Razão e desejo

Capítulo quatro - Não beije a amiga da sua filha

Willian Clarke

Lillian Baxter, acabou se tornando uma pedra no meu sapato, não daquelas pedrinhas que incomodam um pouco quando você anda, e sim, um pedregulho capaz de causar estragos toda vez que calçar os sapatos, e se você esquecer de tirá-la antes, não tem mais volta, vai te importunar até você não aguentar. Durante a tarde recebi uma ligação de Emma, o que era estranho, já que ela nunca me ligava. Meu pressentimento nunca falhava, ela queria que levasse sua amiga para jantar em um bar às margens do rio Hudson. Tentei usar minha autoridade de pai, mas era impossível ganhar uma discussão com Emma Clarke, teimosa demais. Digamos que isso pode ser minha culpa, tal pai tal filha.

Não era que não gostasse da Lily, eu gostava, esse era o ponto. Gostava dela, uma coisa incomum na minha personalidade horrível.

Definitivamente meu dom nunca foi conversar, principalmente quando se tratava de mulheres, sempre dizia a coisa errada. Mas com ela era fácil, não apenas conversar, como também não dizer uma única palavra, como agora. Depois de ajeitar seu cinto de segurança, voltei a me concentrar para tirar o carro da garagem.

Enquanto dirigia, Lily batia o pé contra o carpete que revestia o chão do carro, a mania de enrolar a ponta do cabelo havia reaparecido em poucos minutos. Definitivamente linda demais, ela sempre conseguia ser linda demais. Seus cabelos cor de ouro, esparramados sobre a peça fina de seu vestido preto, com uma abertura considerável nas costas. Um batom leve tomava seus lábios, seus longos cílios batiam lentamente em sua pele.

Quando chegamos ao Frying Pan, descemos em silêncio. O sol batia na água, o fim de tarde era perfeito com a vista do bar. O pier onde o barco era ancorado não estava tão cheio como de costume em outras épocas do ano, a chegada de dias mais frios, afastava as pessoas de lugares com ambientes abertos. Lily vestiu uma jaqueta jeans quando sentiu o vento fresco vindo da água.

Encontramos uma mesa vazia, com uma vista privilegiada do pôr do sol, sentamos um de frente para o outro. Alguns flashes do sol quase sumindo no horizonte cortavam a pele clara de Lily, poderia jurar que meu coração parou por um segundo ao olhar para ela. Uma resposta clara de que esse jantar era uma péssima ideia.

— Vou até o bar fazer o pedido! — quebrei o silêncio fazendo Lily que antes admirava o lugar, direcionar o olhar para mim. — O que você vai querer? — perguntei, tentando não parecer nervoso, mesmo quando meus músculos estavam tão rígidos, quanto pedras de gelo, acontecia toda vez que seus olhos azuis miravam os meus. Simplesmente congelava.

— Não sei, nunca estive nesse bar antes. — respondeu mexendo no cabelo.

— Se você quiser posso pedir uma especialidade daqui, um Lobster Roll. Você não é alérgica a frutos do mar, né? — ela negou.

— Você pode pedir então! — respondeu com meio sorriso. Assenti, levantando em direção ao balcão do bar para fazer os pedidos. O local não tem garçons, então os pedidos são feitos ali mesmo, depois de feito, eles nos davam um aparelho que vibrava quando a comida estava pronta. Uma fila pequena se formou, fiquei esperando até minha vez. Adorava esse lugar, o ambiente possuía uma decoração de temática marítima, despojada e aconchegante, ficava todo iluminado no começo da noite pelos fios de luzes espalhados pelas mesas. Fiz o pedido e voltei para a mesa, com uma cerveja e um suco para Lily.

— Como você não pode beber bebida alcoólica, por ser menor. Te trouxe um suco, espero que goste de melancia. — revelei lhe entregando a bebida. Ela riu.

— E você, Sr. Clarke, não deveria beber, pois está dirigindo. — respondeu, me fazendo pensar por um momento, como pude esquecer isso? Ela me deixava tão nervoso que, sem álcool, não conseguiria relaxar, mas ela estava certa.