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Aos olhos de Vittor
Para deixar finalmente alguém para trás, é necessário desapegar-se de tudo o que o faz lembrar-se da pessoa. Necessário desprender-se de todas as memórias.
Não queria me esquecer de Evan, não de verdade. No entanto, sentia que o veredito já fora dado, e nós havíamos perdido o jogo, deixado que nossos sentimentos se perdessem numa ilha deserta.
Não havia explicação lógica para que nossos caminhos se separassem, tampouco, explicação convincente para que as coisas tenham acabado da maneira que acabaram. Tudo o que sei é que foi assim; era assim que devia ser. Acostumar-me com a ideia de viver sem Evan era no mínimo, difícil, mas não impossível. Eu espero. Todavia, algo dentro de mim dizia que Evan sempre faria parte de minha vida, eu querendo ou não.
Antes de ir, eu queria despedir-me. Queria poder olhar naqueles olhos castanho-claros nem que por uma última vez. Queria vê-lo sorrir. Abraçá-lo para sentir seu corpo... Nem que por uma última vez. Mas eu sabia que não conseguiria. Nunca fui bom de despedidas, e não era com Evan que seria. Eu simplesmente desapareceria da vida dele; era o que tinha de fazer para parar de atrapalhá-lo e fazê-lo sofrer. Uma lembrança vaga do México me fez pensar que sempre destruo o que toco. Então, talvez eu não devesse nunca mais tocar ninguém.
Fora chegado o momento de seguir em frente, e deixar cada qual cumprir seu rumo, sua caminhada.
Nessa noite fria, os ventos uivavam em melancolia, e mesmo a lua se recusara a brilhar. Sentei-me numa cadeira em frente à mesa, e com a caneta em mãos, decidi escrever uma carta... A primeira e última carta que faria para Evangelista, o amor da minha vida.
Era hora de segurar meu choro. Afinal, não iria querer encharcar minhas últimas palavras para Evan, as últimas palavras antes de sair de sua vida de uma vez por todas. Após isso, mudaria de escola, e até de cidade, talvez, e nunca mais surgiria em sua frente. Nunca mais atrapalharia sua felicidade.
Comecei a escrever.
21/06/1997
Querido Evan,
Ainda ontem, ao acordar, sabe qual foi a primeira coisa que me veio à cabeça? Um corvo. Uma mensagem de penas e ossos, para saber que você não está esquecido aí sozinho.
É estranho, não é? Como as coisas tinham que acabar? Finalmente nos damos conta de que a vida não é um conto de fadas, e que o "felizes para sempre" nem sempre se aplica a realidade. Fui feliz com você, admito. Fui feliz em todos os momentos em que estive contigo, mané.
Almas gêmeas estão destinadas a se encontrar, mas nem sempre a ficarem juntas. Eu rezo para que fique bem, Evan. Rezo também para que em nossa outra vida, nossa próxima reencarnação, nós nos encontremos de novo, e que dê certo dessa vez.
Ainda ontem, antes de dormir, sabe qual foi a última coisa que me veio à cabeça? A última coisa antes de tudo se escurecer e de eu apagar? Você.
Tem sido você, Evan, desde a primeira vez que te vi. Foi você o motivo de meus melhores devaneios e de meus pensamentos impuros. Foi você o único a fazer meu coração ter sensações que nunca sentira antes. Foi só você que amei, Evangelista. Você e mais ninguém.
Desta vez, não serei egoísta. Porque sei que você mais do que ninguém merece ser feliz. Quero que vá em frente e siga sua vida. Sei que, assim como eu sempre te levarei em meu coração, você sempre vai me amar. Mas, não prenda o resto de sua vida a isso. Eu posso ter ido, mas não quero vê-lo chorar, não quero vê-lo sofrer. Quero que aproveite e viva intensamente cada segundo que passar.
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Querido Evan - Com Amor, Vittor | ROMANCE GAY
RomanceSe quiser o amor, primeiro terá de passar pela dor. Até que ponto estaria disposto a ir por quem ama? Em uma escola de ensino médio na Espanha de 1997, Evan, que é filho de uma professora homofóbica, questiona sua própria sexualidade ao se deparar c...