Você é o meu porto seguro

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Nós estávamos parecendo dois adolescentes apaixonados. Luan me acompanhou de mãos dadas até a porta do meu quarto e ficamos alguns minutos parados na porta trocando beijinhos.
- Eu vou indo, qualquer coisa você sabe qual é a minha porta, tá bom? - eu concordei. Estiquei-me até alcançar seus lábios e dei um selinho antes de entrar e fechar a porta.
A noite foi longa. Eu não conseguia pregar o olho, ficava pensando nos prós e contras da minha decisão. Olhei as mensagens de Gab com o celular no modo avião. Eu não tinha a intenção de respondê-lo. Ia deixar pra falar pessoalmente que não queria mais. Talvez fosse um erro? Podia ser. Mas o erro estava me causando borboletas no estômago, sorrisinho e suspiros. Eram sensações que eu achei que não ia sentir outra vez na vida.

Quando finalmente peguei no sono, quase amanhecia. Então dormi pouquíssimo. Logo acordei, tomei uma ducha e desci. Luan ainda não havia acordado. Alice estava com Marizete, mas assim que viu me deu os braços e fez um mini escândalo.
- eu acho que você devia vir mais vezes com ela, Duda. - Amarildo disse.
- É, ela não tem costume com a gente. - Mari falou tristonha observando a pequena no meu colo.
- Sabe o que é, Mari? Ela não tem costume com ninguém. A gente fica naquela casa o dia todo presas, eu e ela. Eu tento sair, ir ao parque, pracinha, as coisas perto. Mas ela não tem contato com mais ninguém além de mim e Luan.
- Por isso ficou doente um dia depois que chegou, foi quando caiu a ficha de que você não ia aparecer. - ela falou e riu. - arrumou foi uma filha.
- E como vai a Bianca? - Amarildo aproveitou a deixa para perguntar. - o Luan nunca fala muito. Sempre diz que ela tá melhorando, mas não dá muitos detalhes...
- Sabe seu Amarildo, eu acho que ela criou um bloqueio enorme. Por mais que ela tente, ela não tem afeto algum pela Alice. E não é falando mal dela, as vezes eu acho que ela queria que fosse diferente. Mas é mais forte que ela.
- Eu acho que se ela quisesse, se esforçaria mais. Ela nunca vem pra cá nas datas comemorativas.
- Ainda bem que o Luan vem sem ela, eu não a perdoaria jamais se ela afastasse ele de mim. - Marizete falou
Ouvimos os passos na escada e paramos de falar.
- Que tal hoje a gente ir no cinema? - Amarildo sugeriu, imagino eu que pra mudar de assunto. Luan entrou logo em seguida
- Bom dia família! - estava animado. Sorri o observando cumprimentar os pais com beijos. Veio até mim e beijou minha testa antes de pegar Alice dos meus braços.
- Bom dia filho... Eu acho uma ótima ideia. Tem filme novo? - Amarildo e Mari eram grandes fãs de cinema, não a toa que tinham uma sala em casa. Mas na cidade tinha um cinema incrível que eles adoravam ir. Pro meu gosto era um pouco caro, mas que era diferenciado era. As poltronas eram muito confortáveis e tinha serviço de garçom.
- Acho que tem aquele de super heróis.
- Vamos filho?
- Pode ser a noite? Agora queria ir naquela cachoeira com a Duda. - olhei assustada pra ele.
- Ah, pode! Claro!
- Que cachoeira? - ri. - você não me disse nada.
- Surpresa! - piscou pra mim e eu ri.

[...]

- Pegou tudo filho?
- Peguei mãe... - Luan respondia pela terceira vez.
- Cuidado lá tá? Me dá a Alice, duda! - eu corri com a menina nos braços. - Eu vou pegar vocês! - Alice ria no meu colo enquanto Mari corria atrás da gente. - me dá aqui essa menina!
- Não dou não! Toma Luan, foge! - joguei ela nos braços de Luan e ela dava uma risada muito gostosa.
- Bora papai, bora! Corre vó - Luan disse correndo em círculos.
- Chega que a vó não tá podendo correr tanto! - ela disse ofegante.

Luan entregou Alice pra Mari e nós entramos no carro. Eu ficava olhando pra trás enquanto o carro se afastava da casa.
- Ei! - ele me chamou e eu virei pra frente. - minha mãe vai cuidar bem dela, para com isso.
- Eu sei, só estava olhando...
- São só algumas horinhas, ela não vai adoecer igual aquele dia.
- O que passou na nossa cabeça de achar que ela ficaria bem sem mim por uma semana? A gente nunca passou um dia longe. - falei rindo.
- Eu prefiro nem falar o que eu penso que passou na sua cabeça. - disse revirando os olhos e eu ri.
- É sério isso?
- Tá rindo por que?
- Porque você jura que eu não vim por causa do Gabriel mas não teve nada a ver.
- Ah é? Nada a ver? - dei de ombros. - então por que a senhora tava lá na casa dele quando eu liguei de madrugada?
- Coincidiu de ele me fazer um convite e eu aceitar afinal eu estava triste sozinha naquela casa.
- Isso lá é convite que se faça pra mulher? De dormir na casa de estranho. Olha Maria Eduarda, ce num me amola mais com essa história não viu? Morreu assunto. - eu ri demais da sua indignação. - eu num devia era ter te deixado lá, isso sim.

Nós fomos até uma parte de carro e depois pegamos uma trilha de alguns minutos. Até chegarmos na tal cachoeira.
- a gente já veio aqui, né? - me dei conta quando olhei a paisagem.
- Achei que não fosse se lembrar. - disse colocando a mochila no chão. Já foi logo tirando a roupa. - vai ficar só olhando? - ficou só de sunga e saiu correndo pra se jogar na água. Eu comecei a me despir logo em seguida.

[...]

Após minutos brincando na água igual duas criancinhas, nós saímos pra comer os lanchinhos que Mari tinha mandado para nós.

- Duda...
- Diga!
- Por que você queria tanto ir embora?
- Como assim?
- Naquele dia, que a Bianca te xingou...
- Ah! - exclamei me lembrando. - você ainda pergunta o porque? - ri.
- Eu sei que ela te tratou muito mal aquele dia, mas era só por isso ou tinha mais alguma coisa acontecendo? - eu deitei minha cabeça no colo dele e me aconcheguei antes de começar a falar.
- Aquele dia foi a gota d'água. Ela sempre me tratou mal. E por mais que eu ame a sua filha, e você sabe que eu amo muito, eu não posso viver o resto da minha vida presa na sua casa, sendo humilhada pela sua mulher. - desabafei.  - além de tudo, o que mais doía era saber que eu nunca ia deixar de amar você e você nunca ia me ver assim.
- Você não percebeu né?
- O que?
- Quando você disse aquele dia que ia embora, eu disse que ia te fazer ficar. - alisava meus cabelos enquanto falava. - eu não sabia que você sentia alguma coisa por mim, por isso eu sempre te respeitei e respeitei a Bianca. Mas eu não lembro de ter passado um dia se quer sem pensar em você. Sem pensar em chegar em casa e ver você, perguntar como foi o seu dia com a Alice... e quando você disse que ia embora, eu entrei em pânico. Você é o meu porto seguro naquela casa. E eu ia te fazer ficar de algum jeito, eu tinha um mês pra conseguir.

Mesmo sem estarOnde histórias criam vida. Descubra agora