23 - Sonhos de uma noite de primavera

16 4 1
                                    

Sair do castelo sem ser visto, não era uma tarefa exatamente fácil para ninguém

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.


Sair do castelo sem ser visto, não era uma tarefa exatamente fácil para ninguém. A não ser, é claro, que você fosse um dos guardas com conhecimentos sobre algumas passagens secretas da construção.

Graças a isso, conseguimos sair na rua bem depois dos muros. Eu tinha colocado uma peruca morena de uma fantasia de Halloween de Alinna e um boné preto que Alec emprestou-me, esperava que isso fosse o suficiente para conseguir não ser reconhecida.

Enquanto cruzava a ponte para a orla a pé naquela noite, não conseguia parar de pensar no quanto aquilo era insano e que eu poderia muito bem estar fazendo a maior loucura da minha vida. Bom, eu ainda não sabia, mas pensaria aquilo muitas vezes.

O cenário era onírico. Às nossas costas, o castelo e a rua que se seguia a ele pareciam irremediavelmente sombrios, apenas construções sob luzes brancas, sem a constante imponência que costumavam ter. Abaixo dos nossos pés, bem distante deles, longe até da superfície de cimento da ponte, as ondas da maré morta ressonavam com calma e irregularidade, como um gigante adormecido, prateando-se e tingindo-se com o brilho e as cores das luzes que não conseguiam aplacar a escuridão devastadora da massa de água. E à nossa frente estendia-se a orla. As ruas eram quase as mesmas que eu costumava contemplar das janelas quando criança e, como naquela época, Arabelle ainda parecia estender-se infinitamente com seu véu de luzes e cores.

Ao olhar para tudo aquilo, não conseguia deixar de perguntar-me como o meu pai não sentia nenhum temor ao encarar a cidade de sua janela no gabinete. Como ele conseguia dormir tranquilamente sabendo que aquelas centenas de pessoas estavam à mercê de suas escolhas? Havia realmente uma forma de não se sentir assustado com tais pensamentos?

- Tudo bem? - Alec perguntou, me despertando daquele transe.

- Sim. - Apressei o passo, acompanhando-o. - Para onde vamos?

- Para onde quisermos. - Ele respondeu, com um brilho alegre no olhar. - A cidade é nossa essa noite. Para onde quer ir, princesa?

Eu não fazia ideia. Já tinha alguma vez na vida tido aquela escolha? De estar no meio de Arabelle e realmente poder escolher para onde ir? Acabara de perceber que conhecia muito pouco da cidade. Sempre a via através de janelas, fossem prédios ou carros, ou estava cercada de guardas e gente demais para conseguir simplesmente seguir qualquer caminho fora do indicado.

- Eu não faço ideia. - Confessei.

- Bom, nesse caso, conheço um lugar que talvez possa ser legal.

Eu não fazia ideia de que lugar legal poderia ainda estar aberto, mas contava com a sorte de se tratar de uma sexta-feira e deixei que Alec fosse o meu guia pelas ruas vazias de Arabelle.

Tivemos de caminhar por um bom pedaço da orla e fomos conversando timidamente. Aos poucos, nossa antiga amizade cheia de conversas sem fim noite a dentro estava retornando e passamos a rir dos assuntos aleatórios que surgiam. E era bom estar com Alec outra vez, ouvir suas piadas arranjadas e sua risada que me pareci música. Simplesmente o fato de tê-lo ali, fazia-me bem, sua mera presença ao meu lado fazia as batidas do meu coração mais leves e alegres.

Princesa ImperfeitaOnde histórias criam vida. Descubra agora