Foi assim que eu conheci Luan

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Eliza, minha mãe, não morava em uma casa luxuosa. Nunca fomos de esbanjar dinheiro nem nada, tínhamos apenas o suficiente para viver e vivíamos bem assim. Até meu irmão mais velho conseguir uma bolsa em uma faculdade da elite e conseguir um bom emprego. Nas festas da faculdade ele conheceu inúmeras meninas, dentre elas sua preferida: Bruna.

Foi assim que conheci Luan. Era aniversário de Bruna e eu fui com meu irmão, Caio. Lá conheci Luan e foi lá mesmo que trocamos uns beijos. Eu era mais jovem do que a maioria ali. Carne nova no pedaço. Óbvio que ele não me deixaria passar. E meu irmão tinha me deixado ciente disso, mas eu não me importei de ficar com ele só por ficar. Era o Luan Santana, né? Quem recusaria?

Depois disso, não nos falamos mais. Por uns dois meses. Foi então que Lucas quis passar uma semana na chácara com a família da Bruna e minha mãe disse que ele só iria se eu fosse também. Mamãe era cheia dessas. Festas? Um só ia se o outro fosse. E sempre nos demos bem por isso. Um guardava os segredos do outro e isso nos tornou parceiros de crime.

Nessa semana, eu e Luan nos aproximamos muito! Dormimos juntos todos os dias. Sem transar. Apenas aproveitando a companhia um do outro, contando experiências e ficando acordado até tarde. E na ultima noite, transamos. Ficamos discutindo na cama até decidirmos ser amigos coloridos. Parecia a ideia mais genial de todas, afinal durante uma semana tínhamos sido amigos maravilhosos. Além de ter negado todas as piadinhas sobre termos um romance.

Ninguém precisava saber e a gente não precisava sentir nada além de amor de amigo. Eu estava convencida de que não seria nada demais. Apenas por prazer.

Eu não trabalhava, tinha acabado a faculdade de arquitetura naquele primeiro semestre do ano e estávamos em Julho quando fomos para a tal chácara e tudo aconteceu. Luan iria começar uma viagem por alguns estados fazendo shows e me chamou para ir com ele.
Estava sendo maravilhoso. Éramos amigos em qualquer lugar, menos entre quatro paredes. Que era onde rolavam os momentos mais prazerosos.

Até que um dia, estávamos no Rio que era a penúltima cidade da sua turnê, em uma festa aconteceu nossa primeira e única briga.
Luan estava bravo porque meu ex estava me mandando mensagens com freqüência. E eu ri dele, afinal a gente não namorava então ele não podia questionar o porquê de eu falar com meu ex. Apesar de que não estávamos falando nada demais nas mensagens.
Luan disse que já que não tínhamos nada, ele poderia ficar com qualquer uma. E foi isso que ele fez. Escolheu a mulher mais bonita da festa pra dar em cima. Em minutos, estavam aos beijos. Nisso eu não perdi tempo em querer provocá-lo também. Dei mole pro primeiro que apareceu e logo estávamos aos beijos. Eu não pretendia passar disso. Mas Luan levou a loira pra cama. Subiu na maior cara de pau pra um dos quartos. Enquanto subia as escadas segurando a mão da loira, olhava diretamente pra mim com cara de deboche.

No estacionamento da festa, eu encostei no seu carro e chorei como nunca antes. Aquilo tinha me chateado profundamente. E eu nem sabia porquê. Não tínhamos nada serio. Mas vê-lo ir tão longe com outra foi devastador.

Fui embora depois de brigarmos por horas no hotel. Eu usei toda a grana que tinha pra comprar uma passagem de volta para São Paulo. Eu chorei por dias, sem me dar conta de que era porque eu o amava. Ele tentou falar comigo, pedir desculpas. Mas eu não o atendia e fingia não estar em casa quando ele aparecia. Até que um dia minha mãe me implorou para ir até a sala receber ele porque ele parecia estar muito mal. Ele me contou em prantos que tinha uma mulher grávida dele. É, era a Bianca. Eu deveria ter ódio deles por isso. Mas não aguentei ao ver o desespero em seu olhar. O abracei e disse que estaria ali por ele, não importa o que acontecesse. E então voltamos a ser amigos. Só amigos. Sem nunca mais tocar no assunto do nosso relacionamento ou o que sentíamos.

