Extraordinário

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Já fazia algum tempo que eu estava lá quando ouvi batidas na porta que me assustaram.
- Eduarda? Você ta aí? – levantei-me do chão rapidamente ao ouvir a voz do Luan. Olhei-me no espelho e era visível que eu chorava. – Eduarda? – ele tentou abrir a porta.
- oi, estou! – gritei.
- abre a porta! – eu passei as mãos no rosto como se fosse disfarçar a cara de choro e abri a porta. Ele tinha a cara de bravo, mas logo se desfez ao me olhar. – Duda... Desculpa! – ele entrou me abraçando. – eu não queria te fazer ficar mal, desculpa. – eu retribuí seu abraço.
- ta tudo bem.
- desculpa! – falou e beijou minha testa, antes de nos separarmos.
- não esquenta. A gente só finge que não aconteceu. – forcei um sorriso.

Nós descemos pro almoço. Eu comi pouco e logo saí da mesa. Fiquei brincando com Alice no jardim até Luan vir me chamar para irmos ao centro como tínhamos combinado mais cedo.
- mãe, fica com a Alice pra gente ir ao centro? – Luan falou quando passamos pela sala para sair.
- claro! Vem com a vovó bebê!
- Luan! – exclamei indignada enquanto ele me empurrava porta a fora.
- o que foi? – perguntou rindo.
- por que não levamos ela? Eu só vou comprar umas roupas pra passar uns dias.
- porque ela vai cansar, vai querer usar o banheiro, vai querer mamadeira... a gente vai sem ela mesmo, Duda!
- mas eu to aqui a trabalho, não posso deixar ela com seus pais pra ir as compras!
- você não ta aqui a trabalho, Dudinha. Ta aqui como minha amiga, ta bom? E mais, a Alice veio passar um tempo com meus pais! – eu suspirei me dando por vencida.
- ta bom...

No centro, fomos parados algumas vezes por fãs. Mas a maioria já estava acostumada com a presença de famosos por ali. Eu comprei o que fosse necessário pra passar uma semana na praia. Biquínis, shorts, regatas, lingerie foi o mais constrangedor de todos. Luan ficava fazendo piadinha pela loja e me mostrando lingeries sexys. Eu e todas as vendedoras em volta só ríamos. Comprei também uma mala pra colocar todas as coisas pra voltar pra são Paulo e um carregador pro meu celular.

- que tal? Pra hoje a noite! – Luan falou me mostrando um vestido vermelho.
- hoje a noite?
- é, nós vamos encontrar uns primos num restaurante.
- nós? – ri e ele assentiu. – não, eu fico em casa com a Alice.
- Duda, para de ser chata! Você vai adorar rever eles!
- rever?
- sim, boa parte você conhece. E para de repetir tudo o que eu falo.
- repetir? – brinquei e ri da sua carinha de bravo. – e a Alice?
- a Alice também vai. E meus pais também. Não vai querer ser a chata que ficou em casa né? – bufei pegando o vestido da sua mão e indo direto ao provador.
- achei exagerado. – falei mostrando o vestido pra ele. Era sexy demais. Eu não queria chamar tanta atenção num jantar com sua família.
- é, eu achei demais também, melhor outra coisa! Mas pra amanhã eu acho que ta perfeito!
- e pra onde vamos amanhã?
- pra um show!
- talvez se fosse preto... Esse vermelho sangue ta muito chamativo.
- concordo...

Saímos daquela loja horas depois e fomos direto pra casa. Tínhamos tudo o que eu precisava. Luan me ajudou a arrumar minhas coisas no quarto de hospedes. Alice dormia no seu quarto. Os pais de Luan viam um filme na sala de cinema e nos chamaram para assistir também quando acabássemos de arrumar.

Como demoramos muito, não tínhamos tempo pra ver filme. Tínhamos que nos aprontar pro jantar em família. Eu me arrumei rapidamente e fui aprontar minha princesa.

O jantar era num restaurante bem animado na praça do centro. A cidade pequena era uma graça. No meio da praça havia show ao vivo de um cantor anônimo. Ele cantava todos os as noites e em troca as pessoas doavam dinheiro. Ao redor da praça, vários restaurantes diferentes.

