Uma mãe incrível

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- ela não quer sair do quarto, já faz uma semana.- eu, Luan e Joana discutíamos no jardim. Alice estava no meu colo, pra variar.
- Desmarquei outra vez a consulta com psicólogo, ele sugeriu vir atender ela em casa. - ele disse.
- Eu acho uma boa ideia. Ela está muito deprimida. - falei.
E assim ele fez. No dia seguinte, lá estava o doutor. O Luan viajaria por algumas semanas, não podia mais ficar ali cuidando dela. Então as consultas ajudariam. Além de ter chamado a irmã dela para passar uns dias lá.

- a Paula vai chegar em algumas horas tá?
- Tudo bem, vai com Deus. - nós nos despedíamos não porta de casa.
- Fico preocupado... Bianca doente, Alice desse jeito. - alisou os cabelos da pequena, que não saía do meu colo pra nada.
- Não fica. A Jô cuida da Bianca e eu cuido da Alice.
- E de você? Quem cuida? - eu ri.
- Te amo.
- Eu também te amo. - beijou minha testa e entrou no carro. Eu observei ele se afastar e depois entrei em casa.

[...]

Já tinha dois dias que Luan tinha ido.
Bianca estava começando a sair do quarto. Tinha ido no jardim com a irmã e ficado alguns minutos no sol.
O mesmo não tinha acontecido com Alice. Com a chegada de uma pessoa "estranha" em casa, ela se recuou mais ainda. Não dormia mais sozinha no quarto e estava sempre me pedindo colo. Eu decidi que a levaria pra Gab examinar.
Liguei e agendei uma consulta. A arrumei e me arrumei. Quem sabe vendo a rua ela também não melhorava.

No horário nós fomos. Quando Gab nos viu, ele se mostrou muito preocupado.
- Duda! Tá tudo bem? Por que não me ligou?
- Eu achei que não era mais uma boa ideia a Alice se consultar com você... não queria que ficasse um climão.
- Você não né, o Luan. Ele ligou e pediu pra transferir o histórico dela. Fiquei triste porque eu cuido dela desde que ela nasceu. É como se ele simplesmente te trocasse.
- Desculpa...
- Tudo bem. Agora me conta o que tá havendo!
- Na verdade, não é nada demais. Ela simplesmente anda muito tristinha. Só fica no meu colo, sabe?
- Mas ela tá comendo?
- Tá sim. - ele digitou umas coisas e se levantou.
- Vem cá com o tio? - ele disse esticando as mãos pra ela. Ela negou me abraçando.
- Eu tô me sentindo mãe.
- Eu tô achando que é isso mesmo. - ele disse e riu.
- Eu não entendi. - ri sem graça.
- Põe ela aqui pra mim. - a coloquei na maca. Ele a examinou de ponta a ponta.
- E aí? - perguntei quando ele voltou para o computador.
- Duda, senta aí. - eu me sentei. - aparentemente, a Alice tá muito saudável.
- Ah poxa. - falei tristonha. - o que eu faço com você menina?
- Mas eu queria te perguntar umas coisinhas... Como você está se sentindo ultimamente?
- Sobrecarregada, Gab. - admiti. - a Bianca está muito mal... ouviu dizer o que houve? - ele concordou. - e o Luan tá tentando cuidar dela mas não tá sendo fácil, e aí a Alice não tá bem.
- Duda, eu quero saber da sua saúde.
- A minha? - eu ri. - tá ótima, por que?
- Eu não queria ser a pessoa a te dizer isso, mas eu acho que você está grávida. - eu fiquei sem fala. Lembrei do Luan me questionando isso e eu não levando a sério. E tudo foi acontecendo, eu não prestei atenção em mim ou na minha menstruação. Não podia ser.
- Não, Gab. Eu não... com base no que?
- Isso acontece com muitas mamães, acredite se quiser. Os bebês sentem, Duda. Se quiser, eu posso fazer um teste de sangue em você e pedir urgência. Rapidinho o resultado sai.
- Gab... - eu falei já chorando. - por favor fala pra mim que você tá me zoando. Isso não pode tá acontecendo comigo. - ele levantou e veio até mim me abraçar. Foi só ele se aproximar muito e eu sentir o cheiro do seu perfume que a ânsia veio. Eu joguei Alice nos seus braços e corri pro banheiro.
- Parece que você vai ganhar um irmãozinho! - ele falou brincando com Alice, que já ameaçava chorar pra vir atrás de mim.

Eu fiz o exame com ele. E depois de uma horinha ele voltou com o envelope. Eu estava na sala de espera quando ele sentou do meu lado e me entregou.
- você já sabe? - ele concordou. - então só me fala...
- Positivo. - eu suspirei fundo sentindo as minhas vistas embaçarem. Eu tremia. Gab foi buscar um copo d'água.

Eu me levantei apressada, querendo ir embora.
- Eduarda! Eduarda! - ele me seguia até o carro. - você não pode dirigir assim! - eu coloquei Alice na cadeirinha.
- Tá tudo bem, Gab. Relaxa. - dei a volta no carro mas ele segurou a porta e não me deixou entrar. - por favor, me deixa ir.
- Eu vou tirar horário de almoço, eu te levo até em casa. Tá bom?
- Não precisa.
- Eu insisto. Me dá a chave. - estendeu a mão e eu o entreguei. - eu já volto.

Como eu podia ter sido tão desatenta. Eu não dei falta da minha menstruação. Eu não percebi qualquer sintoma de gravidez. Mas eu estava grávida. E o que eu faria agora? Com tudo que Luan já estava passando, eu fiquei com medo de jogar mais essa bomba.

Ele parou meu carro na frente da casa de Luan. O meu choro não cessava. Ficamos ali alguns minutos. Ele segurava minha mão tentando me acalmar.
- Duda, você precisa se acalmar! Olha pra mim... - eu olhei pra ele. - você é forte, para com isso. Esse bebê tem muita sorte de ter você. Você já é uma mãe incrível.
- O problema não sou eu... - falei entre soluços. - é a Bianca, o Luan, o momento errado. Tudo isso. O que todo mundo vai falar?
- Dane-se o que todo mundo vai falar. - ele riu. - alguém vai comprar fralda pro teu bebê? Não vai! As fofocas não vão nem chegar em você.

Eu fiquei mais alguns minutos com ele. Ele levou Alice, que dormia, até a minha cama pra mim. Depois chamou um táxi e foi embora.

Eu guardei o envelope do exame na minha escrivaninha. Quando fui checar o celular, tinha um monte de mensagens e ligações do Luan.

Amor: bom dia linda
Oiii
Tá aí?
Hey, não acordou ainda?
🤔🤔🤔
Duda, tô preocupado
Aconteceu alguma coisa??

Encontrei com Joana no corredor na hora que lia as mensagens.
- oi Duda, Luan ligou.
- É eu tô vendo as mensagens dele agora.
- Tava chorando?
- Estava mas não foi nada. Vou aproveitar que Alice dormir e vou descansar um pouco. - sorri fraco e fui pro meu quarto.

Duda: oii, estava meio distraída hoje, não me atentei ao celular. Está tudo bem por aqui e aí?

Não demorou nem um minuto pra ele me responder.
Amor: Joana me disse que saiu.
Onde estava?
Duda: levei Alice no médico, tô achando ela muito estranha ainda.
Amor: o que o médico disse?
Duda: a mesma coisa, que ela tá bem. Quando você volta?
Amor: em duas semanas.

Mesmo sem estarOnde histórias criam vida. Descubra agora