Capítulo três - Não o deseje!

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Lillian Baxter

A vida era uma grande incógnita, sempre pregando peças e surpresas, algumas boas, outras nem tanto. Foi uma surpresa gostar tanto da companhia de Willian. Na nossa primeira conversa ele foi rude e grosseiro, mas com o passar dos dias temos nos saído melhor. Distribuímos as tarefas, quando ele cozinhava, eu lavava a louça, enquanto Emma secava. Essa era minha segunda semana na casa da família Clarke. Minha mãe não desconfiou de nada. A sorte estava ao meu lado.

O relógio despertou às seis da manhã, olhei pela janela vendo gotas escorrendo pelo vidro, uma chuva fraca molhava as ruas. Os dias quentes davam lugar às manhãs frias de outono.

Cupido dormia aos pés da cama. Levantei indo até o banheiro, sempre verificando para não pegar Willian em outra situação constrangedora. Ainda tinha plena lembrança daquele dia, do seu rosto envergonhado, de seus olhos arregalados e do quanto ele era lindo, com braços fortes, ombros largos e abdômen definido. Toda vez que olhava para seu rosto, a lembrança dele apenas de toalha tomava meus pensamentos. Seria difícil esquecer o fato de Willian Clarke ter me tirado o fôlego sem mesmo tentar. Estaria mentindo se dissesse que não o acho atraente, que talvez se não fosse pai da Emma eu teria flertado com ele sem dor na consciência. Não poderia negar que ele era um tremendo gostoso, mesmo assim, continuava sendo o pai da minha melhor amiga, um campo minado destinado à destruição.

Quando aceitei o seu desafio não imaginava esse misto de sentimentos em relação a ele, quanto mais tempo passávamos juntos, mais perigoso isso ficava. Sei que ele nunca se interessaria por mim, mesmo assim não poderia esconder o fato de desejá-lo. Mas faria o meu melhor para esse segredo ser apenas meu.

Ainda de pijama desci as escadas até a cozinha, Cupido me acompanhava fielmente esperando que eu enchesse seu pote de ração. No andar de baixo senti um cheiro atravessando a sala, algo tinha queimado.

Encontrei Willian lutando contra o fogo que tomava conta de uma frigideira. Nada muito alarmante. Meu corpo aqueceu, não pelo fogo, mas por ele.

Caralho. O homem estava sem camisa.

Vestia apenas uma calça de moletom, com o cabelo castanho-escuro desgrenhado e de pés descalços, a casualidade caía bem nele. Não que ele não ficasse bem de terno, qualquer roupa ficava bem em seu corpo, mas com certeza de todas as imagens que tinha dele em minha cabeça, sem dúvida essa virou minha preferida, juntamente com a do banheiro.

Quando me viu parada na entrada da cozinha levou um susto. Acabei sufocando o riso.

— Eu te acordei? — perguntou depois de controlar as chamas jogando um pano por cima da frigideira. Cheguei mais perto, vendo uma queimadura em sua mão, não parecia grave, apenas bem vermelha.

— Você está bem? — perguntei ignorando sua pergunta anterior, correndo para ver a mancha vermelha em sua mão. Quando toquei seu braço, Willian quis se esquivar mas não permiti, queria observar de perto o ferimento.

— Estou bem, foi só um acidente! — respondeu ligando a torneira e colocando a queimadura embaixo da água, para aliviar a dor. Eu o olhei preocupada, ainda com meus dedos sobre sua pele. Seu olhar caiu sobre mim. Ficamos nos encarando por alguns segundos.

— Pai? — escutamos a voz de Emma vinda da sala. Voltamos a realidade em um supetão. Afastamos nossos corpos, encerrando o contato. Comecei a enrolar a ponta do cabelo no dedo, um claro sinal do quanto esse homem mexia comigo.

— Tudo bem com vocês? — questionou estreitando a visão para analisar a cena, assim que chegou até nós. — Senti um cheiro de fumaça. — coçou os olhos e bocejou, tentando espantar o sono.

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