Cartas para você - Livro 2

Oi... Eu sou o Estranho

Muitas coisas estavam passando pela minha cabeça.

Primeiro era o fato de Kadu está socando a cara de Pedro e ele não estar revidando.

Segundo, era o que Pedro estava fazendo aqui, e por que estava apanhando de Kadu?

E terceiro e último, que diabos os dois estavam fazendo aqui no mesmo lugar que eu e por qual motivo?

- Alguém pode me explicar o que está acontecendo aqui? – Falo finalmente formulando uma pergunta.

- Ivy, o que está fazendo aqui? – Pergunta Kadu enquanto Pedro continua parado como uma estátua.

- Odeio quando me respondem com outra pergunta. – Falo diretamente para Kadu. – Eu perguntei primeiro, então trate de me responder.

- Eu vim atrás do Pedro...

- Por motivo... – O induzo a terminar a minha frase.

- Pelo motivo mais óbvio.

- Que seria?

- Pelo mesmo motivo que fez você entrar naquele avião e vir atrás dele.

- Eu não vim atrás do Pedro. Vim atrás do idiota que me fez acreditar em uma história de conto de fadas que nunca existiu. – Falo um pouco zangada.

- Então viemos atrás da mesma pessoa. Mas acho que vai ter que entrar na fila. Eu estava prestes a quebrar a cara dele. – Diz kadu.

- O que me leva a perguntar o porquê você estava batendo no Pedro... Espera um minuto... Você disse viemos atrás da mesma pessoa?

Então vem aquele momento em que seu mundo para, como em um filme de TV onde toda a verdade vem a tona, e é jogada bem diante da sua cara. Levei menos de cinco segundos para ligar uma coisa à outra...

Eu vim atrás do Estranho e no seu lugar encontro Pedro. O cara que trabalhava para Diogo, e que tinha uma queda pela Nanda. O mesmo cara que me desamarrou e depois correu para salvar minha amiga. O mesmo cara que sabia tudo sobre meu relacionamento e as minhas fazes.

Eu congelo, ou acho que congelo, pois nesse momento começo a ver tudo o que eu vivi e estou prestes a entrar em choque quando sinto o braço de Kadu me segurar antes que eu caia.

- Ivy, você está bem? – A voz dele tem o ar de preocupado.

Não vou desmaiar, isso eu sei. Mas só fato de saber que o meu Estranho é nada mais do que o Pedro, as minhas pernas perdem o equilíbrio.

- Estou bem. – Tento afastar as mãos de Kadu e encaro Pedro.

- Não foi assim que planejei o nosso primeiro encontro. – Ele fala quase que com medo da minha reação.

Acho que ainda estou em choque, por que não consigo fazer mais nada além de olhar para Pedro. Parece que estou vendo um fantasma. Bonito... Mas ainda assim um fantasma.

Seus cabelos já não os mesmos. Estão mais curtos, e a barba por fazer lhe dar um ar mais maduro. Aquele cara com ar de debochado e metido não existe mais. Estou olhando para ele, mas não reconheço o Pedro.

Ao mesmo tempo em que não reconheço o Pedro, algo me fez lembrar que é o mesmo que me enviou todas as cartas durante semanas e que me fez acreditar que eu era mais forte do que aparentava.

E quando lembro das cartas, lembro do motivo que fez sair de casa fugida após sair da reabilitação, correndo o risco de ser internada em um hospício assim que meus pais colocarem as mãos em mim, simplesmente para olhar na cara do idiota e...

Não sei o que falar, não sei como agir. Fiquei ensaiando o que iria falar, mas agora depois de descobrir quem ele é, as palavras simplesmente não saem da minha boca.

Ele também quer falar alguma coisa, mas fica igual a um peixe quando está procurando ar, só abrindo e fechando a boca.

- O que está acontecendo aqui? – Uma voz feminina corta o ar. – Meu Deus Vinny, você está sangrando... – Ela tenta se aproximar, mas ele a impede.

- Vai embora Raquel.

Vinny?

Por quê ela está chamando ele de Vinny?

Pedro olha para a garota, e depois volta a me olhar.

- Vinny? Desde quando você se chama assim Pedro? – Consigo perguntar.

- Pedro? Por quê você está chamando ele por esse nome? Quem é você? – A garota me encara e segundos depois parece me reconhecer. – Então é você?

- Você sabe quem eu sou?

- Claro que eu sei...

- Cala a boca Raquel, e dá o fora daqui. – Pedro fala voltando seu olhar para a garota.

- Então ela é o motivo da sua última carta? É o amor verdadeiro que encontrou enquanto me fazia acreditar em falsas promessas? – Sinto que estou voltando a recuperar os meus sentidos e toda a mágoa do dia anterior começar a me consumir.

- Sim. – A garota fala.

- Não. – Pedro fala no mesmo momento que ela. – Eu posso explicar... – Pedro tenta se aproximar.

- Você não vai explicar porra nenhuma. Você me pediu ajuda, eu te ajudei e olha no que deu. – Kadu responde antes que eu fale qualquer coisa.

- Kadu, a carta...

- Você me implorou para ser seu mediador com a Ivy, alegando que ela precisava de você, que estava apaixonado por ela, me fez ir contra a lei para tentar um encontro com ela e de repente você mandar a droga de uma carta terminando tudo... Que porra de homem é você que faz isso com uma garota que acabou de sair uma clínica de reabilitação? Você pretendia foder com a vida dela desde quando? Desde que seu amigo morreu? – Kadu está muito furioso.

- Eu nunca quis ferir a Ivy... E Diogo nunca foi meu amigo...

- O caralho que você não quis. – Kadu tenta ir para cima do Pedro/Vinny, mas eu não permito.

- CHEGA!!!! – Eu grito.

Os dois me olham e até eu me assusto com o som da minha voz.

A garota vê um início de raiva na minha voz e tenta sair, mas eu a impeço.

- Você fica parada a onde está, pirralha. Se tentar sair daqui, juro que te quebro toda antes que alguém consiga me pegar.

Ela fica parada, talvez pensando se estou falando sério ou não.

Pedro tenta falar, mas eu estendo uma mão aberta, pedindo que ele fique calado.

- Primeiro você Kadu... Quero saber até onde você está metido nisso.

- Podemos ir para outro lugar? Não estou muito a fim de chamar atenção... – Ele começa a falar.

- Acho que você já chamou a atenção de todos. Ninguém sai daqui até me esclarecer o que está acontecendo.