Nossa mesa era enorme. Vários parentes do Luan estavam lá, passando Alice de braço em braço. Ele não me apresentava como babá, apesar de eu quase dizer isso sempre. Eu era madrinha. "E a Bianca?" todos perguntavam. Luan respondeu inúmeras vezes que ela não pode vir, mas da próxima com certeza viria. Ele sempre dizia isso e ela nunca vinha.

No começo ele insistia para que ela fosse. Mas depois de um tempo e inúmeras desculpas que ela dava, ele parou de chamá-la.

- o mais bonito chegou! – alguém disse entrando e chamando a atenção de todos. O mais convencido tinha chegado: Victor. Dentre todos os primos de Luan, ele podia até ser o mais bonito, mas era muito convencido. O que, pra mim, o tornava desinteressante. E obviamente, ele sempre tentava algo comigo. Mas eu não cedia afinal ele não fazia nada meu tipo. Assim que eu vi que era ele que anunciava sua chegada, revirei os olhos dando uma golada na minha taça de vinho em seguida. Amarildo e Marizete notaram e riram, eu ri também pra disfarçar.

Depois de algum tempo de jantar, o bonitinho veio me chamar pra dançar. Eu recusei e ele, como um bom chato, insistiu. Eu o convenci de que mais tarde dançaria, mas não naquele momento. Ele concordou e saiu de perto. Logo vimos ele dançando com uma desconhecida.

- não precisa dançar com ele, se não quiser. – Luan falou baixo, deixando a conversa só entre nós.
- eu não vou. – ri. – seu primo é um chato. – ele riu.
- ele não te merece...
- eu não tenho nenhuma intenção com ele, relaxa. – falei e ri.
- você sabe que eu não to mais falando dele. – engoli seco. – Duda... – ele se ajeitou em sua cadeira, ficou de frente pra mim e passou o braço em volta dos meus ombros. – você é incrível! Eu não queria voltar nesse assunto agora, mas eu não consigo fingir que não to mal com isso. Ele... ele não te merece.
- como você pode afirmar isso sem conhecer ele? – falei com um tom triste. O encarei e percebi que ele só tinha voltado a esse assunto porque já tinha bebido o suficiente. Eu queria muito que Luan desse uma chance pra Gab e pudesse ver o quanto ele me trata bem e o quanto ele me considera.
- eu não preciso conhecer pra saber que ele nunca vai ter amar como eu te amo.
- será que você pode parar de ser egoísta um minuto? – senti os olhos encherem d'agua. – você não pode ter tudo e todas. Aceita Luan.
- eu sei o que você pensa, sei que acha que é mentira minha mas não é, Duda.
- você fica chato quando bebe, sabia?
- eu não to falando que eu te amo só porque eu bebi, Duda.
- as pessoas vão começar a pensar coisa da gente, para de falar disso e de olhar pra mim desse jeito. – falei tentando disfarçar. Ele se afastou um pouco e bebeu um gole de chopp.
- mas eu queria muito que acreditasse em mim. Esse "Gab" – falou com desprezo. – não tem nada a ver contigo.
- chega Luan. – falei sentindo que mais uma frase dele e eu choraria na frente de todos. Virei a taça cheia de vinho bebendo tudo de uma vez. Empurrei minha cadeira e saí da mesa. Por impulso, fui parar na praça com Victor. Interrompi sua dança com a outra garota, que pareceu ofendida quando ele pediu licença a ela pra dançar comigo.
- achei que não viria! – ele falou surpreso. Sua mão direita estava nas minhas costas e me mantinha próxima a ele, enquanto sua outra mão segurava a minha.

Minutos depois eu já estava arrependida. Ele era um chato. Só sabia falar de si. A única coisa boa que ele fez foi se oferecer pra buscar bebida para mim. Eu evitava olhar para onde Luan estava. Eu e Victor nos sentamos perto do chafariz que ficava atrás do cantor. Tentamos engatar algum papo interessante, mas ele sempre fazia o assunto virar ele contando algo extraordinário envolvendo alguma ação dele mesmo. Claro que só ele achava extraordinário. Eu só bebia e revirava os olhos quando ele não prestava atenção. Sempre que achava a historia muito desinteressante, pedia a ele pra pegar outra taça de vinho pra mim. E nessa acabei bebendo demais. Chegou uma hora que eu via as coisas meio turvas e era como se eu demorasse a entender o que acontecia. Alem de não ter controle algum sobre o que eu falava.


Mesmo sem estarOnde histórias criam vida. Descubra agora