capítulo 21

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Estava no corredor e tirei o celular do bolso, agora o olhava de hora em hora. Uma enfermeira passou e me olhou. Era aquela enfermeira da recepção.

- Não pode celular.

Eu ameacei soca-la e a pobrezinha saiu correndo. Eu ia tacar fogo em tudo se eu quisesse suas enfermeiras irritantes! Eu entrei de novo na sala 287, aquele seria meu número de azar para sempre, e sentei na cadeira ao lado de minha mãe dormindo. Ela estava tão angelical como sempre foi. A televisão estava ligada num canal que mostrava programas estranhos de alto-ajuda, eu desliguei a TV e apaguei a luz. Não tinha o que fazer naquele hospital por isso fiquei andando pelos corredores. Tentava não olhar para os quartos porque era doloroso demais. Me lembrava que eu tinha que voltar para ver minha mãe. E apesar de eu ama-la de todo o meu coração eu odeio ter de vê-la assim, me arrependo de falar que prefiro não vê-la e preservar a imagem saudavel dela em minha mente, mas ela sentiria a minha falta e eu a dela.

Um quarto me chamou a atenção. Era uma brinquedoteca. Estava vazia, só por um garotinho com a cabeça nua. Estava numa mesa montando um quebra-cabeça. Tinha várias mesas com jogos, papéis, livros de colorir, giz-de-cera e lápis de cor, estantes com poucos livros e as paredes eram todas com desenhos de céu, grama e rostos felizes. E tinha uma parede inteira onde crianças desenharam e escreveram seus nomes, alguns de forma errada. Eu entrei e o garotinho olhou para mim. Seus olhos eram azuis e ele tinha um rosto travesso e triste ao mesmo tempo. Fiquei me perguntando que tipo de câncer aquele inocente e jovem ser humano tinha.

Sentei-me na frente dele e ele escrevia num caderno de rascunho com giz-de-cera. Ele parecia concentrado e quando sentei ele estranhou o gesto, mas sorriu, com um espaço nos dentes de cima e de baixo.

- O que está fazendo?

Ele me olhou nos olhos como se perguntasse se era com ele que eu estava falando.

- Uma história.

Eu tentei ler o que ele escrevia, mas sua letra era muito difícil de ler, ainda mais de cabeça pra baixo.

- Sobre o que? - perguntei por fim. Tentava fazer a minha voz mais gentil e convidativa.

- É sobre o mar.

Eu peguei um giz azul e comecei a desenhar num papel.

- Gosta do mar?

A criança sorriu triste.

- Não sei, nunca fui lá, mas adoraria.

Ele continuou a escrever e eu tentava fazer o melhor mar que eu conseguia no papel. Eu não sou de conversar ou brincar com crianças, mas ver minha mãe daquele modo me fez lembrar de como é ser uma criança se sentindo sozinha, me fez lembrar de como é ver minha mãe indo embora pra trabalhar e sentindo um medo de que nunca mais volte a vê-la. Isso é que sempre admirei em crianças. Elas sempre perdoam, e se você for legal com elas, sempre tratam você como se fosse seu último dia na Terra.

- Eu não costumo conversar com garotas.

Eu ri diante daquilo, ele falou como se garotas fossem algo repugnantes.

- E eu não costumo conversar com crianças. - retribui o ênfase.

- Não sou criança! Eu só não sou tão alto, mas já sou maduro o bastante para dirigir.

- Claro. - eu ri.

- Seria legal dirigir e ir até o mar, em Bradford não há praias.

- Em Bradford não há nada!

Ele riu. Depois ele ficou sério e terminou de escrever na página.

- Você amadurece bastante aqui.

Eu quebrei a ponta do giz azul. Quase fui abraça-lo. As pessoas sempre acham que só elas sofrem na vida. Eu ia dizer alguma coisa, mas o garotinho levantou a cabeça um pouco feliz.

- Qual é o seu nome?

Garotinho meio bipolar pensei e ri um pouco. Peguei outro giz e passei por um espaço em branco. Eu gostei daquela distração.

- Katherine Paige. E você?

- Henry Lockwood.

Ele se levantou e me entregou a folha e pegou meu desenho pronto. De perto, ele era muito magrinho e seus olhos eram tão belos. Ele tinha o efeito nas pessoas que eu sempre admirei e desejei ter. Você quer que todos os seus pecados nunca tivessem acontecido, o efeito de que você quer ser melhor do que você é. Olhando-o eu percebi a sorte que eu tinha e o azar também. Tinha sorte por estar viva e azar por não ser como ele. Inocente. A ignorância é uma bênção, inocência é uma virtude que todos perdemos. Ele me abraçou e saiu correndo pela porta. Eu li o papel.

"Hoje o dia esta como sempre. Acordo, venho pra brinquedoteca e fico escrevendo sobre o mar, mas algo me diz que hoje vai ser diferente. Minha mãe veio ontem e me contou uma história. 'Uma menininha estava chorando num banco e uma velha chegou e a consolou. A menininha teve nojo da presença da velha e a velha se levantou e se revelou. Esta senhora era um anjo e a menininha pediu desculpas. O anjo parecendo triste disse:
- eu estava procurando um anjo entre os humanos para me ajudar a superar a dor. Você não foi esse anjo, você só me deu mais dor. E eu poderia ter curado a sua, mas você não permitiu.
O anjo saiu voando e a menininha sofreu ainda mais.' Eu estava esperando que o meu anjo viesse hoje, mas... Alguém entrou. Que garota linda! Não é como as meninas da minha escola. Será que ela vai me ajudar? Ela agora esta desenhando. Olha, é o mar. Obrigada anjo, isso vai valer as duas semanas que me restam.'

Eu sorri e chorei. Esquece ser assistente social, eu me tornaria pediatra pra salvar a inocência como essa.

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capitulo vinte e um!

alta emoções nesse cap

desculpa não ter postado esses dias é q deu una rolo aí e não deu

esse capitulo não foi grande mais eu me apaixonei por ele

seu voto nos faz feliz!

espero q estejam gostando ♡

hallucinations // zmOnde histórias criam vida. Descubra agora