14 - O acidente

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Novembro de 2012

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Novembro de 2012

Era o último ano de escola e todos estavam loucos para que ele acabasse logo. Contavam os dias, não, os minutos para que ouvissem aquele sinal estridente de dentro das salas pela última vez. Apesar de todo mundo querer isso, o relógio não se importava, seguia com seu tic-tac lentamente, ao seu próprio tempo.

Eu guardei o caderno na mochila, pensando que seria a última vez que faria aquilo. Tinha sido um dia cheio de últimas vezes. Uma semana, melhor dizendo. A última prova escolar, a última revisão, a última vez no pátio na hora do intervalo, a última vez que estaria junto de todas as pessoas naquela sala.

E então um bilhete aterrissou na minha mesa. Também seria o último. Abri rapidamente sem que o professor visse. Ele estava ocupado demais em ler um livro.

Último trote: prender a porta da diretoria com os livros. Todo mundo topa?

Abaixo daquilo estava uma lista de nomes, de todo mundo que já tinha assinado. Assinei o meu ali também, com um sorriso e passei o bilhete para a cadeira de trás. Lídio, meu melhor amigo, ele estava sorrindo e com um olhar perigoso. A diretora que se cuidasse, íamos tocar o terror.

O bilhete rodou a sala toda e todos os vinte alunos encararam Rodrigo, o garoto que tinha tido a ideia e que liderou a maior parte dos trotes que fizemos. Ele assentiu e todos o imitaram e começaram a tirar os livros e cadernos velhos da mochila.

Em todos os anos, pediam que nós devolvêssemos os livros para a turma do ano seguinte poder usa-los e, além disso, a diretora não ia com a nossa cara desde sempre, então devolveríamos os livros e poderíamos nos vingar dela ao mesmo tempo. Todo mundo sempre quis fazer aquilo, mas sempre tivemos medo, mas, então, o que ela poderia fazer com a gente no último dia de aula?

Quando saímos das salas, havia uma troca de olhares e sorrisos cúmplices que fizeram o professor nos encarar, desconfiado. Ninguém disse nada. Só pegamos nossas coisas e um a um deixamos as pilhas de livros que usamos o ano inteiro na porta, de modo que ao final somava-se uma boa barreira na base de madeira.

Logo a diretora tentou abrir a porta, como vimos pelas muitas janelas de vidro que circulavam a sala. Nós saímos apressados, rindo. Ela nos xingou, mesmo não ouvindo, eu sabia disso, estava escrito na sua expressão de ódio.

Saí o mais rápido possível dali junto de Lídio, às gargalhadas. Quando chegamos no corredor da saída da escola, encontramos ela.

Flor era a irmã mais nova de Lídio e por uns bons anos tivemos que aguentar ela a onde quer que fôssemos porque a mãe deles só deixava o Lídio sair se ele levasse a irmã, então acabamos tendo que passar muito tempo juntos e, em algum momento quando eu tinha quatorze anos e ela treze, ela deixou de ser a "irmãzinha do meu melhor amigo".

Eu gostava dela e tinha a sensação de que ela também gostava de mim, mas não tinha coragem de falar qualquer coisa para a menina com medo do que Lídio fosse pensar. Aí um dia, quando Lídio tinha dado uma saída e nós dois ficamos de dar cobertura para ele, dizendo à sua mãe que estava com a gente, ficamos sozinhos e começamos a conversar. Ela falou, bem direta, que gostava de mim e quando eu disse que sentia o mesmo, mas que tinha medo de estragar minha amizade com o irmão dela, ela prometeu que falaria com ele e resolveria tudo. E ela me beijou e foi incrível. Mesmo que eu já tivesse beijado outras garotas, aquele poderia ter sido meu primeiro beijo, porque foi o primeiro que significou realmente alguma coisa.

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