19 - Navegando - Capítulo Final

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Aos olhos de Vittor

O porquê de eu ter vindo?

Nosso diário está precisamente próximo de seu final, e eu definitivamente não podia deixar que nossa história acabasse daquela maneira. Não podia perdê-lo, porque nunca mais seria o mesmo sem ele. E sabia que, pelo o mundo, nunca encontraria ninguém igual Evan. Em outra vida, talvez? Demoraria tempo demais; e não só eu, mas também você, meu caro leitor, não gostaria de esperar. Certo?

Ignorando os murmúrios e exclamações da multidão de convidados, continuei fitando Evan no fundo de seus olhos. Ah, como senti falta daqueles olhos profundos e hipnotizantes, daquele cabelo que deveria estar desarrumado; daquele corpo, daquela presença.

O mané ficou parado. Estava em transe, em choque. Sem saber o que fazer ou falar. Apenas continuou ali, quieto, me olhando com um sorriso bobo no rosto. O sorriso mais belo que o mundo poderia presenciar. O sorriso pelo qual eu vivia, porque era o mais lindo que já existiu. Não pude deixar de sorrir de volta, visto que o motivo de meu sorriso estava ali, em minha frente. A razão de minha felicidade, o meu destino final.

Evangelista finalmente evadiu de seu transe, e desceu lentamente as escadas, vindo em minha direção.

A cada passo dado, podia sentir meu coração palpitar devagarzinho. A sensação que uma flor sente ao desabrochar invadiu meu peito, aquela mesma sensação libertadora e ardente. Quando ficou de pé em minha frente, éramos o ponto de atenção de todos ali, que boquiabertos nos observavam. Inveja deles, digo.

– Já havia perdido as esperanças, Evangelista? – perguntei, em um sorriso ousado e perspicaz.

– Sabia que viria. – respondeu-me simplesmente, com uma piscadela. – Amores como o nosso, não se esgotam.

– É claro que sabia. – concordei. – Nunca dejaría de amarte. Para ficar contigo, meu parceiro, te procuraria em todas as outras vidas. Eu só precisava de uma mensagem, de um sinal de que eu ainda vivia em sua mente. – Evan assentiu com a cabeça, e seu sorriso corado revelou suas covinhas. Elevei minha mão, e dessa vez fora eu a bagunçar seus cabelos. – Agora está certo. Agora parece mais com você.

Não precisou de aviso, e Ian Evangelista aproximou-se rápida e ardentemente de mim, juntando meu corpo ao seu, puxando-me pela cintura. A sensação que me invadiu quando tocou meus lábios soou como mil sóis se explodindo. Nossas línguas dançavam em sentimentos profundos e avassaladores. As chamas de nosso amor estavam mais acesas e brilhantes possíveis, podia sentir em meu coração. Beijou-me ali, debaixo do teto daquela igreja, frente a tantos outros que poderiam conhecer o amor, mas não um como o nosso. Era um amor que demoraria décadas, séculos e milênios até surgir outro igual. Um amor que nascia entre duas pessoas, a cada dez milhões.

Quando nosso beijo, enfim, cessou, avistei Amaya sorrir e aproximar-se, entregando-nos seu buquê de flores. Assentiu com a cabeça e doou-o a Evan, que recusou.

– Calma lá, nossa hora ainda vai chegar. Mas, não agora! – sorriu, e virou-se para mim, arqueando as sobrancelhas.

– Concordo com o mané. Chega de casamentos por hoje. – ri divertidamente, e Evan jogou o buquê para a multidão do lado direito. Parece-me que fora sua mãe a apanhá-lo dentre tantas outras mãos.

Amaya aproximou-se de mim, e me abraçou calorosamente. Sentimentos verdadeiros foram os que eu senti, parecia uma Amaya totalmente diferente, uma de verdade, que não precisava mais interpretar papéis.

– Cuida bem dele, por favor. – sussurrou baixinho.

– Pode deixar. – assenti quando se afastou, dando-lhe duas leves tapinhas em seu ombro.

¡¿QUÉ SIGNIFICA ESO?! – um homem bigodudo que deveria ser pai de Amaya levantou-se dentre a multidão.

– É O VERDADEIRO AMOR, CARLITOS. O VERDADEIRO AMOR. – bradou o pai de Evan, do outro lado da igreja. Fora impressão minha, ou o vi chorar?

Evangelista segurou em minha mão, e desse modo, deixamos aquele templo afora. Não nos importamos com a discussão que se iniciara, nem com nada que não fosse da nossa conta. Afinal, tudo sempre fora apenas sobre mim e Evan. Era sobre nós, só nós.

De mãos dadas, caminhamos pelas ruas daquele bairro desconhecido. Sentia que com ele, não havia nada impossível. Tendo superado tsunamis e tempestades, o impossível parecia ser algo muito fácil de alcançar para nós.

– Que bom que sua mente te levou até lá hoje, Vittinho. – comentou Evan. – Não sabia o que seria de mim sem você, novato.

– Não foi minha mente que me levou até lá hoje, mané. – sorri. – Foi meu coração. Porque ele insiste em te amar, sempre insistirá. Lutar por você nunca poderá ser uma causa perdida. Tem sido você desde o dia que te conheci. – pisquei para ele, que bagunçou meus cabelos.

– Te digo o mesmo. Por você, faria o que fosse preciso. Ainda que tivesse de fazer mil vezes. – passou o braço sobre meus ombros, e um djavú percorreu minha mente, lembrando-me dos primeiros momentos que tivemos. – No início, eu te assegurei que nos daríamos muito bem juntos, lembra?

– E não é que nos demos mesmo. – ri alegremente, com lembranças nem tão antigas assim. – O que quer fazer agora, Evan? Digo, aonde quer ir? – meus olhos brilharam de curiosidade, enquanto encarei aquele olhar meigo castanho-claro.

– Contanto que estejamos juntos, importa para onde vamos? – perguntou, com uma piscadela.

Continuamos a navegar sobre as ruas claras da Espanha. Até onde o vento nos levasse, para um lugar no qual o sol não se posse, e que o tempo não passasse. Um lugar em que teria mais tempo para o amor de minha vida, porque precisaria de uma eternidade, e confesso, mais alguns minutos.

E assim, terminam as páginas desse querido diário. No entanto, nossa navegação só está recomeçando. Dessa vez, com mais intensidade, com um barco mais poderoso, alimentado com chamas inexpugnáveis de um amor infindável, o qual seria eterno enquanto durasse; e cá entre nós, a eternidade é muito tempo, não é? Obrigado por acompanhar minhas palavras até aqui, e espero que a história de Vittor e Evan cative muitos corações, não só o meu e o dele. Entenda que nossa história, nossa navegação, não acaba aqui. Lendas surgem e se esvaem. Algumas se tornam pó, outras, ouro. Você ainda ouvirá falar de nós em cantos de bares, histórias que o povo contará. Quem sabe num novo diário? Só o tempo vai dizer. Um conselho?

Nunca pare de navegar!


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Querido Evan - Com Amor, Vittor | ROMANCE GAYOnde histórias criam vida. Descubra agora