Festa

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- foi fácil? - Luan perguntou. Nós estávamos tomando café da tarde juntos na frente da piscina enquanto Alice tinha sua primeira aula de natação. Nós dois observávamos do lado de fora a professora e sua auxiliar com a pequena na água.
- Foi. - confirmei.
- Ele não tentou nada? Aceitou numa boa? - concordei. - Ou ele não gostava de você e eu tinha razão quando eu disse que ele não era homem pra você...
- Ou? - perguntei a outra opção.
- Ou você está mentindo pra mim. - eu ri de leve. - você tá mentindo pra mim, Maria Eduarda. - eu ri mais ainda.
- Lu, eu não quero falar sobre isso. Mas digamos que ele gostava sim de mim.
- Eu vou providenciar outro médico pra Alice.
- Tudo bem.

Eu fiquei pensativa um tempo. Mas logo decidi que não deixaria as palavras de Gab me abalarem. Ele não sabia da nossa história, por isso ele achava que era uma aventura.

[...]

Terça, dia seguinte, era o dia que Bianca chegaria. Eu estava ansiosa. A minha parte eu já tinha feito. Só faltava Luan cumprir com a parte dele e tudo ficaria bem.

Nós estávamos almoçando quando Bianca entrou.
- Luan? - entrou chamando. - ah, oi! - disse quando entrou na sala de jantar e nos viu. - vocês... estão comendo juntos? - perguntou estranhando. Realmente, eu nunca me sentia a vontade em comer na mesa da sala de jantar.
- Oi. - Luan levantou para cumprimenta-la. Quando ele beijou seu rosto, ela o olhou estranho.
- Tá tudo bem? - perguntou.
- Sim e com você? Como foi lá com seus pais? Quer almoçar?
- Eu vou tomar um banho... - ela disse e saiu. Luan terminou de comer e subiu para conversar com ela.
- É agora, dinda. - falei com Alice.

Não demorou muito pra Bianca descer as escadas gritando. Ela nunca se continha em uma briga. Gostava de gritar pela casa inteira.
- EU NÃO VOU TE DAR DIVÓRCIO ALGUM! Luan Rafael, eu juro que se você continuar com essa conversa eu pego a sua filha e eu sumo no mundo! Você nunca mais vai ver ela! Eu juro! - seu tom de voz era tão alto que eu os ouvia da sala de jantar.
- Entende, Bianca. Eu não quero mais estar casado com você.
- O que eu fiz pra você? Me diz! É por que eu ainda não consigo cuidar da Alice? Eu aprendo! Eu juro que uma hora eu aprendo! Espera ela crescer, eu não gosto de bebês.
- Bia, para por favor. Eu já avisei meus advogados, quero que isso seja amigável.
- Amigável? - ela riu alto. - Você me bombardeia DO NADA depois de uma semana de viagem com essa história de divórcio e ainda quer que seja amigável? - eles ficaram quietos por dois minutos. - Quem é ela?
- Para Bia...
- Quem é a vagabunda?? Luan, se eu provar que você está me traindo, a guarda da Alice é minha!
- Para com isso, para de tentar me atingir falando da minha filha...
- Nossa filha.
- Agora é nossa?
- Eu não carreguei esse bebê nove meses pra agora você se separar de mim e arranjar outra! Você vai continuar casado comigo.
- A gente nem se casou por amor, Bianca. Isso não te entristece?
- Não, eu tô muito bem assim, Luan. Eu não vou assinar divórcio algum. - disse e logo em seguida ouvi seus passos subindo as escadas. Esperei alguns minutos e fui até a sala. Luan segurava a cabeça e apoiava os cotovelos no joelho. Coloquei Alice no chão e ela foi até o pai. O abraçou e ele a pegou no colo. Eu só observei de longe.

A guerra se estendeu por duas semanas. Até Luan ir viajar. Todos os dias eles brigavam. Ele já não dormia mais no quarto deles. Eram trocas de farpas do café ao jantar. Luan passou um mês fora. Eu estava morrendo de medo de Bianca me maltratar mais do que o normal. Mas para minha surpresa ela estava fingindo que não me via.
Todos os dias eu e Luan trocávamos inúmeras mensagens carinhosas. Eu tinha inclusive trocado seu nome na minha agenda. Eu estava apaixonadinha esperando o momento certo pra ficarmos juntos. E quanto mais esperava, mais a gente ficava ansioso pra poder se pegar. Eu sonhava todos os dias com a noite que nós tivemos. Eram as minhas melhores lembranças.

Amor: eu chego amanhã à noite. Estou com tanta saudade de vocês...
Duda: a gente não aguenta mais também.
Amor: aguenta firme tá? Logo menos a gente vai estar juntos
Duda: não vejo a hora ❤️
Amor: eu te amo.

Eu fiquei minutos olhando aquele eu te amo sem conseguir responder. Meu coração acelerado, minhas mãos suaram.

Duda: eu também te amo.

Fui dormir em paz, sem saber que no outro dia toda essa paz iria por água abaixo.

Quando levantei no dia seguinte. Tinha uma movimentação enorme na casa. Eram muitos homens entrando com alguns móveis. Bianca estava no jardim coordenando tudo.
- Bianca? - eu me aproximei. - tá tudo bem?
- Sim, não se preocupe.
- Você vai dar uma festa?
- Ah, seu uniforme acabou de chegar! - disse pegando um cabide da mão de alguém. - esteja pronta na sala as 18h pra recepcionar os convidados comigo! Não esquece da Alice, nela pode vestir a melhor roupa que tiver.

Duda: tem algo acontecendo... - eu digitei para Luan, entrando e carregando o meu "uniforme". Pendurei no meu quarto e abri pra ver o que era. Era o típico uniforme de babá: conjunto de calça e camiseta + avental.
Amor: como assim? - eu abri a porta do quarto pra ir ver Alice e dei de cara com Bianca.
- sem celular no horário de serviço, Maria. - Bianca falou estendendo a mão para que eu entregasse pra ela. Ela sabia que eu não gostava do meu primeiro nome.
- Você não pode confiscar meu celular. - ri, achando que era piada.
- Não só posso, como vou! A festa é confidencial então não posso confiar em você. - eu olhei pra ela sem querer acreditar que ela faria aquilo. Por fim, desliguei o celular e entreguei.

Ela não sabia minha senha, o máximo que veria se ligasse ele era as notificações chegando. E mesmo assim ela não tinha como saber de nada, eu torcia.

Passei o dia sem contato algum com ninguém. Só cuidando da Alice enquanto a Bianca montava o jardim com várias mesas e cadeiras, aparentemente a festa seria grande. Era logo depois do almoço quando ouvi o telefone tocar. Corri pra atender.
- alô?
- Duda?
- Oi! - falei aliviada ao ouvir a voz de Luan.
- O que tá acontecendo? Por que não me responde? - ouvi o salto de Bianca se aproximando.
- A Bianca tomou meu celular...
- Ela o que? - ouvi ela coçar a garganta atrás de mim.
- Ela tá bem aqui. - ri nervosa e passei o telefone pra ela.
- Oi amor! - ela atendeu com cinismo. - é que eu estou preparando uma surpresa, não queria que soubesse. Ah e não se atrase hoje tá bom?

Eu saí, fiquei com Alice no quarto até dar o horário. Olhei pela janela e vi que estava tudo pronto lá embaixo. Ela com certeza estava aprontando alguma. Desci pronta com Alice no colo. Assim que desci, já tinha algumas pessoas na sala.
- oi filha! Estão atrasadas! - olhei no relógio, era 18:03. Ela pegou Alice do meu colo e foi apresentá-la as pessoas. Eu não fazia ideia de quem eles eram. Mas conforme ela foi apresentando Alice, eu fui descobrindo. Eram todos seus parentes. Luan ia ficar uma fera.
Eu nem preciso dizer que Alice não ficava no colo de ninguém, e a todo momento ficava esticando os braços pra mim. Ela não era acostumada a ver estranhos.
As pessoas iam chegando, cumprimentando Alice e Bianca e indo para os fundos. Ela não se deu ao trabalho de falar meu nome pra ninguém. E pra eles eu era invisível também. Aparentemente tinham todos o caráter duvidoso dela. Não custava falar um boa noite pra mim antes de tirar minha menina dos meus braços.
- você fica sempre perto de mim! - falou quando os últimos convidados foram pra área externa. - me segue o tempo todo com a minha filha, tá? - eu só concordei.

Mesmo sem estarOnde histórias criam vida. Descubra agora