Corajosa

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Maria Eduarda Narrando

Assim que as meninas saíram pela porta, nós dois ficamos em silêncio. Eu não sabia o que dizer pra ele. E ele aparentemente não sabia por onde começar a perguntar. Ele andou de um lado pro outro mexendo no cabelo.
- eu... Eu não sei nem o que dizer, Eduarda. - eu suspirei. - a Nicole é minha filha? - eu concordei. O que fez com que ele ficasse ainda mais bravo. - como você pode esconder isso de mim por 10 anos? Me diz!
- Luan, eu não tive escolha! Elas estavam me seguindo, elas tinham fotos da minha mãe, elas disseram que era pra eu fazer um aborto! - eu entrei em desespero tentando me justificar.
- Espera, espera aí! Elas quem?
- Bianca e a irmã dela. Elas descobriram que eu estava grávida antes de eu conseguir te contar, Bianca falou que eu não iria ter o meu bebê porque ela não teve o dela. E isso me assustou de um jeito que eu não tive como não fugir.
- Você podia ter me procurado, ter me dito a verdade!
- Eu fiquei com medo!
- Você simplesmente deixou a Alice com a minha mãe e fugiu, Eduarda. Eu fiquei meses esperando você voltar. Fiquei anos tentando ligar no seu celular até o dia que alguém atendeu e disse que aquele número não pertencia a nenhuma Eduarda. Você sabe quantas noites a Alice chorou te chamando? Até ela esquecer que um dia você existiu? - eu sentei no sofá, sentindo minhas pernas fraquejarem.
- Luan, por favor...
- E eu chorei por muitas noites me perguntando porque você tinha desistido da gente, o que eu tinha feito de errado...

Eu tinha sido fraca. Ele estava certo em dizer tudo aquilo. Mas eu agi como qualquer mãe agiria pra salvar seu filho. E ouvir tudo aquilo estava me machucando.
- eu vou embora! - levantei indo na direção da porta.
- Eduarda, eu não acabei! Você não vai me deixar mais uma vez sem nem me ouvir! - eu o ignorei e abri a porta. Assim que abri, dei de cara com Joana desmaiada no corredor.
- Ai meu Deus! - exclamei assustada e me abaixei perto dela. - o que houve?
- Descobriu que somos irmãs. - Alice falou feliz da vida. Eu encarei as duas sem saber nem o que dizer. E depois olhei pra Luan que estava do meu lado. Diferente de Alice, minha filha parecia assustada com tudo aquilo.

Levaram Joana pro ambulatório. As meninas, que não se desgrudavam, entraram juntas pro camarim.
- será que a gente pode conversar amanhã? - Luan me perguntou. - ou hoje, eu posso pedir pra te deixarem em casa depois. Eu prometi pra sua... Pra nossa filha que levaria ela pra conhecer o Zé Felipe. - eu ri.
- Ela nem sabe quem é o Zé Felipe, não é da época dela.
- Ué, mas foi ela quem pediu. - nós dois olhamos estranho pra ela lá dentro do camarim. Dei de ombros.
- Eu acho que eu vou pra casa com ela e... amanhã a gente conversa. Vai dar tempo de digerir melhor as coisas. - ele concordou.
- Me fala o seu número que eu te mando o endereço do hotel que estamos ou se quiser eu mando alguém te buscar e aí a gente conversa, as meninas brincam um pouco. O que acha?
- Pode ser! É 0279....
- Até amanhã. - ele sorriu fraco e eu fiz o mesmo.
- Até. Vem Nicole! Vamos embora! - elas duas se abraçaram apertado. Eu nunca tinha visto minha filha fazer amizade com alguém. Ela não era de se aproximar das crianças. Alice fez um carinho no Paçoca antes dele vir.
- Da tchau pro... Luan. - falei meio sem jeito. Ele se abaixou e a abraçou.
- Amanhã a gente vai se ver tá bom? - ele beijou a testa dela e isso me lembrou de quando fazia isso comigo.
- Você é mesmo meu pai? - ele concordou sorrindo.
- Sou sim, sou seu pai... depois você vai me contar melhor como foi que me achou, tá bom? - ela riu e o abraçou. - até amanhã.

Nós duas fomos saindo. Eu olhei pra trás e ele nos observava sorrindo, piscou pra mim e eu ri envergonhada.
- Graças a Deus! - minha mãe que nos esperava na porta falou abraçando Nicole. - menina você quer me matar do coração? Eu tô velha em. - eu ri.
- Não fala assim mãe. - fomos andando até onde eu tinha parado o carro.
- Vovó, eu achei o meu pai.
- Você foi muito corajosa sabia? E muito esperta também! Vovó ficou preocupada sim, mas estou feliz que você conseguiu encontrar ele.
- A senhora sabia quem ele era esse tempo todo? - minha mãe concordou. - e por que não me disse?
- Sua mãe não queria que você soubesse, o que eu podia fazer?

[...]

Nicole já dormia quando eu e minha mãe conversávamos na cozinha. Eu bebia vinho, pra variar.
- ele ficou uma fera, mãe. Jogou na minha cara as noites de choro da Alice, a preocupação dele, a espera de que eu voltasse...
- E você disse o que?
- Eu não falei nada. Fiquei travada.
- Devia ter dito que passou tanto nervoso que quase perdeu a Nicole quando a gente veio pra ca. Que teve crises durante várias noites e acordava chorando porque sonhava que a Bianca vinha atrás de você. Essas coisas você devia ter dito.
- Ele me chamou pra conversar amanhã. Disse que ia me mandar o endereço pra ir com Nicole. - no mesmo instante, meu celular vibra sobre a ilha da cozinha. Eu dou uma breve olhada e era um número de São Paulo me enviando mensagem.

011 9...: Oi, Luan aqui
Me manda seu endereço, vou pedir pra te buscarem pra almoçar com a gente.

- é ele? - ela perguntou e eu concordei respondendo meu endereço.

Mesmo sem estarOnde histórias criam vida. Descubra agora