Capítulo nove - Se as coisas fossem diferentes

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Willian Clarke

Lily Baxter tem se tornado a dona dos meus pensamentos, penso nela a cada minuto do meu dia. Ela era sempre meu último pensamento antes de dormir, e era o primeiro no momento que abria os olhos, ela surgia até em meus sonhos. Nunca havia me sentido assim em relação a nenhuma mulher, nem mesmo a Lindsey. E tudo isso era errado, depois de pensar nela, um sentimento de culpa arrematava meu peito, mesmo assim, meu cérebro continuava entregando a imagem dela, de sua boca delineada e de quando se juntou com a minha, meus dedos ainda formigavam quando lembrava da sensação de sua pele quente em contato com meu toque.

Sentia ainda mais culpa por termos nos beijado na cozinha, quando minha filha estava no quarto a alguns metros de distância, se ela descobrisse, tenho certeza que nunca me perdoaria. Mas Lily começava a ganhar espaço em meu coração, ela era especial para mim. Acho que estava a ponto de perder a batalha, mesmo tentando negar, meu coração havia escolhido ela.

Durante trinta e oito anos já tive outros relacionamentos, nada muito sério, porque estava tentando esconder meu coração, não queria magoá-las, e nem sair magoado, sempre deixando claro que minhas intenções eram apenas de uma noite, que na manhã seguinte cada um seguiria em frente. E quando olhava para Lily, só conseguia ver a mulher com quem gostaria de tentar de verdade, mas ela era a única com quem não poderia tentar de verdade, afinal temos dezoito anos de diferença, e ela continuava sendo a melhor amiga da minha filha.

Faltavam três dias para o Halloween, Mary me chamou até a confeitaria para planejar a festa que ela dava todo ano nessa data, que caia bem no dia do aniversário da nossa mãe. Durante anos eu ignorei essa comemoração, no dia 31 de outubro costumava mergulhar no trabalho até esquecer de tudo. Quando minha mãe estava viva esse era nosso dia mais especial, nos fantasiávamos e comíamos doces até nossa barriga doer, depois que nossos pais morreram, eu só queria esquecer daquela época, o luto fazia com que esquecemos do quanto éramos felizes. Só lembrava do quanto eu queria meus pais de volta.

Quando a Emma tinha treze anos tudo mudou. Era Halloween e eu tinha uma conferência em Chicago, já estava pronto, quase saindo para o aeroporto, quando Emma entrou no escritório perguntando se era velha demais para pedir doces, alegando que suas amiguinhas zombaram dela por isso. Eu respondi que ninguém era velho demais para doces, então cancelei a viagem para poder pedir doces com a minha filha, foi quando essa data voltou a fazer algum sentido na minha vida, quando percebi o quanto minha mãe estaria orgulhosa de mim.

Desde então Mary fechava a confeitaria para uma festa a fantasia, com muitos doces e amigos mais próximos. Era um dia para esquecer de tudo e apenas ser feliz.

Ao chegar encontrei Mary sentada em uma das mesas, o local ainda estava fechado, sem a ausência de clientes.

— Está atrasado, Will! — repreendeu batendo no relógio em seu pulso. — Daqui cinco minutos a gente vai abrir, e você sabe o quanto o café da manhã é agitado.

A proximidade com centro de Manhattan fazia a doceria muito movimentada, o café era o primeiro a acabar, logo depois as rosquinhas e os muffins.

— Desculpa, Mary! O trânsito estava um caos, infelizmente não tenho um controle que acelere as coisas. — debochei, a vendo revirar os olhos. — O que falta ser feito?

— Você tem que arranjar uma fantasia, e pegar a minha na loja, porque estou sem tempo de sair. — avisou. Mary e sua mania de deixar tudo para última hora.

— Não vou usar uma fantasia. — retruquei, ela me olhou incrédula, como se dissesse: vamos nós de novo! Todo ano temos a mesma discussão, eu adorava a ideia da festa, mas me recusava a usar uma fantasia.

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