Prólogo

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1740, Aviemore,

Inverness, Escócia.


- Achas mesmo que me ganhas, Blair? - Perguntou Ian MacDouglas, enquanto bloqueava o ataque do seu melhor amigo.

Estava um dia limpo e com algum sol naquela manhã de julho e Ian e o seu melhor amigo tinham ido treinar para descarregar o stress dos últimos dias. Os ingleses andavam a rondar os clãs daquela parte da Escócia. Ao que parecia, havia um fugitivo de Fort William à solta e os homens de casaca-vermelha andavam malucos à procura desse fugitivo. Mas por onde quer que passassem, aproveitavam a situação para provocar desordem dentro dos clãs inocentes. O que o irritava de uma forma descomunal!

Och! Estava farto daqueles ingleses bastardos! Schim.... Mais uma tacada com a espada. Ian já estava exausto e farto de todos aqueles canalhas ingleses. Por ele, já os tinha mandado de volta para o país deles. Mas era só um homem e, sozinho, não o conseguiria. Por isso, descarregava a sua frustração no que mais poderia ser libertador para um homem como ele: a lutar.

Blair estava exausto. Suava e até já ofegava. Estavam a treinar desde o amanhecer e quase já era hora de almoço. Não tinham parado sequer ainda para comer.

- Bem, eu nunca ganho, não é verdade? - Indagou Blair, largando a espada e apoiando as mãos nos joelhos enquanto tentava recuperar o fôlego.

- Bem, por hoje já chega, meu velho amigo! - Disse Ian, largando a espada e batendo no ombro do seu compatriota, com um sorriso vitorioso no rosto.

- Senhor! Senhor! - Gritou uma voz feminina.

Ian virou-se e viu uma das criadas do castelo a correr na sua direção. Parecia cansada de tanto correr à procura dele.

- O que se passa? - Perguntou, preocupado.

Blair levantou o olhar para a empregada e ela olhou um instante para ele, mas depois voltou a olhar para Ian.

- O seu pai! - Respondeu ela, ofegante. - Diz que quer falar consigo. Urgentemente! E disse que não espera nem um segundo e que é melhor não o fazer esperar, pois não está com paciência hoje.

- Onde é que ele está? – Indagou, preparando-se mentalmente para os frustrantes e cansativos sermões do seu pai.

- Na biblioteca à sua espera.

- Obrigado, Fiona.

Dizendo isto, Ian entrou dentro de casa e foi ao encontro do seu pai o mais depressa que conseguiu.

- Querias falar comigo? - Perguntou Ian, fechando a porta atrás de si e aproximando-se do seu progenitor.

O seu pai era um homem corpulento e alto. Tinha os olhos verdes e o seu cabelo preto já começava a ser clareado com alguns brancos, mas nem por isso deixava de ser o homem autoritário e severo que outrora, na sua juventude, fora.

O homem, que tinha estado de costas desde que ele chegara, virou-se para ele e soltou um longo suspiro cansado.

- Sim, eu queria falar contigo, meu filho. - Respondeu ele, assinalando as poltronas que estavam à frente da lareira no centro da biblioteca. - Senta-te! – Ordenou de forma impaciente.

Depois do seu pai se sentar na outra poltrona, à sua frente, Ian sentou-se, com alguma relutância.

- O que queres dizer-me? - Interrogou Ian, receoso. Esperando que não fosse nada de grave.

- Sabes que daqui a dois dias vou para França fazer um negócio... - Ian assentiu. - És herdeiro do conde de Aviemore! E um dia serás chefe do nosso clã, para além de conde também!

- A que propósito vem esta conversa, pai? - Indagou Ian, começando já a ficar aborrecido.

- Precisas de herdeiros...

- Ah, não! Não me venha com essa conversa! - Interrompeu, disposto a levantar-se e ir-se embora.

- Senta-te! - Gritou, furioso. E Ian obedeceu, atónito. O seu pai nunca gritava, apesar de ser um homem severo; ele sempre falava de forma calma, normal, inalterável, mas com assertividade; porém, naquele momento, ele gritou-lhe uma ordem. - Vamos ter esta conversa e tu vais ouvir-me até ao fim dela!

Ian engoliu em seco e olhou nos olhos do seu pai.

- Prossiga. - Pediu, engolindo novamente em seco. Ainda estava atónito com a reação do seu pai.

Douglas respirou fundo e olhou para o seu filho, parecendo mais calmo.

- Como eu estava a dizer, antes de me interromperes, precisas de herdeiros! E, como tal, para ter herdeiros, precisas de uma mulher. Uma esposa! - Douglas parou um momento e olhou para o seu filho para ver a reação deste. - Tens três meses, meu filho! Quando eu voltar de França, quero ver-te com uma noiva. Não interessa se é criada ou se é nobre. Quero ver-te com uma noiva!

- E se eu não quiser casar-me e não procurar uma noiva durante estes três meses? - Indagou Ian, desafiante.

O seu pai sorriu sagazmente e respondeu:

- Ian..., estou a dar-te a oportunidade de escolheres a tua própria esposa. Se não o fizeres, quando eu chegar, casar-te-ás com Cait.

- Isso não! Aquela rapariga é mimada e impossível de aturar! - Resmungou Ian. - Não posso casar-me com ela!

- Então, terás de escolher uma esposa nestes meses. Não me interessa se a amas ou não! - Disse o seu pai, com um sorriso vitorioso. - O que me interessa é que estejas casado. Estou a ficar velho! Daqui a nada já és o chefe deste clã.

- Está bem, pai! - Respondeu Ian, mal-humorado, fitando o pai com um olhar vencido. - Vou fazer o que me mandas.

...

- Então, o que é que o teu pai queria? - Perguntou Blair, bebendo um gole da sua cerveja.

Estavam sentados os dois no salão do castelo e Ian não deixava de pensar que mulher escolheria. Ele não queria fazer uma má escolha. Queria, pelo menos, uma esposa de que gostasse.

- Tenho de me casar. - Respondeu Ian, com pesar, e o seu amigo olhou-o, atónito.

- Como?

- É o que tu ouviste. - Disse Ian, pesaroso. - O meu pai disse que precisava de herdeiros. E, se eu não escolher uma noiva durante estes três meses, serei obrigado a casar com aquela tal de Cait.

Blair fez uma expressão de dor e olhou para o amigo com compaixão.

- Com ela?

- Sim.

- Meu Deus! - Exclamou, horrorizado. - Nesse caso, espero que já tenhas alguma em mente porque se não espera-te um destino cheio de dores de cabeça!

- Pois, o problema é esse! - Gritou, desesperado. - Não faço ideia qual mulher hei de escolher.

Casados temporariamenteOnde histórias criam vida. Descubra agora