Eu não esperava isso de você

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- Luan?
- Duda? Sou eu!
- ta tudo bem? – perguntei assustada. – aconteceu alguma coisa?
- a Alice... Ela ta meio...
- Luan? O que tem a Alice? Me diz! – falei nervosa. Gab veio até mim, me abraçou de lado e ficou me olhando.
- ela ta com muita febre! A gente já tentou dar remédio que tem aqui, mas ela vomita...
- eu... eu to indo ai agora!
- o que? Não, já ta tarde! Eu só achei que você deveria saber e me dizer o que eu faço.
- eu to indo! Tenta dar um banho e não deixa ela com muitas roupas! – desliguei o celular e fui rapidamente até onde tinha deixado minhas roupas.
- o que foi, Duda?
- a Alice ta doente... Eu sabia que não podia deixar ela ir sozinha, sabia! – falava apressada vestindo meu jeans. Só de pensar que algo estava acontecendo com minha menina, meu coração palpitava forte.
- fica calma, ele disse o que ela tinha? – ele perguntou vestindo uma calça. Eu nem me toquei que trocava de roupa na sua frente sem nenhum pudor. Eu só queria ir rápido ver minha pequena.
- febre que não passa... Preciso ir pra lá agora, Gab! – terminei de me vestir e saí do quarto.
- ei, me espera! Amor, eu vou contigo! – falou me seguindo e vestindo uma camiseta.
- é longe. Você não precisa ir...
- eu não vou deixar você ir sozinha assim, Duda. E mais, eu sou médico. Vou pegar um sapato e a chave do carro e nós vamos, ok? – eu concordei. – no caminho a gente compra remédio pra febre.

A gente passou numa farmácia e ele pegou alguns remédios que ele julgava necessário. Passou também no consultório pra pegar as coisas pra conseguir examiná-la. Logo estávamos na estrada. Eu ia dando as direções, sabia o caminho décor. Cerca de duas horas depois nós chegamos.

De longe pude ver Dona Mari sentada em um dos bancos que ficam na varanda da casa, ela nos esperava ali desde que havia liberado a abertura dos portões. Saí do carro e corri até ela.
- cadê ela? – perguntei meio desesperada.
- ta no quarto do Luan... Ele é o médico? – concordei.
- eu vou... – eu mal conseguia falar. Ela concordou e eu entrei, subindo diretamente pro quarto de Luan. Pude ouvir o choro baixo enquanto me aproximava. Luan a balançava lentamente e seu chorinho ia cessando. Ele estava de costas, mas ela me viu e levantou empolgada.
- Tuda! – me chamou esticando os braços e Luan virou imediatamente.
- você chegou! – ele disse aliviado e visivelmente contente.
- oi meu amor... – falei com Alice, a pegando no colo. – a madrinha chegou... Ta tudo bem agora. – ela me abraçou apertado e entre choros começou a conversar comigo. Perguntou onde eu estava, falou que tinha chorado muito e que o papai ligou pra Tuda. Tudo com seu jeitinho de falar que poucos entendiam.
- você... – Luan falou me olhando. – você ta linda! – eu suspirei e ri.
- você também não esta nada mal.
- onde... – ele foi interrompido por batidas na porta.
- licença... – Gab disse entrando.
- pode entrar! – falei.
- tio Abi! – Duda falou espantada e riu. Todos rimos com a surpresa dela.
- prazer, Luan. – Gab falou o cumprimentando. Luan só apertou a mão dele e permaneceu quieto.
- o tio pode examinar você? – Gab perguntou esticando os braços pra ela, mas ela negou, agarrando-se a mim.
- deixa o tio ver, meu amor! Você ta dodói?
- sim. – respondeu com manha.
- então deixa o titio ver, ta? – ela concordou. Eu sentei-me na cama com ela do meu lado e ele a examinou. Disse que não havia motivo aparente para febre e deixou um remédio. Se não melhorasse, era melhor voltarmos pra São Paulo. Marizete o ofereceu um café e ele aceitou. Eles desceram, deixando eu, Luan e Alice no quarto.
- então esse é o famoso tio Gab? – Luan perguntou e eu soltei um riso fraco.
- é ele... – falei tirando as sandálias de salto.
- e você acordou ele de madrugada pra vir aqui?
- é o trabalho dele, né... – desconversei, com medo de dizer que estávamos juntos. Juntei-me a ele e Alice na cama. – quando foi que a Alice começou a passar mal?
- hoje à tarde... Mas você tinha o numero de celular dele? – voltou a questionar sobre Gab e eu decidi dizer logo a verdade.
- eu e ele estamos saindo, Lu.
- como assim "saindo"?
- a gente saiu algumas vezes, a gente foi jantar ontem e hoje juntos.
- você... você gosta dele?
- é, eu gosto. – ele não falou nada. Eu não sabia o que se passava pela sua cabeça nesse momento. Estávamos os três deitados naquela cama enorme, num silencio nada agradável até que batem na porta.
- entra! – Luan gritou.
- licença... – Gab disse. – eu já estou indo, Duda. – eu me levantei da cama.
- te levo até a porta. – falei calçando o chinelo de Luan que estava nos pés da cama. – a madrinha já volta, meu amor. – ela concordou e eu saí.
- não quer passar o resto da noite? É melhor não dirigir cansado.
- não posso, tenho que trabalhar já já. Só vai dar tempo de voltar pra casa.
- desculpa por isso. – falei sentindo-me culpada.
- que isso, amor. Foi um prazer te trazer pra ver a Alice. E lembra que se ela não melhorar, é melhor vocês voltarem pra São Paulo. – concordei. – eu posso te beijar ou é melhor seu patrão não saber da gente? – eu ri antes de eu mesma beijá-lo.
- dirige com cuidado.
- pode deixar. – sorriu e se foi.

