Capítulo 13

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Ian desejava ter Isabel deitada ao seu lado, na cama. Sentia uma forte necessidade de a ter junto dele. Odiara beijar Saleman. Antigamente, beijava uma mulher, outra e mais outra e sabia-lhe tudo ao mesmo. Mas desde que conhecera Isabel, todos os seus pensamentos se concentraram nela. E desde que beijara Isabel, e que sentira um conforto, uma paixão tão efusiva, acalorada; nunca mais desejou beijar outra mulher. Mas depois beijou Saleman. Foi um beijo tão seco, sem paixão.

Naquela tarde, quando fora falar com ela, ela parecia alterada, como se estivesse zangada com ele. Mas Ian não percebia o porquê de ela estar zangada. E, quando dissera que beijara Saleman, pareceu ver no seu olhar uma pontada de ciúme e raiva. Seria possível que ela... sentisse ciúme? Que gostasse... dele? Não, não podia ser verdade. Ela era inglesa e devia odiar os escoceses pelo que fizeram à mãe dela. Devia odiá-lo pelo que ele fizera. Por bater-lhe. Estava muito arrependido mesmo. Mas talvez ela o odiasse também porque nem uma única vez lhe agradecera. Afinal de contas, quando ela se embriagara no festival do Lughnasadh, Isabel dissera exatamente isso, que estava chateada com ele porque Ian nunca lhe agradecera as pequenas coisas que ela fizera por ele.

Ela tinha aceitado casar-se com ele temporariamente, preparara-lhe um banho depois da caçada, tinha ajudado a preparar o Lughnasadh, oferecera-se para ajudá-lo a encontrar a mulher perfeita, cuidara da filha de Callum por mais de duas vezes e defendera-o das bocas sujas e perversas do clã MacAlister. E ele nunca, mas nunca, lhe agradecera. Não era natureza dele agradecer aos ingleses, mas era dever dele agradecer a Isabel. Era obrigação sua agradecer àquela mulher incrível. Devia-lhe muito... e devia-lhe um sítio seguro.

...

No dia seguinte, Ian foi ter com Blair aos estábulos, que ficavam por trás do castelo. Ele e todos os homens iriam fazer outra caçada ao javali.

- Os cavalos já estão prontos? - Perguntou Ian a Blair, pondo as mãos nas ancas e percorrendo a paisagem com o olhar.

Blair, que estava atrás dele, colocou-se à sua frente e Ian não teve outro remédio senão olhar para ele.

- Já estão prontos. - Suspirou, aborrecido. Depois, inclinou-se para a frente e sussurrou ao ouvido dele: - Preciso de falar contigo a sós.

Ian franziu ligeiramente o cenho e entreabriu os lábios como se fosse dizer alguma coisa, mas não disse nada. Assentiu com a cabeça e os dois afastaram-se do grupo. O que haveria de errado? Blair parecia preocupado e aborrecido com alguma coisa. Ian olhou para trás para verificar que ninguém estava por perto e olhou para o seu velho amigo.

- O que se passa? - Perguntou, preocupado.

- Tu já escolheste... uma mulher? - Indagou Blair, estreitando os olhos e cruzando os braços sobre o peito.

- Não, ainda não escolhi. - Respondeu Ian, surpreso e confuso com a pergunta. - Porquê?

- Diz-me, por favor, que vais poupá-la! - Pediu Blair, com visível inquietação. - Não adies mais a sua partida, Ian. Acaba com esta farsa!

- O que queres dizer?! - Indagou, ainda mais confuso e começando a ficar chateado com toda aquela conversa.

- Olha, Ian... - Blair fez uma pausa e engoliu em seco. - Simplesmente, despacha-te. Não a magoes mais!

Dizendo isto, Blair virou costas e aproximou-se do resto do grupo e colocando-se em cima do seu cavalo.

Ian não percebeu nada da conversa. Magoá-la? Ele estava a magoá-la? Magoá-la, quem? E como?

...

Isabel seguia Edith, levando um cesto cheio de roupa suja apoiado na anca, até ao rio. Quem as seguia eram as lindas filhas de Edith.

Isabel sentia-se triste e melancólica. Era um grande desgosto para ela ver Ian seduzir esta e aquela. Só queria que ele fosse feliz com a mulher que escolhesse, mas ao mesmo tempo sentia um ciúme, uma raiva.... Sabia que tinha sido ela a oferecer-se para ajudá-lo, mas agora.... Ela amava-o e não podia amá-lo. Ian iria casar com uma outra mulher e ia esquecê-la. Então aí, poderia viver em paz, guardando o amor que sentia por ele no seu coração. E talvez, um dia, pudesse voltar a falar com Edith e perguntar-lhe por Ian. "Como é que ele está? Ele sente-se feliz?"

Mas agora não podia pensar nisso! Tinha de ajudar Edith com a roupa suja. As duas ajoelharam-se à beira do rio, enquanto as meninas corriam, brincavam e apanhavam flores, divertidamente.

- Como estás? - Perguntou a sua amiga, de lençol na mão, olhando para ela com pena e compaixão.

Isabel forçou um sorriso.

- Bem. - Respondeu, evitando olhar para ela e começando a mergulhar umas anáguas na água. - Isto já passa.

- Estás a dizer que o amor passa? - Indagou Edith, franzindo o sobrolho e mergulhando o lençol no rio.

Uma lágrima desceu pela face de Isabel e Edith deteve-se, olhando para ela com preocupação. Não devia ter sido tão bruta.

- Claro que não passa. - Disse Isabel, com a voz rouca. Parou de esfregar as anáguas e olhou para o seu reflexo no rio. - Mas ele não me ama...

- Ao menos poderás vê-lo todos os dias. - Disse, tentando animá-la. - São casados. E pode ser que ele ganhe juízo naquela cabeça dura e acabe por dar valor à incrível mulher que tem em casa.

Isabel assentiu e forçou um sorriso. Edith não sabia que se iam divorciar. Como podia saber? Não sabia dos seus planos. E, talvez, fosse melhor assim.

Engoliu em seco e comentou:

- As mulheres olharam para mim de esguelha e riram-se. Provavelmente, por causa do beijo.

Edith assentiu e baixou a cabeça.

- Não lhes dês ouvidos. São umas invejosas. Aposto que todas elas desejariam estar casadas com o próximo chefe do clã. - Disse e olhou para ela. - Só o fazem para te picar.

Isabel assentiu.

No final de terem lavado a roupa toda, levantaram-se, apoiaram os cestos nas ancas e dirigiram-se ao castelo, seguidas pelas meninas.

Isabel inspirou fundo e virou-se para a amiga com um sorriso nos lábios.

- Vou preparar-lhe um banho. - Disse, com otimismo. – Talvez assim ele... sei lá... me dê mais valor.

Edith franziu ligeiramente o cenho e sorriu, assentindo com a cabeça, no entanto, preocupada com a situação de Isabel.

Casados temporariamenteOnde histórias criam vida. Descubra agora