𝐀𝐍𝐉𝐎𝐒 𝐂𝐎𝐌𝐎 𝐕𝐎𝐂𝐄❜ 𝗍𝗈𝗃𝗂 𝖿𝗎𝗌𝗁𝗂𝗀𝗎𝗋𝗈

Machucados

E estava funcionando. Não era mais a mesma. Tornara-se uma mulher diferente.
Sentira uma mudança interior em Milão, e mais ainda ali, naquela parte encantadora da Itália. Como ele sabia que iria gostar do lugar? Que despertaria outro lado de S/n que desconhecia?

Ele estava mudando sua vida, seus pontos de vista em relação à vida. E por alguns segundos, ela teve a certeza de que nunca desejaria que aquele período acabasse.

O café da manhã consistia de diversos tipos de pães doces com cappuccino. Pensou que se morasse lá por qualquer período de tempo, ficaria tão rechonchuda quanto á governanta de Toji. Não que os pães não fossem deliciosos, mas estava surpresa que não pedira ainda ovos com bacon.

Depois do café, exploraram os jardins, e finalmente chegaram à beira do lago e a um pequeno barco ancorado ali. Toji a ajudou a entrar, antes de ligar o motor e guiar a embarcação para longe da praia.

No começo ficou silenciosa, totalmente envolvida pela vista das propriedades magníficas que viam enquanto passeavam. Mais acima nas montanhas, havia casas mais modestas, vilarejos inteiros. E acima destas, acima de tudo, o céu era o mais azul que já vira, refletindo na água, que parecia agradável o bastante para nadar.

— É tudo tão lindo — exclamou com um suspiro.

— Inclusive você — murmurou ele.
Por um breve segundo, lembrou-se que Toji era seu chefe. Mas era também seu amante! Não era? Seu corpo esquentou com o pensamento, e não percebeu que os próprios olhos brilhavam.

— Por que sempre se escondeu atrás de roupas desalinhadas?

A pergunta inesperada a surpreendeu.

— Acho que sabe a resposta.

— Por causa de seu pai. — Foi uma declaração, não uma pergunta. — Por que não o deixaram? Não teria sido a atitude mais sábia?

— Parece tão fácil, não é? Simplesmente deixar o monstro para trás. Não podíamos. Ele... Ele... — S/n engoliu em seco. — Ele nos ameaçava. Não sei o que teria feito se tivéssemos tentado, mas temíamos por nossas vidas. Não que fossem muito boas...

Toji praguejou.

— Ainda bem que seu pai está morto, porque eu iria pessoalmente...

— Toji, por favor. — Pôs uma mão no braço dele. — Não devia ter contado nada. É um assunto muito privado e doloroso. E não quero mais falar disso. — Porque se falasse, acabaria contando sobre seus problemas de dinheiro, e sabia que não podia.

Ele fechou os lábios, mas era evidente que não estava satisfeito por encerrar o assunto.

— Foi por isso que tentou criar uma aparência discreta? Para se manter longe de seu caminho? Não queria que soubesse que tinha uma filha linda. E isso a deixou com medo de todos os homens.