Mesmo sem estar

Uma proposta

Fui pra casa da minha mãe. Eu não estava bem. Eu precisava de ajuda. De apoio emocional. Já cheguei chorando e ela me abraçou e acalentou meu choro sem saber o que acontecia.
Horas depois, eu falei. Ela ficou tão feliz que quase me contagiou. Quando perguntou quem era o pai, eu falei que não queria falar sobre isso. Que eu precisa só que ela me apoiasse. Ela concordou em não saber quem era. E também implorei que mantivesse segredo por enquanto.
Eu ainda não sabia o que eu faria. Mas queria que Luan soubesse por mim.
E sobre ele, eu respondia o básico em suas mensagens. Não estava com cabeça pra ficar conversando como se nada tivesse acontecido.

Passei o dia lá e só voltei a noite para dormir. E no dia seguinte fiz o mesmo.
A minha mãe estava sendo tudo pra mim. E ela estava tão feliz que eu queria ficar pertinho dela o tempo todo. Alice também se sentia mais a vontade lá.

No terceiro dia eu desisti de voltar pra dormir e decidi ficar por lá mesmo. Mas não esperava que Luan fosse me ligar muito bravo.
- mas Luan eu estou na casa da minha mãe!
- Duda, fala a verdade!
- Meu Deus! - eu ri.
- Todo dia você passa o dia todo fora e volta só a noite! E hoje não voltou ainda, já é meia noite. E não pensa que eu não sei que você levou Alice pra aquele médico lá!
- Eu já disse que tô na minha mãe, Luan. Por Deus! Onde mais eu estaria com a sua filha?
- Posso falar com a Dona Eliza? - eu ri.
- É sério? Tá duvidando de mim?
- Por favor? - eu saí do meu quarto e bati na porta do quarto dela, que me mandou entrar.
- Mãe, será que você pode falar com o Luan pra ele acreditar que eu tô aqui? - ela pegou o celular rindo.
- Oi Luan, tudo bem filho? ... Eu tô bem, graças a Deus. A Duda tá aqui, viu. Ela e a Alice vão dormir aqui hoje, eu que pedi. ... Não se preocupa não, a gente tá passando um tempinho a mais juntas. Tá bom? Um beijo querido.
- Viu Luan? - peguei o celular e voltei pro meu quarto. - precisava? - ele suspirou.
- Desculpa amor, mas eu estava morrendo de medo de você estar com aquele cara.
- Por que eu faria isso?
- Eu não sei, eu só... eu vi vocês pelas câmeras de casa e fiquei pensando coisa. E aí você começou a de repente ir pra casa da sua mãe todos os dias...
- Desculpa não te falar que ia consultar Alice com ele. Mas ele conhece ela desde que ela nasceu. E ele só me ajudou a levar ela pra casa porque eu não estava bem, minha pressão caiu. E sobre eu começar a vir aqui, eu queria passar mais tempo com a minha mãe. - meus olhos foram marejando e eu tentando conter o choro. Eu não podia simplesmente falar  por telefone o que estava acontecendo.
- Desculpa, desculpa... eu viajei. Eu te amo tá bom? Fica aí na sua mãe o quanto você quiser, eu não devia tá duvidando assim de você. - eu funguei.
- Eu te amo também.
- Você tá chorando? Amorrr... ai meu Deus! Desculpa, não chora!
- Tô com saudade...
- Eu também, aguenta mais um pouquinho tá bom?
- Tá bom, vou dormir tá?
- Dorme com Deus, te amo.
- Te amo.

Eu fui dormir chorando. Estava com meu coração apertado e morrendo de saudades dele.

[...]

- bom dia filha, café?
- Bom dia! Quero sim. - sentei a mesa com Alice no colo.
- Alice vem com a Tia Liz? - Alice negou.
- De manhã ela fica mais enjoadinha mãe, deixa.
- Ai mas essa menina tá um grude, não pode não. - eu ri. - você tá com quantas semanas?
- Eu não sei mãe, não me atentei a isso. Mas o exame tá lá em casa, da pra ver.
- Busca lá pra gente saber.. Deve ter até a data prevista do parto!
- Tá bom, deixa só eu tomar café aqui...

Tomei café e deixei Alice lá com minha mãe e fui pra casa buscar o exame. Cumprimentei Joana e comentei que estava passando um tempinho com minha mãe. Depois fui direto pro meu quarto. Mas quando abri a gaveta que eu jurava ter deixado, não estava lá. Comecei a revirar as minhas coisas e não encontrava em lugar algum...
- está procurando isso? - quando ouvi e olhei, era a irmã de Bianca parada na porta do quarto segurando meu exame e logo atrás dela, Bianca. Os olhos fundos e escuros, o cabelo amarrado em um rabo de cavalo baixo. Aquela mulher não estava bem.
- O que você tá fazendo com isso? - ela riu.
- Eu sabia que tinha algo muito estranho em você. - Paula disse.
- Eu nunca nem troquei uma palavra com você, como pode dizer isso?
- Eu vi você e Luan trocando olhares no dia do jantar, eu vi você chorando, vi ele entrando pro seu quarto... E eu vou te dizer só uma vez! Eu não vou deixar você estragar o casamento da minha irmã. Como você ousa? - entrou e fechou a porta.
- Eu não sei do que você tá falando, me dá isso! - tentei pegar e ela afastou.
- Ah você sabe, não se faz... Eu liguei pro Luan e contei que um homem te deixou aqui em casa, nossa como Luan ficou bravo! Ele só podia estar te comendo às escondidas mesmo pra ter reagido daquela forma.
- Você tá louca, só pode. - eu falei rindo, tentando esconder o nervosismo.
- Ok, eu sei que você não vai admitir. Mas eu acho que você não vai por sua família em risco por causa de sexo né?
- Paula, do que você tá falando? - ela suspirou tirando o celular do bolso. Virou pra mim e me mostrou fotos da casa da minha mãe. Passou e tinha fotos minhas lá, fotos da minha mãe. - cara, isso é doentio! Você é louca! O que a minha mãe tem a ver com isso??
- Eu tenho uma proposta pra você... - colocou meu envelope e o seu celular com a foto da minha mãe na escrivaninha e tirou um talão de cheque do bolso e pegou uma caneta no meu porta-lápis. - quanto você quer? Vinte? Trinta mil? - esperou uma resposta e eu não disse nada. - cem mil da pra construir uma vida em outro lugar, não dá não?
- Eu não preciso do seu dinheiro.
- Você vai pegar o meu dinheiro e vai sumir daqui. E tem mais! Eu vou te indicar uma clínica pra você passar antes de ir.
- Você é podre!
- Se você não fizer o que eu tô mandando, ou se você PENSAR em contar pro Luan, eu vou ter que fazer coisas que eu não quero com a sua mãe... Ah! E traz minha sobrinha de volta.
- Bianca, você não vai dizer nada? - falei já chorando.
- Se eu não tive o meu bebê, você também não vai ter o seu. - meu coração palpitou tão forte nessa hora que eu só pensei em sair correndo de lá.