Eu voltei ao quarto de Luan. Alice estava quietinha deitada e Lu ao seu lado. Apaguei a luz e me deitei do seu outro lado, ela se aconchegou nos meus braços e logo dormiu.
- Lu?
- oi?
- devo deixar ela aqui ou levá-la pra dormir comigo?
- pode deixar... E pode ficar também se quiser.
- você ta bem? – referi-me a forma desanimada como ele falava.
- por que não estaria? – arqueei as sobrancelhas, surpresa com o modo como ele estava falando comigo.
- não sei ué... Ta triste?
- não, Duda...
- quando eu cheguei, você ficou feliz em me ver... Agora você não esta mais.
- e eu deveria estar feliz? Depois de ver você com um cara que vai te tirar da gente? – eu ri.
- oi? Me tirar de vocês? Você tirou isso de onde, Luan?
- você não quis vir por causa dele, com certeza. Pra passar um tempo longe da gente e sozinha com ele. Eu não esperava isso de você, Eduarda. – eu fiquei sem saber como reagir. Como ele podia dizer aquilo? Como ele podia falar daquela forma comigo?
- Luan, isso não... – ele me interrompeu.
- você não me deve explicações. Sua vida amorosa não é da minha conta.
- mas...
- boa noite. – ele falou e eu notei uma movimentação na cama. Provavelmente era ele virando de costas para mim e Alice. Suspirei tristonha. Ele tinha suposto algo que não era verdade. E nem me deixou me defender. Ele temia que eu abandonasse Alice? Eu jamais faria isso por um homem.

Um tempo depois, eu ainda não tinha conseguido dormir. Então me levantei. O dia já estava clareando. Sentei-me na varanda e fiquei observando a praia. Fiquei triste pelo modo como Luan havia me tratado. Logo eu que o amava e o apoiava em tudo. Sequei uma lágrima antes que ela caísse.

Comecei a refletir no que ele havia dito. Talvez ele estivesse só com medo de eu abandonar meu emprego e ele não ter mais alguém de confiança pra cuidar da Alice. Pensando demais, acabei pegando no sono na espreguiçadeira.

Acordei sendo carregada no colo por alguém. Decidi não abrir os olhos, imaginei que fosse Luan. Fui colocada na cama e logo ouvi o som da porta. Me aconcheguei e voltei a dormir.

Mesmo sem estarOnde histórias criam vida. Descubra agora