Bianca me odiava com todas as forças, mas eu me preocupava com ela e com o bebê. Que aos cinco meses se mostrou ser uma menina.

Bianca nem mesmo olhava o monitor durante a ultrassom. Isso foi o que Lu me contou. Afinal eu não ia aos exames. Ficava em casa esperando ele me dizer como tinha sido. O casamento dos dois não teve cerimônia. Só assinaram os papéis em sigilo. Não houve esforços pra fingir que era um casamento por amor.

Voltando a realidade, ajudei minha mãe com o almoço e acabamos conversando sobre isso.
- vocês, como estão?
- mãe, ele esta bem com a mulher dele e eu to feliz com isso. – falei já tentando evitar o mesmo papo de sempre. Ela insistia que eu deveria me declarar, dizer que o amava. Ela achava que ele largaria Bianca por mim. Mas eu tinha plena certeza que não, já que eu que fui trocada por ela.
- feliz? – me olhou nos olhos balançando a cabeça negativamente.
- ta, consigo viver com isso.
- não consegue. Filha, sério. Para de dedicar sua vida a ele.
- não é a ele, é a Alice.
- você não merece sofrer assim, você vai se apaixonar de novo se sair pra conhecer pessoas novas.
- mãe, chega. – falei saindo com os pratos na mão. Arrumei a mesa e logo estávamos almoçando.
- ela come bem, né? – minha mãe disse espantada.
- Aice come comida! – Alice disse e rimos.
- sim, ela come de tudo. Não é a toa que é gordinha, né princesa? – ela assentiu mastigando, tirando mais risos de nós.
- godinha! – a pequena repetiu.
- e ela fala muito?
- ela fala de tudo mãe! Eu fico impressionada a facilidade que ela tem pra aprender o nome das coisas e os verbos e tudo mais...

Após o almoço, recebi uma mensagem do Gabriel.
Gabriel: oi linda, ta ocupada? Estava pensando em dar uma volta.

Partiu meu coração ter que recusar sua proposta, afinal sua companhia era sempre bem-vinda.
Duda: desculpa Gab, mas estou na casa da minha mãe. Quem sabe outro dia.
Gabriel: ah sim, sem problemas. Que tal amanhã? – sorri ao ver que ele insistia. E, se insistia, fazia questão da minha companhia.
Duda: claro, amanhã então!

Eu gostava dele. E gostava mais ainda da ideia de alguém gostar de mim. Fazia tempo que eu não vivia isso. Mas infelizmente eu não sentia meu coração acelerar por ele. Nem sentia borboletas no estômago por estar perto dele. Ele era incrível, mas era só ele.

Deixei o celular de lado e fui lavar a louça tetando não pensar mais em Gab. Enquanto isso, minha mãe cuidava de Alice.

Logo fomos embora. Fiz de tudo para Alice não dormir no caminho, assim dormiria mais em casa.

Assim que chegamos, dei um banho nela e fiquei no quarto dela a ninando.

Quando vi que Alice dormia, a coloquei no berço. Dessa vez ela não acordou e eu fiquei feliz por isso. Sorri e alisei seus cabelos. Eram lisinhos e tinham uma cor escura. Ela era tão parecida com o pai e essa era uma das coisas que me deixavam feliz em cuidar dela. Era muito parecida com ele. No tom de pele, cor dos olhos e dos cabelos... Ela era a cara dele. E que tenhas suas manias, seu jeito e seu dom quando crescer. Juro que pedia a Deus todos os dias para que ela não fosse como a Bianca. E, sei que é egoísmo, mas pedia também a ele para não me separar dela nunca. Eu sei que ela não é minha, e dói admitir isso. Mas sinto como se fosse. Ela é parte de mim e sempre será.

Suspirei acalmando os pensamentos e me virei para sair, assustando-me com Luan parado na porta. Levei a mão ao peito e respirei fundo, sempre fui fraca para sustos.
- desculpa. – ele sussurrou sorrindo. Eu sorri fraco e passei por ele saindo.

Mesmo sem estarOnde histórias criam vida. Descubra agora