Olhou para o minúsculo visor, recusando-se a crer no que via. Não podia ser verdade. Mas era. Soubera antes mesmo do exame que apenas confirmava seus medos.
Escorregou para a beirada da cama, sentindo frio de repente. Estava grávida.
Como aconteceu, não fazia idéia. Toji sempre fora muito cuidadoso. As batidas de seu coração ecoavam tão altas em seus ouvidos que eram ensurdecedoras. Um bebê!Um bebê que tomaria tempo e dinheiro. Como poderia vestir e alimentar uma criança quando quase todos os centavos que ganhava iam para pagar a dívida?
Por favor, Deus, não deixe que seja real, rezou. Não deixe acontecer. Mas a verdade estava ali na sua frente. Nada podia ser mais real.
Toji não gostaria de ser tolhido por um filho... Não avisara que não pretendia brincar de família feliz? Podia imaginar a sua descrença quando contasse. Poderia até mesmo culpá-la. Não era isso que os homens faziam? Alguns, pelo menos.
Mas S/n precisava se concentrar no que faria agora. Uma vez que teria de deixar o trabalho, não via saída para suas dificuldades financeiras, exceto se mudar... Para um lugar em que o agiota não as encontraria. Caso contrário, como sustentaria um bebê, quando o vigarista tirava todo o seu dinheiro?
Lágrimas rolavam por suas faces enquanto ficava sentada ali, olhando para o resultado do exame, desejando que mudasse. Mas não havia poder na terra que fizesse aquilo mudar. Precisava encarar o fato de que ia ser mãe, com todas as complicações envolvidas.
Como contaria à sua própria mãe? Como admitiria que as, colocara numa situação ainda mais séria? O futuro parecia desanimador. Mesmo se mudassem e escapassem das garras do agiota, não sobrariam economias para recomeçar. Um futuro nada promissor.
Esperou até aquela sexta-feira para contar a novidade a Toji. Habituara-se a jantar na casa dele. Sempre tentava persuadi-la a passar o fim de semana, mas não passava, insistindo que não podia deixar a mãe sozinha. Sempre, mas sempre, terminavam na cama, e era muito tarde quando voltava para casa.
Naquela noite, sentiu-se nervosa, e começou a brincar com a comida. Toji não ficaria feliz; isso era certo. Sabia que não a via como uma figura permanente em sua vida.
Deveria sair agora e não contar nada? Exceto que dentro de alguns meses ele perceberia de qualquer modo. Não seria possível esconder a gravidez.
⏤ Algum problema? — perguntou com expressão preocupada. ⏤ Está brincando com o frango no prato nos últimos cinco minutos. Não se sente bem? — Estendeu a mão na mesa e tocou a dela. ⏤ Pareceu um pouco pálida a semana toda. Está com alguma virose ou algo parecido?
Finalmente olhou para ele e sorriu, ignorando o friozinho na barriga, tentando parecer tão natural e alegre quanto possível.
Talvez se parecesse feliz, ele ficasse feliz.
⏤ Tenho uma novidade para você.
⏤ Conte-me. — Sorriu Toji, na expectativa. Era agora ou nunca.
⏤ Estou... Grávida. — Não havia outro modo de dizer. ⏤ Estou esperando um filho seu.
Não pareceu feliz. A expressão era de total descrença, e a olhou fixamente, fazendo com que tremesse por dentro.
⏤ Não pode ser.
⏤ Acho que devo saber se estou grávida ou não — disse, tentando ignorar sua reação. Era um choque para ele, como havia sido para ela. Toji precisava de alguns minutos para se recuperar. Rezou para que fosse esse o caso. Assim que as palavras saíram dos lábios dela, percebeu que deveria tê-lo preparado. ⏤ É verdade, Toji, vou ter um filho seu.
Prendeu a respiração enquanto esperava uma resposta, e não gostou do que viu. Ele franziu o cenho numa expressão carrancuda, estreitando os olhos e a fitando como se fosse uma completa estranha, contando algo que não queria ouvir. Não havia mais sinal da compaixão ou do calor presentes ali segundos atrás. Nada além de fria incredulidade. Era pior do que qualquer coisa que ela pudesse imaginar.
