Ponto final

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Finalmente chegou a tão sonhada sexta-feira. Meu Deus, que agonia eu passei nesses últimos dias. A ansiedade e o medo do encontro, junto com os fantasmas que estavam me assombrando desde que André me falou que eu iria sair em breve, estão me matando.

A minha última visita foi a da Belinda. Ela veio se despedir, estava de viagem marcada para Nova Iorque com os pais e não pretendia voltar tão cedo. Ela estava um pouco abatida, na verdade, ela estava péssima. Algo estava incomodando, mas em nenhum momento ela deixou escapar algo. Ficamos apenas conversando sobre a minha saída.

Ela queria esperar até eu sair para comemorar, mas implicaria cancelar sua viagem. Coisa que eu não poderia pedir para ela fazer. Teríamos todo o tempo do mundo para comemorar quando ela voltasse. Então insisti para que ela viajasse.

Estava terminando de me arrumar depois de experimentar centenas de roupas até encontrar uma que me deixasse mais adulta, ou pelo menos adolescente. Na verdade, eu queria impressionar um certo alguém. Embora eu não soubesse como fazer isso.

Meus pais foram os únicos que permiti que viessem me buscar. Queria ter o máximo de tempo com meu Estranho. Esperava que meus amigos entendessem. Não cheguei a falar a verdade sobre o que eu estava esperando, apenas dei uma desculpa de que não queria tirar eles dos seus afazeres vindo aqui me buscar.

Não é que eu não os queira aqui, apenas quero estar com o meu Estranho o máximo de tempo que eu puder, já que não sei quanto tempo teremos juntos.

Ando no quarto de um lado para o outro. Tenho a impressão que a qualquer momento um buraco vai se abrir e eu irei cair, tamanha é a minha ansiedade. Meus amigos da clínica vêm se despedir, rola um pouco de choro, mas nada tão escandaloso. Gustavo é o último a vir falar comigo. Ele está apreensivo, e nem é preciso perguntar para saber como ele está se sentindo.

- Em breve será você. – Falo enquanto lhe abraço forte.

- Não estou tão ansioso assim.

- Mas deveria. Me liga quando sair e vamos fazer alguma coisa juntos antes de você sair de vez da cidade.

- Só precisa deixar seu número. – Ele ri e eu me toco que nunca trocamos nossos números.

- Que cabeça a minha. – Digo enquanto dou um tapa na minha testa.

Vou até ao meu e agora antigo criado mudo e pegou uma caneta dentro da gaveta. Como não encontro papel, volto para Gustavo, pego sua mão e escrevo em sua palma.

- Vê se não esquece.

- Eu não vou esquecer. – Gustavo me dá um beijo no rosto antes de sair do quarto.

Quando está quase fechando a porta, ele fica sério por alguns segundos antes de falar.

- Ivy, nunca se esqueça, você é mais forte do que pensa. Não deixe mais ninguém te machucar. Você merece mais. Muito mais. – E depois sorri de novo.

Eu devolvo o sorriso e ele vai embora de vez.

Pouco minutos depois, André bate na minha porta. Estou com a minha mala pronta perto da porta aguardando. Não sei quem eu esperava entrar no meu quarto, meus pais ou o meu Estranho. Tendo quase certeza que ele não apareceria assim sem pedir que alguém me avisasse primeiro, mas continuo nessa esperança.

- Seus pais já chegaram. Estão na recepção te esperando.

- Só meus pais? Ninguém mais?

- Só. Achei que você tinha dito que seus amigos não viriam.

Cartas para você - Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora