você tem razão... Talvez eu seja burra demais para não perceber o perigo que você, mas ainda assim, sou eu que fiquei aqui do seu lado. Enquanto ela foi embora com um cara gostoso e rico.

- Ivy não liga para dinheiro... E vou ter que concordar com você... Talvez seja burra demais para se apegar a uma ilusão. Não sou o príncipe que está procurando, sou o lobo mal... Na verdade, sou pior do que isso. Então fique longe. – Falei enquanto me distanciava dela.

- Espera Vinny...

- Por que não para de me chamar de Vinny? Já sabe o meu nome mesmo. Último aviso Raquel, fique longe de mim. Não vai querer conhecer o meu outro lado.

Com isso, Raquel parou de tentar me alcançar, ficando parada a onde estava, enquanto eu seguia para o meu quarto.

Quando entrei, olhei direto para minha cama onde Ivy tinha depositado suas cartas. Peguei-as e levei ao meu nariz. Mesmo que suave, eu podia sentir o cheiro do seu perfume. Ela ainda usava o mesmo. Certos hábitos ainda andavam com elas.

Fui até o guarda-roupa e peguei uma caixa onde guardava suas cartas. Iria guardar junto com as outras para entregar a Ivy no momento certo. Iria esperar até que a poeira baixasse para tentar outra aproximação.

Eu não posso contar mais com a ajuda de Kadu. Depois da nossa briga, ele estava super protetor com Ivy, e tentar me aproximar dela, será o meu maior desafio. Mas não vou desistir, não posso fazer isso comigo ou com ela.

Ivy pode até não saber, mas nascemos um para o outro. Ela é a minha metade e se eu não for feliz com ela, não serei com mais ninguém. Isso é fato. E não estou me comportando como um psicopata.

E se eu não posso contar com a ajuda de Kadu, ainda resta uma pessoa que não me negá ajuda depois de contar toda a minha historia com Ivy.

Nanda.

Ela é amiga de Ivy e tenho certeza que ela quer o seu bem estar tanto quanto eu. E a conhecendo como a conheço, ela vai querer ver um final feliz da sua amiga, e não querendo me gabar, eu sou esse final feliz.

Tudo que eu preciso é entrar em contato com Nanda e pedir sua ajuda. Implorar se for preciso. Sei que fazendo isso, estarei correndo o risco de ser pego em algum momento, mas em nome do amor que sinto por Ivy, é grande e forte o bastante para arriscar.

Nunca pensei que diria isso, mas quando amor te pega de jeito, você pode lutar o quanto quiser que nada vai fazer com que você se afaste. E é isso que eu sinto, por mais que tudo indique que só vou me ferrar, eu quero acreditar que eu tentei de tudo pelo amor.

Tiro a camisa e vou para o banho. Preciso relaxar e colocar minhas ideias em ordem. Mas breve do que Ivy pensei, eu estarei chegando para provar que estou disposto a tudo para ser merecedor do seu amor.

Não sou mais o mesmo de antes. Deixei de ser o moleque irresponsável e amadureci. Demorei um pouco, tive alguns contratempos no caminho, lições que tive de aprender da maneira mais difícil.

Uma vez meu pai falou que quando tudo vem fácil demais, vai embora rápido. Ivy é um ótimo exemplo, por meses fiquei tentando me aproximar, deixei que ela me conhecesse até onde fosse possível. Não foi fácil fazer com que ela se abrisse.

Ela conhecia o antigo Pedro, era isso que a assustava tanto. Estava na hora dela conhecer o novo eu mais maduro. O cara que irá ao fim do mundo para que seu sorriso volte e que ela nunca mais precise de ajuda para se reerguer.

Com esse pensamento entro debaixo do chuveiro. Um bom banho e uma noite de descanso era o que precisaria para elaborar uma nova maneira de conquistá-la. Seria o tão famoso tudo ou nada.