⏤ Diga que não é verdade. — O corpo inteiro dele estava tenso, os olhos prateados e perigosos.
O coração de S/n começou a bater descompassado. Era quase como se falasse que não queria o filho deles. Que seria a coisa mais cruel do mundo. Cruel demais até mesmo para contemplar. Sabia que fora ferido no passado, enganado pela esposa, mas mesmo assim...
⏤ Fiz o teste — disse ela com firmeza, mantendo os olhos nivelados com os dele. ⏤ Estou decididamente grávida.
Ouviu-o ofegar enquanto se virava para olhar pela janela. Ela viu o quanto seus ombros largos estavam tensos.
⏤ Tem certeza que é meu?
Antes que pudesse responder, ele se virou e ficou chocada pela luz estranha que brilhava em seus olhos.
⏤ É claro que tenho. — Olhou com descrença. ⏤ Como pode sugerir que estive com outra pessoa? Ensinou tudo que sei sobre relacionamentos, sobre confiança, sobre fazer amor.
⏤ Amor? — Atirou a palavra no ar como se ela não existisse. ⏤ Não acredito em amor... Não mais. Tivemos sexo... Sexo do bom.
Embora entendesse seus motivos, as palavras ásperas dele ainda doíam.
⏤ Não sou como Melanie, Toji. — Manteve a voz calma. ⏤ Posso afirmar que não estive com outro homem.
⏤ Vi você nos braços de outra pessoa.
⏤ E disse quem era. Por que iria querer outro homem quando tenho você? — Era duro acreditar que Toji pensasse que fora capaz de traí-lo. Não era como a ex-mulher dele, nunca seria. Não sabia disso?
Ela sentiu como se o mundo inteiro... Seu mundo novo e bonito... Desmoronasse aos seus pés. Tudo que tinham construído juntos sendo demolido, porque Toji não aceitava que estava grávida de um filho seu. Será que pensava que estava feliz com isso?
Era uma luta até mesmo respirar. Será que ele pretendia o tempo todo se divertir à sua custa, e depois descartá-la, como fizera com outras mulheres? E agora que havia anunciado a gravidez, aquilo colocava um peso diferente nas coisas.
Toji ensinara mais sobre ela do que jamais teria descoberto de outra forma. Ele a fez ganhar confiança. E agora jogava tudo aquilo em sua cara. O pai estava certo. Ela era uma criatura inútil. Vendera o corpo... E para quê?
As lágrimas finalmente brotaram, e escondeu o rosto para que não a visse. Não queria ser acusada de tentar despertar piedade.
Isso era a última coisa de que precisava. O que queria era que Toji aceitasse que teriam um bebê. Queria que a confortasse e prometesse ficar ao seu lado. Precisava dele.
Não queria enfrentar tudo sozinha.
A mente de Toji estava em convulsão. Não queria filhos. Amor, casamento e família feliz não eram para ele. Tentara uma vez e não dera certo. Jurara nunca mais se casar.
Fechou os olhos.
Algo saíra terrivelmente errado, e precisava de tempo para pensar.
O mundo girava fora de órbita. Era difícil absorver o que acabara de ouvir. Queria ficar sozinho.
⏤ Falaremos novamente sobre isso mais tarde — disse, tentando permanecer calmo. ⏤ Seria melhor que partisse. — Falou no seu celular e, segundos depois, S/n estava sendo levada pelo motorista.
[...]
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𝐀𝐍𝐉𝐎𝐒 𝐂𝐎𝐌𝐎 𝐕𝐎𝐂𝐄❜ 𝗍𝗈𝗃𝗂 𝖿𝗎𝗌𝗁𝗂𝗀𝗎𝗋𝗈
Fanfiction𓏲𝐀𝐍𝐉𝐎𝐒 𝐂𝐎𝐌𝐎 𝐕𝐎𝐂𝐄"ꪶ﹆ཻ⁚ Onde até uma viagem de negócios à Itália se torna sua ruina. O fascínio se torna cada vez mais irresistível, e poucas horas depois, S/n Gilmore é incapaz de dizer não quando Toji Fushiguro a seduz. "Não a n...