O homem mais feliz do mundo

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Acordei com certa movimentação na cama. Mas senti dificuldade em abrir os olhos. A claridade parecia fazer minha cabeça doer. Quando consegui enxergar, vi Luan se levantando. Permaneci intacta. Eu lembrava de poucas coisas da noite passada. Dormir com o Luan não era uma delas, e eu desejava que nada tivesse realmente acontecido. Ele entrou no banheiro e trancou a porta. Essa foi a chance que eu tive de sair dali o mais rápido que pude. Fui pro quarto de hospedes as pressas. Notei então que eu vestia uma blusa que parecia ser do Luan. Tirei e foi inevitável, cheirei. Era dele. Suspirei e fui pro banho.

Assim que saí do banheiro secando o cabelo, dei de cara com o Luan.
- merda Luan! Que susto! – ele riu. Estava deitado na cama. – eu poderia estar pelada sabia?
- poderia não, você sempre se troca no banheiro. – semicerrei os olhos. Ele me conhecia bem. – ta melhor?
- to... Bebi muito?
- um pouco mais do que devia. – fiz careta.
- desculpa.
- relaxa, não envergonhou ninguém. – riu. – eu só tive que te tirar das garras do Victor.
- obrigada... Não aconteceu nada demais, né? - perguntei desconfiada. - tipo, entre a gente?
- não. - ele riu, eu suspirei aliviada. - eu só te trouxe pra casa, cuidei de você... – sentei perto dele na cama.
- obrigada mesmo... – sorri de lado. – prometo não fazer isso de novo.
- tudo bem, eu gostei da parte que você desabafou.
- ah não, o que eu falei? – ele começou a gargalhar achando graça. – Luan, é sério! – ri da sua risada gostosa.
- calma, não falou nada. – se acalmou. Suspirei imaginando que não poderia ter dito nada tão ruim. – só disse que me amava e falou que a Bianca é uma vaca. – abri a boca espantada e arregalei os olhos.
- meu Deus, me desculpa Luan! – ele riu da minha reação. – desculpa mesmo, não quis dizer isso dela.
- quis sim, para vai.
- eu juro que não! Ela tem os problemas dela, isso não me da o direito de chamar ela de vaca!
- tudo bem, Duda. Eu sei que você é boa demais pra chamar alguém assim. E ela bem merece considerando o modo como te trata... Sabia que você não precisa ter medo dela? Ela só te trata assim porque você meio que deixa. – eu suspirei encarando minhas mãos, pronta para começar a desabafar sobre Bianca.
- é porque ela meio que tem razão nas coisas que ela fala. – e essa foi a primeira vez que eu fui sincera e consegui falar o que eu sentia sobre Bianca. Luan se ajeitou na cama, completamente indignado com o que tinha acabado de escutar. Sentou-se frente a frente comigo.
- ei, que besteira é essa? Ela tem razão em te chamar de imunda? Eduarda! – eu ri.
- não, isso não. Mas ela não tem que me tratar bem, não tem que ser minha amiga. Eu sou funcionaria da casa dela. E ela me trata igual trata todos os outros funcionários. Você me da tratamento especial porque a gente é amigo, né. E eu sinto que, no fundo, ela se sente mal por estar afastada da própria filha, e desconta em mim a raiva dela. Por isso eu não revido. Ela sabe que era pra ela estar no meu lugar. Era pra Alice olhar pra ela como me olha. – quando olhei pra Luan, ele parecia refletir sobre o que eu tinha dito.
- ela perdeu uma oportunidade e tanto. – concordou comigo. – de ser mãe de uma menina maravilhosa e de ser amiga de uma pessoa incrível como você.
- quem sabe um dia. – sorri encolhendo os ombros e morta de vergonha de seu elogio. Ele beijou minha testa e se levantou me estendendo a mão para descermos juntos.

Nós descemos para o café e eu encontrei minha princesa. Passamos o dia brincando com ela na piscina e no jardim. O clima entre nós estava perfeito. Ele tinha voltado a ser o Luan engraçado que eu tinha conhecido. Aparentemente, tudo o que eu disse sobre Bianca fez ele repensar suas ações. Eu não sabia se estava grata por isso ou se eu deveria ter fingido que acreditava nas suas palavras e ter tentado algo entre nós.

Quando Alice estava cansadinha, dei um banho nela e a coloquei na cama. Ela caiu no sono. Liguei a televisão e peguei meu celular no outro quarto. Troquei mensagens com Gab. Pedi desculpas pelo sumiço, mas expliquei que saí na noite anterior e hoje havia passado o dia com Alice. Ele entendeu bem, era compreensivo demais.

