Esperança

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Forasteiro

Passei tanto tempo me escondendo atrás de festas, bebidas e garotos que hoje me sinto perdida e o pior de tudo, sem saber como me encontrar.

Você conseguiu ver através da máscara que usei e isso me surpreende,  você foi o primeiro e único a perceber.

Por mais que eu queira abrir meu coração para você preciso dar um passo após o outro. Eu sei que posso ser muito feliz e alcançar grandes sonhos, mas no momento estou esperando minhas asas crescerem.

Tudo que você tem me dito é maravilhoso e me enche de esperança,  e mesmo que você também tenha problemas,  sinto que posso aprender com você e viver coisas novas.

O meu maior receio é você não poder esperar a minha cura. Eu peço aos céus que você tenha fé em mim e paciência.

 

Ivy 

Esperei dias por essa carta, pensando a todo o momento que talvez ela não fosse me responder. Mas aqui está ela... Sua carta. Suas palavras são carregadas de emoções, e todas a prendendo ao passado. O que eu não daria para estar agora ao seu lado. Quero ver seu sorriso de volta, aquele que sempre me iluminou quando eu estava entregue à escuridão.

As imagens que mais dominam meus pensamentos são pequenos gestos que ela fazia quando estava nervosa e achava que ninguém estava vendo. Um olhar atravessado quando via algo que a deixava intrigada. Suas bochechas vermelhas quando ficava nervosa ou zangada. A maneira como ficava enrolando uma mexa de seus cabelos no dedo quando o professor falava mais que o padre na missa de domingo.

São gestos como esses que me fazem querer ter ela perto de mim. Quero poder tocar seu rosto quando estiver prestes a beijá-la. Quero capturar o sorriso descontraído e debochado quando ela fala uma besteira e todos acham engraçado. Quero até mesmo fazer a cena mais idiota do mundo que é andar de mãos dadas na rua.

O que ela diria se me conhecesse hoje? Iria me tratar de maneira diferente? Iria me ignorar, como me fez por meses seguidos? Confesso que o meu medo de contar a verdade, seja simplesmente o fato que ela não queira me dar uma chance.

Ainda não é o momento de me apresentar. Como ela mesma disse, ela está procurando seu caminho. Eu quero que ela faça isso, que se encontre novamente. E quando isso acontecer, eu quero ser o primeiro que ela verá no final da estrada.

- Não acredito que você ainda está aqui lendo essa carta novamente. – Raquel entra no meu quarto sem bater na porta.

Ela tem a mania horrível de fazer isso. Qualquer dia desses, corro o risco dela me encontrar sem roupa. O que seria uma cena bem engraçada.

- Ainda não aprendeu a bater na porta Raquel? Eu poderia estar sem roupa.

- Uau. Quando vou ter essa sorte? – Ela fala rindo.

- Raquel, você tem dezesseis anos, e se me lembro bem, seu pai é muito ciumento... Se ele pelo menos sonhar que você anda invadindo meu quarto...

- Nunca invadi seu quarto. O problema é que você sempre deixa a porta aberta.

- Eu não durmo aqui sozinho, veja ao seu redor, quantas camas você está vendo além da minha?

Ela olhou para as camas, mas não respondeu.

- Você precisa parar de fazer isso. Eu gosto do meu emprego e pretendo ficar aqui por um bom tempo. Se seu pai pegar marcação comigo por sua causa, vou ter que ir embora. É isso que você quer?

Cartas para você - Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora