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Aos olhos de Evan
Mesmo que três dias já houvessem se passado, eu ainda não sentia vontade alguma de levantar da cama. Nem sabia ao certo se um dia levantaria outra vez. Meu quarto escuro, trancado, era minha zona de conforto. Somente desse modo eu podia tentar reorganizar meus pensamentos, e tentar me conformar com a sensação de ser trocado, com a sensação de rejeição.
Não queria ver ninguém, e muito menos falar com ninguém. Até a comida era deixada atrás da porta de meu quarto, e eu só a apanhava rapidamente e tornava a fechá-la de novo. Eu sentia uma tristeza tão profunda, que tinha medo de uma depressão ter início. Ainda assim, não queria desabafar. Nem com meu pai, e muito menos com minha mãe, porque sabia bem o que diriam: Torne-se homem.
O que era o amor? Uma pergunta simples, mas que não possuía uma resposta concreta. Ouvi dizer de alguém, certo dia, que o amor era colocar as necessidades de alguém acima das suas. Você saberia que o amava se, mesmo com todos os motivos para desistir dele, não desistisse. No entanto, como não ceder quando tudo e todos apontam para isso? Se o amor cura, porque dói tanto?!
Era irônico como as coisas haviam acabado. Parecia que o universo e o destino conspiravam contra mim. Ou melhor, contra "nós". Eu tinha certeza que, em toda a minha vida, só havia amado uma pessoa, Vittinho. Será que já era mesmo o momento de deixá-lo ir? Será que fora eu o culpado disso tudo? Perdê-lo era muito doloroso, mas amá-lo, parecia ser ainda pior.
Mesmo após três dias, minhas lágrimas ainda rolavam soltas por minha cama, e meu coração doía de um modo que nunca doera antes. Eu definitivamente não possuía motivos para me levantar.
Não é adorável ficar sozinho?
Batidas fortes na porta de meu quarto tiraram-me de meu devaneio, e eu reparei nela. Por debaixo pude ver uma sombra, uma silhueta masculina. Fechei o punho, com ódio. Apesar de minha mágoa constante, minha ira por Nathan era maior. Meu próprio irmão... Como pôde?
– Vá embora! – respondi, com voz cortante. – Já disse que não quero te ver. Não vou te ver e nem falar com você nunca mais. Você não tem a mínima noção do mal que me causou... Do que me fez sentir.
As batidas continuaram. Dessa vez, mais fortes. Sentei-me na cama, e balancei a cabeça de modo incrédulo. Esse cara não desiste nunca? Nathan havia tentado falar comigo nos últimos dois dias, mas eu ainda não estava pronto para olhá-lo nos olhos, estava fragilizado demais. Quando de novo bateu impacientemente em minha porta de madeira, tive de me levantar. Era hora de encará-lo. De dizê-lo algumas verdades.
Caminhei até a porta, e abri-a bruscamente, com pesar e ardor no olhar. No entanto, ao invés de Nathan, era meu pai a me encarar com um olhar inteligível.
– Você está acabado, Ian. – fez três estalidos com a língua. – Está um caco.
Virei o rosto, para que ele não enxergasse minhas fraquezas, minhas dores. Eu tinha medo de ser julgado. Muita coisa já estava mal na minha vida, não queria mais um problema.
Meu pai entrou em meu quarto, e fechou a porta detrás de si. Caminhou vagarosamente para minha cama e sentou-se, me convidando a ficar de seu lado em seguida.
– Quer conversar? – perguntou-me.
Eu estranhei, em primeiro lugar. Meu pai nunca conversara sobre sentimentos comigo, nem com ninguém. Ele sempre apresentara rigidez e, assim como minha mãe, eu achava que ele não se importava com o que eu sentia.
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Querido Evan - Com Amor, Vittor | ROMANCE GAY
Lãng mạnSe quiser o amor, primeiro terá de passar pela dor. Até que ponto estaria disposto a ir por quem ama? Em uma escola de ensino médio na Espanha de 1997, Evan, que é filho de uma professora homofóbica, questiona sua própria sexualidade ao se deparar c...