- se arruma, vai ter show no centro hoje e nós vamos! – Luan falou entrando no quarto.
- ah sim, com aquele vestido lindo que você escolheu? – no fim não tínhamos levado o vermelho, mas sim um rosa florido e soltinho, bem minha cara.
- esse mesmo!
- o show é de quem mesmo?
- vai ter uns cantores daqui mesmo e uma atração especial. – falou cheio de si arrumando a gola da camisa.
- e essa atração especial é você?
- claro! – piscou pra mim e eu ri mais ainda.

Fomos os cinco para o centro. Um cantor já cantava um sertanejo bem animado e varias pessoas dançavam na frente do palco. Era a única casa de show da cidade, não muito grande acomodava a todos. O palco deveria ter um metro e meio de altura e já era o suficiente para todos conseguirem ver o cantor.

Sentamos a uma mesa e Amarildo foi avisar que tínhamos chegado. Logo ele voltou dizendo que mais um cantor ainda se apresentaria antes de Luan.
- oi, Luan? – uma moça se aproximou e Luan se levantou para cumprimentá-la.
- oi, tudo bem?
- tudo ótimo. Que bom te ver por aqui! – ela sorria feliz. – Meu nome é Jéssica. Será que... Você pode dançar essa musica comigo? – pediu e nós na mesa nos entreolhamos.
- claro, bora lá. – Luan aceitou prontamente e foi.

Quando a música acabou, procurei por ele. Ele se despediu da moça e olhou ao redor. Logo deu alguns passos e outra mulher o puxava pra dançar. Eu até queria pensar em outra coisa, mas não conseguia. Hoje o dia tinha sido tão bom e só me faziam imaginar que poderíamos ser uma família, se não fosse por uma maldita noite...
- Tuda! – Ali me chamando me despertou. – olha pra mim! – ela pediu e eu ri. Ela provavelmente estava falando e eu não dei atenção.
- oi amor? – ela deu os braços pra mim e eu a peguei do colo da sua avó. – quer suquinho? – ofereci a mamadeira com suco e ela agarrou com vontade. Minutos depois me devolveu vazia e eu ri a parabenizando por ter tomado tudo.
- licença Duda... – Luan disse pegando Alice do meu colo.
- toda! – sorri. Mas ele não a pegou pra dançar com ele, como eu tinha imaginado. Ele a entregou para Marizete. Voltou até mim e me puxou pela mão.
- ei! – exclamei levantando.
- me concede essa dança? – falou me levando pro meio das pessoas.
- Lu... – me interrompeu
- por favor? – pediu colocando sua mão na minha cintura bem devagar. – eu não poderia dançar com mais alguém que não fosse você. – aproximou nossos corpos e eu o abracei pelo pescoço, deixando que ele me conduzisse. Ficamos um tempo dançando sem dizer nada. Eu estava tensa. Tinha muito tempo que a gente não ficava tão perto e conscientes. Sua boca respirando perto do meu pescoço me causava arrepios. – eu só queria dizer uma coisa... – ele disse e ficou em silencio. Eu imaginava do que se tratava. Fechei os olhos por um instante.
- diz. – o incentivei.
- eu amo você. Eu sei que é difícil de acreditar, mas eu amo. E eu não vou forçar nada, porque eu prefiro ter você como amiga a não ter. Eu to sendo insistente porque eu sinto que ai dentro ainda tem alguma coisa, Duda. Desculpa perceber isso no momento errado. Desculpa te atrapalhar com o médico bonitão. – eu ri. – eu achava que isso nunca iria acontecer porque você estava sempre ali onde eu podia ver. E isso mantinha você segura. Eu só não pude prever que levando minha filha no médico você iria seduzir o cara. – ele riu.
- para de falar besteira. – falei rindo também. Quando ele parou de rir, continuou o discurso.
- se você não sente mais nada por mim, pode dizer. E eu paro de te importunar com isso porque eu devo estar sendo chato. Se você não gosta mais de mim, só continua com a gente. Cuidando da Alice, cuidando de mim. Mas se você sente alguma coisa, me fala. Eu faço qualquer coisa pra gente ficar junto. Eu sei que você ta com medo de ser tudo uma grande mentira minha, mas eu não sou assim. Eu seria o homem mais feliz do mundo se eu tivesse você do meu lado. – a musica que tocava foi interrompida e alguém no palco estava pronto pra anunciar o próximo cantor. Ele se afastou pois sabia que era ele. – eu te amo. – beijou minha testa e foi correndo para a lateral do palco.
- e agora a atração especial da noite: Luan Santana! – um holofote o iluminou enquanto ele subia ao som das palmas de todos. Eu estava em choque e sem rumo algum. Por alguns minutos eu não soube o que fazer nem pra onde ir. As pessoas passavam por mim pra se aproximar do palco e eu continuava ali, estática. Até sentir uma mão no meu ombro.

- ta tudo bem? – Marizete me perguntou.
- ta... – sorri de canto.

Mesmo sem estarOnde histórias criam vida. Descubra agora