Grávida

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Nós fomos para a área externa. Realmente todos tinham chegado, as mesas estavam ocupadas. Nós sentamos na nossa mesa e os garçons serviam bebidas. Bianca levantou-se pra fazer algum anúncio.
- pessoal, pessoal! Obrigada a todos por virem, é muito importante pra mim que vocês estejam aqui hoje. Eu só quero que vocês esperem meu marido chegar, e nós contaremos uma notícia pra vocês. - eu nunca vi a Bianca tão amigável e doce na sua fala. Tinha algo muito errado acontecendo. Ela se sentou e, quando o garçom veio com champanhe, ela recusou rindo. - pra mim, suco. Por favor. - sorriu pra mim e a minha ficha caiu no mesmo instante. - champanhe Maria?
- Você está grávida? - perguntei sem hesitar.
- Maria, não estrague a surpresa. - sussurrou. Meu coração acelerou e eu não soube expressar nenhuma reação. Fiquei sem fala. Enquanto ela desviou a atenção de mim e saiu pra falar com alguém em outra mesa. Eu levantei desesperada, procurando pra onde ir. Meu olhos marejaram. Eu só pude dar dois passos na direção da entrada da casa e parei assim que vi Luan lá.
Ele olhava para todas aquelas coisas, sentindo-se perdido. Quando seus olhos encontraram os meus, não pude mais evitar as lágrimas. Ele foi abordado por pessoas o cumprimentando. Eu voltei pra mesa secando as lágrimas. Bianca se posicionou na frente, onde alguns holofotes a iluminavam. Entregaram a ela um microfone.
- amor, que bom que você chegou! Vem cá! - ele foi em passos lentos, parecia com medo. Ela pegou a mão dele. - aqui estão alguns familiares que nunca tiveram a chance de conhecer nossa casa, nossa família. Mamãe e papai estão no FaceTime? - perguntou pra alguém e a pessoa concordou mostrando os pais dela no tablet. - Eu pensei em chamar seus pais, mas achei melhor a gente contar aos poucos que... nós estamos grávidos! 

Eu diria que Luan foi encurralado a ter uma boa reação. Estava claro que ele estava mais assustado do que feliz. Mas para não ficar feio na frente da família dela, ele não pode fazer nada além de fingir comemoração junto com eles. Eu esperei que todos se levantassem para parabeniza-los e saí de fininho indo pro meu quarto. Coloquei Alice na minha cama e liguei a TV em qualquer desenho. Eu não parava de chorar. Estava tudo acabado.
Eu conhecia Luan o suficiente pra saber que ele não iria abandoná-la com mais um bebê. Ele não iria dar as costas pra um filho. Ele podia muito bem acreditar que agora com a chegada de outra criança, as coisas mudariam. Ele era um cara família, com costumes.
Acho que nessa altura do campeonato, até Marizete que disse que era pra gente ser felizes juntos, diria o contrário.
Eu andava de um lado pro outro no meu quarto chorando. Arranquei o avental do corpo com ódio. Sentia faltar o ar, não conseguia respirar direito. No meio do meu surto, a porta do meu quarto é aberta com tudo. Me assustei de cara, era Luan. Ele entrou e trancou a porta.
- Duda...
- Luan, não! - falei vendo sua intenção de chegar perto. - não chega perto de mim!
- Por favor... eu... Você sabe que isso não vai mudar nada!
- Não vai mudar nada? Como não Luan?
- Calma, por favor! Calma! - ele se aproximou e secou minhas lágrimas. - eu sei isso muda muita coisa, mas não muda o que eu sinto por você, não muda o que eu não sinto por ela e principalmente não muda a minha intenção de divórcio.  Por favor, não fica assim. - beijou minha testa e me abraçou apertado. - eu te amo, não me deixa.
- Não posso, Luan. - me afastei dele. - eu realmente não posso fazer isso com você, com a Alice... Separar a sua família!
- Eduarda, para! - ele veio até mim novamente. Dessa vez, me prendeu entre ele e a parede. - olha pra mim. Você não vai me abandonar, tá me ouvindo? Eu só passei por isso tudo uma vez porque eu tinha você. E agora mesmo que eu não posso te perder. Você entendeu? - eu concordei. - eu faço o que você quiser. Mas não me deixa.
- Me dá um beijo? - eu não conseguia pensar em outra coisa, se não que eu o perderia. Se eu ia perdê-lo, que pelo menos eu tivesse direito a um último beijo.

Ele me beijou. E foi o beijo mais carinhoso que já tivemos. Bateram na porta no exato momento, mas isso não nos assustou. Nós afastamos devagar.
- vai ficar tudo bem, eu prometo. Tá? - eu assenti e ele foi até a porta.
- Luan, os convidados! - Bianca falou brava.
- Cadê o celular da Duda?
- Tá na gaveta da escrivaninha dela. - eu fui até lá e lá estava. - pronto, vamos? - ele me olhou e eu assenti. Olhei pra Alice e ela tinha dormido vendo desenho.
- Eu vou ficar por aqui. - sorri fraco. Eles se foram.
Eu tirei aquela roupa horrorosa e tomei um banho. Subi pra pegar uma roupinha pra Alice, torcendo pra não encontrar ninguém no caminho.
A troquei e deitei do seu lado. Peguei no sono pensando no que seria de mim naquele momento.

No dia seguinte, a minha cabeça doía. Acredito que era de tanto chorar. Só amarrei o cabelo e fui com Alice para tomarmos café. Fiz uma mamadeira pra ela e a coloquei no cadeirão. Sentei ao seu lado com um chá e algumas bolachas.
- bom dia Duda! - Joana disse entrando. - acordaram cedo! Ainda nem passei café. - eu sorri.
- Fomos dormir muito cedo ontem, né princesa?
- Você viu? A Bianca grávida de novo? O que vai ser dessa criança?
- Eu só sei que eu não dou conta de criar duas. - fiz piada e ela riu.
- Ah mas eles vão contratar mais alguém, com certeza. - ela falou.

Mesmo sem estarOnde histórias criam vida. Descubra agora