18 - A volta do traidor

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Abri os olhos assim que o despertador gritou

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Abri os olhos assim que o despertador gritou. Parecia a coisa mais estridente do mundo ainda mais quando eu estava jogado imóvel na cama, a cara no travesseiro e o resto do corpo espalhado tentando escapar do calor do quarto sem janelas.

- Alec, desliga essa coisa! - Ralhou minha mãe da cozinha.

Estendi a mão para o telefone no banquinho ao lado da cama, tentando alcança-lo sem ter que sair do lugar, mas não funcionou e tive que levantar. Sentado, suspirei e desliguei aquilo antes que Carla gritasse outra vez. Passei a mão no rosto, como se isso de alguma forma me ajudasse a acordar de verdade. Meus olhos passaram rapidamente pelo quarto bagunçado, pelas fotos na parede, a garota de cabelos castanhos ainda me encarava com o mesmo sorriso brincalhão. Olhar para ela ainda fazia meu coração doer, naquele momento, um pouco menos.

- Ô, Alec, você vai me levar na escola ou é para eu ir sozinho?

- Eu vou.

- Então levanta, ou o porteiro não deixa mais entrar.

- Tá bom, estou indo. - E levantei, mesmo que deitar e dormir de novo parecesse uma opção melhor. Eu poderia dormir no castelo.

Tomei um banho para ver se o sono passava e saí para levar meu irmão para a escola.

Morávamos num bairro bastante distante da parte principal da cidade, cheia de vielas e becos, muitas das ruas, inclusive a nossa, eram feitas de barro, alguns anos atrás, tinha sido um péssimo lugar para se viver, mas desde que alguns garotos se alistaram e passaram a se envolver em coisas diferentes das que aquele lugar oferecia, vinha ficando mais calmo. Mas não calmo o suficiente para eu deixar meu irmão de dez anos ir para a escola sozinho se pudesse evitar.

- Sério, os caras já tão me azoretando o juízo, Alec. Todo mundo vai sozinho para a escola, por que eu não posso ir?

- Porque você não é todo mundo. - Respondi, com as mãos nos bolsos e sem encarar a careta que ele fez.

- Você ia.

- Não ia nada.

- Olha, a mãe não precisa saber. Você pode ficar aqui esperando dar um tempinho e eu vou sozinho.

- Nem pense nisso. Eu lá sou doido de mentir para ela? O juízo que te falta, eu tenho, graças a Deus.

E mesmo assim ele foi resmungando até chegarmos perto. Parei numa esquina antes da escola, as mãos nos bolsos, quando César percebeu que eu não estava andando com ele, se virou, confuso. Apenas acenei com a cabeça, mandando que fosse embora. Ele sorriu e foi, sem questionar.

Quando voltei para casa, Carla já ia saindo, apenas avisou que o meu café estava na mesa e se adiantou para o trabalho. Ela tinha assado pão dormido e fritado ovo para comer com o café.

Comi sozinho rapidamente antes de sair para a pequenina mercearia da rua mais à frente onde eu trabalhava pela manhã.

Todos os dias era isso, a mesma coisa sempre. Mas aquele não era um desses dias da mesma coisa de sempre. Eu só não sabia disso àquela hora.

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