A notícia

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Minha Ivy,

 

Agora tenho certeza de que não sofro com problemas no coração, e de infarto eu nunca irei morrer...

Falo isso por que depois que recebi sua carta, sua confissão, meu coração quase se sentiu como se estivesse no meio da bateria de uma escola de samba. Soa idiota falar isso?

Bem, não importa. Na verdade importa muito. Sabe há quanto tempo estou esperando por isso? Ouvir você confessar que já me ama?

Tive até que reler a carta para ter certeza que eu havia entendido direito. Obrigado por confiar em mim de olhos fechados, e juro que jamais faria algo que pudesse lhe magoar, eu me mataria primeiro antes que isso acontecesse.

Tem horas do meu dia que chego a ouvir o som da sua voz. Aquela risada que sempre dá e parece que vai parar de respirar de tanto rir. Você é sempre tão intensa, e só me faz querer ser o cara especial, aquele no cavalo branco.

Ok, eu sei que você não acredita em príncipe encantado, e olha que estou longe de ser um. Mas quero ser aquele que vai libertar você da sua maldição. Eu quero te fazer feliz, e estou preparado para isso.

Como você me pediu, e não há nada que eu não pudesse fazer para te fazer sorrir, estou enviando algo meu, muito particular e que só poucas pessoas sabem... Espero realmente que goste.

Até breve, seu F.

 

 

Ok.

Surtando de vez em 3...2...1...

Seguro a folha de desenho em minhas mãos e ainda não consigo acreditar. Sou eu. Sim, com certeza sou eu.

Olha a assinatura no final da folha... Seu F.

Volto a olhar mais uma vez para o desenho e ainda estou embasbacada. Quando eu pedi algo que me lembrasse ele, eu imaginei qualquer coisa, mas isso... Fugia totalmente.

Era o meu desenho. Meu estranho havia me desenhado. Estava perfeito. Cada detalhe trabalhado... O formato do meu rosto, meu sorriso, meus olhos... Tudo. Como eu poderia não surtar agora?

Fiquei andando pelo quarto olhando para o desenho por tanto tempo que acho que perdi a noção do tempo. Eu tinha que colocá-lo em um lugar especial, onde eu pudesse olhar e sempre lembrar a quem pertencia.

- Já sei! — Falei enquanto andava em direção à porta.

Arranquei meu desenho, na verdade, eram só rabiscos perto do desenho que eu tinha recebido. No lugar coloquei o meu retrato. Afastei-me um pouco para ter uma visão de como ficaria. Estava... Estava... Onde deveria estar. De agora em diante, seria a primeira coisa que eu veria quando abrisse os olhos.

A porta abriu e um André sorridente entrou. Na verdade, ele sempre estava sorrindo. Parecia que tomava o soro da felicidade todos os dias.

- Bom dia, pelo sorriso posso imaginar que trás boas notícias. — Chutei.

- Sim, algumas.

- E veio compartilhar comigo por que sou sua amiga ou... — Fiz sinal para que continuasse.

- Em tese sim, mas a boa notícia é mais para você do que para mim.

- Humm. Deixou-me curiosa agora. O que poderia ser uma notícia boa para mim?

- Sua saída.

Fiquei parada olhando para ele.

- O que disse? Acho que perdi alguma parte da sua frase.

André riu e entrou totalmente no meu quarto.

- Fizemos uma reunião, como sempre fazemos para avaliar a evolução de cada um aqui dentro e chegamos à conclusão que você já está preparada para o convívio normal.

Eu me afastei como se tivesse recebido a notícia de sentença de morte.

- Não, não. Vocês estão errados...

- É claro que não estamos. Eu tenho acompanhado você pessoalmente. Votei em sua alta o mais breve possível.

- Não André, você precisa voltar atrás e desfazer isso.

Eu estava em pânico.

- O que está falando Ivy? Eu te acompanho desde o primeiro dia. Você só evoluir com o tempo. As suas seções sempre me deixaram confiante de que ficaria pouco tempo aqui.

- Eu não quero sair André... Eu...

André segura nos meus ombros e me faz encará-lo.

- Ivy, o que está acontecendo? Que medo é esse? Achei que estava louca para sair daqui, continuar com sua vida de onde parou...

- Eu sei que sempre falei o quanto queria minha vida de volta, mas eu pensava que iria demorar mais um pouco... Estou com medo.

- Medo de quê minha criança?

- Do mundo lá fora, da realidade, das pessoas, dos seus julgamentos...

André me puxou para um abraço e eu aceitei, por que era tudo o que eu precisava.

- Minha criança, você não precisa ter medo. Na verdade, precisa sim, o medo faz parte do amadurecimento. Isso quer dizer que você cresceu, está mais forte.

- Não estou mais forte, só em pensar no que vou enfrentar quando sair daqui,começo a entrar em pânico.

- Olhe para mim Ivy. — Disse André me afastando para que nossos olhares se cruzassem. — Acha que é a primeira a pensar assim?

- E não sou? — Falei meio chorosa.

- Claro que não. Já passei por cenas assim várias, milhares de vezes. E sabe o que tirei delas?

- Não.

- Experiência. Aprendi com cada um que passou aqui. Vocês se acham fracos, incapazes de sobreviver fora daqui... Mas estão errados, você está errada. Ivy, minha criança, você é mais forte do que pensa.

- Não sou não. — Fiz bico. — E pare de me chamar de criança, como se eu tivesse doze anos.

Ele riu.

- Ok, eu para de te chamar de minha criança, se você parar de pensar que merece menos do que o melhor.

- Falar é fácil. Não é você que todos olharão e apontarão como a fraca que fui ao me envolver com as coisas erradas.

- Que atire a primeira pedra quem nunca errou, ou algo do tipo. — Ele riu. - Somos humanos, estamos sujeitos a cometer erros, milhares de erros até o final de nossas vidas.

- Agora está falando como o meu pai.

Ele riu novamente e eu também.

- Vou deixar você sozinha agora, ok? Preciso falar com outras pessoas também. Te vejo mais tarde no jantar.

André depositou um beijo na minha testa e depois foi embora. Fui até a minha cama e me joguei nela. Precisava pensar. É claro que sempre pensei no dia em que iria sair, mas agora que o dia realmente tinha virado realidade, eu estava apavorada.

Cartas para você - Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora