Quando Ian entrou no quarto, encontrou-a de joelhos no chão com a cabeça baixa e ainda em combinação.
- Agora, vais bater-me, não é? - Perguntou ela, erguendo a cabeça e olhando-o nos olhos. Ian começava a perguntar-se se ela não seria masoquista ou se por acaso não teria um parafuso a menos.
- Não, não vou fazê-lo. - Replicou Ian, engolindo em seco.
- Porquê? Eu bati-te!
Ian esfregou a cara com as mãos e voltou a olhar para ela, cansado e frustrado.
- Eu sei que me bateste. - Disse, com calma. - Mas estás bêbeda!
Ela riu-se amargamente e levantou-se tropegamente. Estava tão bêbeda que não tinha equilíbrio.
- Sabes porque é que bebi? - Perguntou ela, com raiva.
Ian abanou a cabeça negativamente e olhou para ela, estreitando os olhos. Houve alguns momentos de silêncio, antes que ela respondesse.
- Tu és um ingrato!
Ele ergueu a cabeça e encheu o peito de ar, abrindo a boca para protestar, mas não conseguiu dizer nada porque ela continuou sem o deixar sequer dizer uma palavra.
- Desde que nos conhecemos, fiz muitas coisas para ti e tu nunca agradeceste! - Gritou. - Casei-me contigo para não teres de casar com uma tal de Cait; preparei-te um banho com as minhas próprias mãos para não dar um trabalho aos criados, que não tinham de o fazer; ofereci-me para te ajudar a encontrar a mulher perfeita; defendi-te daqueles homens horrorosos e tu nunca me disseste "obrigado", "obrigado por tudo, Isabel". Nunca!
Ian ficou irritado com as suas palavras, mas conteve-se para não se exceder, visto que ela não se encontrava bem.
- Eu nunca te pedi que me preparasses um banho, que me ajudasses a encontrar uma mulher e nunca te pedi que me defendesses! - Disse Ian, cerrando os dentes para controlar a raiva.
- Mas fi-lo! - Gritou ela, aproximando-se dele e fulminando-o com o olhar. - Podias ter-me agradecido. Ensinaram-me que se deve agradecer, quando alguém nos faz algo de bom!
Ian riu-se amargamente.
- Acho irónico que quem cuidou de ti tenha tido tempo para te ensinar uma coisa dessas e que tu tenhas conseguido ficar com essa lição decorada desde os seis anos, quando nem o próprio nome te lembras! - Disse Ian, com maldade, tentando proteger-se dos seus ataques. - Não tens mãe, nem pai... e muito menos um lar!... Uh! E não sabes sequer quem és! - Escarneceu.
Ele viu que uma lágrima escorria pela face dela e recriminou-se por ter dito aquelas coisas horríveis. Aquelas palavras saíram-lhe da boca como se tivessem vida. Ele estava chateado com ela. Mas não tinha de ser assim. Não queria que fosse assim.
- Talvez tu não estejas habituado a dizer obrigado ou talvez só não estejas habituado a agradecer aos ingleses, mas vais acabar por ficar sem ninguém! - Cuspiu ela, fora de si. - És um ingrato!
- Sabes que mais?! Não devia ter-te pedido em casamento e devia ter-me casado com Cait! - Gritou Ian, zangado e cheio de raiva. - Sabes porquê?! Porque é muito melhor estar na companhia da Cait para o resto da vida do que na tua companhia por um segundo!
Ela esbugalhou os olhos, atónita e possivelmente magoada. Dissera aquilo de prepósito para a magoar e fazer sofrer. Isabel baixou a cabeça e respirou fundo. Os seus cabelos dourados formavam uma cortina à frente do seu rosto e ele não conseguia ver se chorava.
- Se achas que isso me afeta, és um néscio! – Corroborou ela, com firmeza. - Não passas de um homem mimado, que consegue tudo o que quer e não se importa minimamente com os sentimentos dos outros. Vais ser um péssimo chefe. És igual ao teu pai! Não tens nada nesse coração de gelo e...
Ela não conseguiu acabar a frase porque Ian deu-lhe um estalo que a fez cair ao chão. Todavia, logo no instante a seguir, Ian não conseguia acreditar no que acabara de fazer. Estava a ser igual ao pai, como ela dissera.
Batera numa mulher. Batera em Isabel. Ficara tão zangado, que nem se apercebera do seu impulso.
Ficou alguns momentos sem reagir, a ouvir sem ouvir ela a chorar e a ver sem ver ela levar a mão à cara. Só conseguia recriminar-se por ter-lhe batido. Mas finalmente, conseguiu reagir e baixou-se para a ajudar.
- Desculpa. - Dizia, enquanto segurava-lhe no pulso, tentando afastar-lhe a mão da cara para poder ver o que tinha feito, mas ela continuava a segurar a face com muita força. - Eu nunca bati numa mulher! Juro... Por favor, deixa-me ver o que fiz.
- Não! - Gritou ela, empurrando-o com o seu corpo e virando-lhe costas. - Sai daqui! Deixa-me em paz. Vai ter com Cait, pede-a em casamento e pede a alguém para me levar para a Irlanda!
Ian respirou fundo. Estava muito nervoso e desesperado. Fizera uma grande asneira.
- Não digas uma coisa dessas. - Repreendeu, desesperado. - Tu só estás bêbeda. - Ian segurou-lhe no braço e tentou virá-la para ele, mas foi surpreendido com um estalo. - Por favor... ouve...
- Sai daqui, seu desgraçado! - Vociferou. - Sai!
Ian levantou-se e saiu do quarto dela, recriminando-se por ter batido naquela mulher, que já sofrera o bastante sem a sua ajuda. Não tinha conseguido lidar com ela da melhor maneira.
...
No dia seguinte, Blair sentou-se ao lado de Ian, à hora de almoço.
- O que é que aconteceu ontem, Ian? - Perguntou, com aflição. - Isabel tinha marcas de uma mão na face esquerda. O que é que fizeste?
Ian engoliu em seco e bebeu um gole da sua cerveja, optando por não responder.
- Sei que ela também te bateu, mas ela estava bêbeda, por amor de Deus! - Continuou Blair. - Ela sofreu... e ontem estava mal com a vida! Não devias ter-lhe batido... Toda a gente anda a dizer que tu estás a ficar igual ao teu pai e começo a achar que assim é! O que te deu?! Pobre Isa...
- Eu sei! - Cortou Ian, virando-se para o amigo, farto das suas reprimendas opressivas. - Eu excedi-me. Fiquei tão zangado, quando ela disse que eu seria um péssimo chefe, que a esbofeteei. Fiz uma grande asneira! Eu sei disso!
- Devias pedir-lhe desculpa. - Comentou Blair, bebendo um gole da sua cerveja. - Ela estava com uma enorme marca na cara. Bateste-lhe com muita força, Ian! Tu não és assim!
- Eu sei! - Replicou Ian, chateado consigo próprio. - Mas agora não posso ir ter com ela e pedir-lhe desculpa.
- Porquê?
- Porque, quando a esbofeteei, ela só me queria ver pelas costas. - Respondeu Ian.
- Ou então porque és demasiado orgulhoso para pedir desculpa a uma inglesa. - Comentou Blair, num murmúrio. - Ou então demasiado covarde para encarar os factos e enfrentar a mulher a quem bateste.
Ian olhou para ele de soslaio. Talvez ele tivesse razão. Mas em parte, ele não queria pedir-lhe desculpa porque estava a ser um covarde. Nunca batera numa mulher e fora logo bater em Isabel. A última mulher do mundo que merecia uma coisa dessas. Era bonita, simpática, generosa, trabalhadora, persistente, teimosa, bondosa, tinha uma coragem e uma determinação de ferro... e sofrera muito. Não merecia mais sofrimento, mas sim, um lar onde pudesse viver em paz. Que o Santo mais poderoso o ajudasse! O que se andava a passar com ele?!
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Casados temporariamente
RomanceIan MacDouglas era o filho do chefe de clã dos MacDouglas e, estando descomprometido, sempre gozara de liberdade para namoriscar com quem lhe apetecesse. Mas, agora, o seu pai exigia-lhe que se casasse. Ian teria apenas três meses para escolher a mu...