Fim de noite perfeita

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Quando tirei Ivy da boate, ainda não sabia para onde a levaria. Eu só queria tirar ela de perto de todos que pudesse influenciá-la a não me ouvir. Claro que eu não estava falando de Nanda ou Jessye. Mas tinha uma pessoa que se nos visse juntos iria tentar impedi-la de sair comigo.

E para o meu azar ou não, por que Ivy acabou concordando em sair comigo, Kadu apareceu no estacionamento no momento em que eu tinha acabado de colocar o capacete na Ivy.

Aceitei a preocupação de Kadu, apesar de não entender a sua tentativa de proteção com a minha Ivy, já que os dois não tem nenhuma relação de amizade como ela tem com o Nick. Isso me incomodou um pouco, mas logo passou, quando Ivy afirmou que queria conversar comigo.

No final, acabei trazendo ela para a casa de um amigo que é um dos poucos em que confio. Sua casa é simples, assim como a casa dos meus pais. Eu queria que ela tivesse uma ideia de onde eu vim. Queria conversar com ela colocando todas as cartas na mesa, começar do zero.

- Sabe quantas noites eu sonhei com esse momento? - Falei depois que a liberei do beijo.

Seguro o rosto de Ivy com as duas mãos e olho em seus olhos. Ela não me diz nada e nem precisa. Uma vez falei que seus olhos são os espelhos da sua alma, e é verdade, eu sei tudo o que ela está sentindo só de vê-los.

- Eu quis malditamente tocar você, sentir a sua pele e o seu cheiro tantas vezes que achei que enlouqueceria.

- Eu nunca percebi.

- E nem poderia. Você era algo que eu queria, mas não poderia ter. Estivemos tantas vezes perto um do outro, onde eu tinha que me controlar para não fazer a besteira e acabar te machucando mais do que já estava.

- Você viu o pior de mim, e ainda assim me quis.

- Eu não vi o seu pior, eu vi a sua parte frágil. E doeu cada pedaço do meu corpo ver que você estava se perdendo e eu não podia fazer nada.

- Vamos esquecer o passado, passar uma borracha nisso tudo. Eu estou disposta a isso. - Ivy falou me dando um leve sorriso.

Ela se afastou um pouco e esticou o braço em minha direção.

- Oi, eu sou Ivy, prazer em te conhecer. - Disse sorrindo.

Olhei para sua mão por alguns segundos até sorrir de volta.

- Prazer Ivy, eu me chamo Pedro e estou louco para conhecê-la melhor.

Fizemos o aperto de mão e em seguida a puxei para outro beijo. Eu queria morrer fazendo isso. Ter Ivy era a realização total dos meus sonhos. Eu já tinha dado o primeiro para ser o que ela precisava que eu fosse.

Quando nos separamos, ela estava sem fôlego, e confesso que eu também. Seu beijo era simplesmente enlouquecedor. Agora posso entender um dos motivos do Diogo nunca a ter deixado. Dei mais uma olhada no seu rosto.

- Por que está me olhando assim?

- Estou admirando a sua beleza. Você é linda e voltou a usar seus cachos.

- Foi ideia da Jessye.

- Gosto deles assim, é a sua identidade.

- Estava pensando em procurar outra. - Ela sorriu.

- Se quiser, posso ajudá-la.

- Eu adoraria.

*****

Ficamos sentados no sofá da sala, Ivy estava de costas para mim, a cabeça deitada em meu ombro. Eu havia colocado uma música suave, algo que nos deixasse envoltos de uma bolha. Estava perfeito demais, muito mais do que eu esperava.

- Ivy? - Chamei quando senti seu corpo pesar sobre meu peito.

- Humm... - Ela se mexeu e depois virou-se para mim. - Me desculpe, acabei pegando no sono.

- Isso quer dizer que está na hora de levá-la para casa. Você precisa dormir. - Falei enquanto tocava em seu rosto.

- Não! Eu não estou com sono... - Ela quase saltou do sofá.

- Não é o que os seus olhos estão dizendo. - Eu sorri.

- Podemos ficar só mais um pouco, por favor? Não quero que essa noite acabe.

- Nem eu. Estou com medo que quando sairmos por aquela porta, tudo isso acabe.

- Não vai acabar.

Eu a puxei para um beijo suave e depois colei sua testa na minha.

- Vamos fazer isso dar certo. Eu só preciso ajeitar minha vida para estar inteiro com você.

- Do que está falando?

Eu me afastei e olhei em seus olhos.

- Sou um fugitivo. A polícia está me procurando...

- Pretende se entregar a polícia?

- Eu tenho que fazer isso. Os outros caras só estão presos por que se entregaram ou foram pegos. Quero estar dentro da lei para ser o que você precisa.

- Eu posso te ajudar. Meus pais têm ótimos advogados e....

- Eu já tenho um advogado, vou cuidar de tudo.

- Quem é ele? Eu conheço?

- Ei, não vamos falar sobre isso essa noite. Hoje eu só quero ter você em meus braços. O resto, eu resolvo amanhã.

- Ok, como você quiser.

*****

Ficamos mais uma hora trocando carinhos, e depois eu decidi que deveria levá-la para casa. Apesar de ela afirmar que não estava com sono, eu podia perceber que o sono logo iria vencê-la.

Ajudei Ivy colocar o capacete e depois de fazer o mesmo, seguimos para sua casa. Ela morava em um condomínio luxuoso no Alto da Boa Vista. O lugar era mais seguro do que estádio em dia de jogo.

Ivy desceu da moto e retirou o capacete. Eu retirei o meu e peguei o dela para guardar. Ela ficou parada enquanto eu fazia isso. Quando terminei, eu a olhei.

- Posso te ver amanhã? Claro se você estiver disponível...

- Eu vou adorar. - Ela falou quase que de imediato, o que me deixou muito feliz.

- Então onde posso te encontrar?

- Aqui?

- Não seria uma boa ideia, já que seus pais não vão gostar de me ver por aqui.

Não precisei falar o motivo, por que ela soube na mesma hora.

- Podemos nos encontrar na praia. - Ela sugeriu.

- Ótima ideia. Que tal por volta das vinte horas? - Eu perguntei.

- Perfeito.

- Então está marcado. Te encontro no posto cinco. Boa noite Ivy, ou seria bom dia?

Ela riu.

- Acho que seria bom dia, já que são três da manhã.

Ivy se aproximou e me deu um beijo rápido nos lábios.

- Obrigada por não ter desistido.

- Isso jamais.

Ela sorriu e caminhou para o portão do codomínio. Fiquei parado até ver que ela estava segura e depois segui para casa. Hoje, seria o meu primeiro dia de verdade. Eu tinha Ivy comigo, ela me daria força para o que eu iria enfrentar logo mais.

Cartas para você - Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora