Bianca

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Acordei assustada, sentindo algo no meu rosto. Quando abri os olhos, era Luan. Sorri contente ao vê-lo e me levantei pra abraçá-lo.
- você chegou! – falei feliz. Ele me apertou em seus braços por uns instantes. – vem, não quero acordá-la... – o puxei para fora do quarto e encostei a porta. Comigo levava a babá eletrônica.
- como ela esta? Ainda têm cólicas?- não, eu a levei ao médico e o remédio que ele receitou funcionou bem. Só que ela está tendo sonos leves ultimamente e qualquer coisinha já a acorda. – ele me encarava de forma admiradora sempre que eu falava de Alice. Eu não sabia bem se isso era sobre ele amar muito a filha ou sobre ele amar muito como eu falava e cuidava dela. Ou talvez um pouco dos dois. – Joana está de folga então eu fiz o jantar. Bianca saiu cedo e, bom, ainda não voltou.
- eu vi, frango com quiabo? – sorri.
- imaginei que fosse gostar.
- eu adorei, obrigado. – ele me abraçou outra vez.
- mas ainda nem comeu.
- mas tudo o que você faz é ótimo. – senti as bochechas queimarem como de costume. Eu não sabia receber elogios dele. Ficava vermelha sempre. – vou tomar um banho, já desço. – concordei. Ele beijou minha bochecha e foi para o quarto. Eu fiquei devaneando por alguns instantes. Eu amava esse carinho que ele tinha comigo. De dar beijinho no rosto e abraçar sempre. Mesmo que eu ansiasse algo mais que isso, amava.

Ouvi um barulho vindo da sala enquanto arrumava a mesa para o jantar. Então corri. Vi Bianca entrar com inúmeras sacolas sem conseguir segurar todas.
- vai ficar só olhando ou vai me ajudar? – falou rude, como sempre, e eu corri para ajudá-la.
- desculpa. – falei. Não pense que eu sou idiota ou algo assim por sempre tratá-la bem. Eu só queria me dar bem com ela. Afinal ela é a mulher do Luan, a pessoa que ele escolheu pra ficar. Eu queria mesmo ser amiga dela, afinal ela é parte da vida dele. E tudo o que eu queria era vê-lo feliz. – quer que eu coloque onde?
- no meu closet. – falou largando as sacolas ali mesmo para eu pegar e foi na direção da cozinha. Suspirei fundo antes de pegar as sacolas e subir. Bati na porta e entrei após ouvir Luan gritar que eu podia.
- meu Deus, o que é isso? – ele perguntou rindo. Tinha acabado de sair do banho, visto que vestia só uma toalha enrolada na cintura. Olhei admirada por alguns segundos. Seu corpo já não era o mesmo, nada de tanquinho e braços fortes. Mas eu particularmente o achava mais bonito agora. Ele não malhava desde o nascimento de Alice. Usava todo o tempo livre com ela. Tinha uma "pochete" aparente e o rosto bem cheinho. E eu o achava lindo assim.
- Bianca chegou. – seu sorriso se desfez.
- mas de novo? Ela não chegou cheia de sacolas um dia desses? Só sabe fazer compras? – me seguiu até o closet da madame.
- Lu, deixa ela. – falei, vendo que ele já estava ficando nervoso com essa situação.
- eu sei o que você vai dizer, Duda. Que isso ajuda ela a se sentir melhor e sair da depressão, mas ela vai me falir se continuar assim! – suspirei fundo colocando as sacolas em cima do balcão. O closet dela parecia uma loja de grife, eu juro. Era enorme e cheio de roupas caras. Muitas portas e espelho em todas elas. E acima, as bolsas caras ficavam organizadas. Um gabinete bem no centro do cômodo que tinha tampa de vidro e deixava suas jóias expostas, acima dele um lustre lindo cheio de pedras reluzentes. No chão, carpete bem macio e branquinho. Duas vezes por semana Joana tinha que limpar o carpete de ponta a ponta. No canto do closet, um divã rosa choque eu achava lindíssimo, mas nunca pagaria o valor que Luan tinha pago só em um sofá.
- até parece que se importa com dinheiro, Lu... – falei dando de ombros. Ele não se importava mesmo e eu sabia disso. E eu não queria que eles brigassem. Isso só a afastava mais da Alice.
- eu me importo com o fato de que pra gastar ela ta ótima, mas pra passar um tempo com Alice ela esta doente. – na minha opinião, ele não entendia bem como funcionava depressão pós parto. Não é como se ela fosse ser sempre depressiva, ela só tinha desenvolvido um sentimento ruim pela bebê. – ela esta lá em baixo? – assenti. – vou falar com ela. – saiu do quarto e eu me senti mal. Lá vinha mais uma briga.

Sim, eu me sentia muito mal quando eles brigavam. Me sentia mal por mim, por ele, por Bianca e principalmente por Alice.
Luan sempre ficava mal quando brigava com ela e depois pedia desculpas mesmo estando certo. Alice era a que menos merecia estar no meio disso tudo. Eles podiam pensar que não, mas ela sentia quando o clima não estava bom.

Após alguns minutos pensando, deixei as sacolas e desci lentamente. Pude ouvir Luan reclamar e Bianca chorar. Eu já estava cansada de ver esse teatro.
- estou farto! Você nunca está bem para ver nossa filha, mas para sair pra comprar você esta ótima, não é?
- você não entende! Eu não consigo! Aquela criança simplesmente arruinou minha vida! – Luan saiu apressado da sala de jantar e deu de cara comigo na sala de estar. Vi seus olhos cheios de lágrimas antes que ele subisse. – Luan... – ela o chamou chorando e então subiu também. Eu já tinha visto essa cena antes. Não fiquei nada surpresa. Eles iriam se resolver agora. Ou fingir que tinham se resolvido e continuar empurrando a situação com a barriga. Eles entravam no quarto e conversavam, se beijavam e fingiam estar tudo bem. Eu torcia, de verdade, para que um dia ela amasse Alice tanto quanto Luan. Assim eles poderiam ser felizes. Tudo o que eu queria era ver Luan feliz e já tinha aceitado há muito tempo que a felicidade dele não seria comigo.

Fiquei por um bom tempo ali na sala pensando nisso. Luan merecia a família que tanto sonhou. E eu poderia ter dado isso a ele. Suspirei fracassada e meus olhos encheram de lágrimas. Droga, eu não podia ficar me autoflagelando com isso. O que passou, passou. E eu jurei a mim mesma que apoiaria ele, não importasse com quem ele estivesse. Por isso que eu estava ali. Porque ele precisava de mim. Porque Alice precisava.

Sequei as lágrimas a caminho da cozinha. Liguei o fogo para aquecer a comida. Arrumei a mesa apenas para Luan e Bianca.
- então, o jantar está pronto? Transar dá uma fome! – olhei para a loira entrando na cozinha. Ela vestia a blusa que Luan vestia antes de subir. Apenas. Sorria feliz. Ela adorava jogar na minha cara a satisfação sexual deles. Apesar de não formarem uma família feliz, eles aparentemente se satisfaziam na cama. Afinal, sempre que transavam ela fazia questão que eu ficasse sabendo de alguma forma o quão bom tinha sido. Suspirei. Ela sabia do que tinha acontecido entre a gente e tinha essas atitudes pra me atingir. No começo eu realmente me sentia muito mal e os olhos enchiam de lágrimas na frente dela. Mas agora eu simplesmente ignoro.
- sim. – sorri fraco.
- Bianca! – Luan a repreendeu entrando. – vai vestir uma roupa. – ela sorriu pra mim, deu um selinho em Luan e saiu. – desculpa. – falou pra mim vindo na minha direção.
- não tem que me pedir desculpas.
- não vai jantar? – falou vendo a mesa. Neguei. – por quê?
- não estou com fome. – menti. – já podem se servir, vou ver Alice. – saí dali rapidamente e fui pro quarto da minha menina.

Mesmo sem estarOnde histórias criam vida. Descubra agora