CHAVE DE OURO

8 1 0
                                    

Dois meses. Faltavam 60 dias, cerca de 8,6 semanas, 1.440 horas, 86.400 minutos e 5184000 segundos para aquela turnê acabar.

Parecia que a cada passar dos segundos do ponteiro que o relógio dava era um tempo de tortura a menos para Rony. Depois da noite em que se despedira de Hermione - o que lhe resultou um choque de realidade assim que pôs o pés dentro de casa - ele não parava quieto. Assim como parecia que entrava em um mundo diferente quando estava com a morena, um mundo sem julgamentos, necessidades, deveres, o ruivo sentia o peso de quando se despedia.

De algum jeito durantes os seus recentes três anos de fama Rony jamais tinha ficado tão a vontade com alguém. Depois de um tempo, ao ficar observando as ações de terceiros ele notava o quão bajulado era, fosse para ter benefícios ou regalias com a sua imagem. Ter um nome reconhecido e incontáveis dólares da conta bancária o tinha privado de bons amigos - motivo esse pela correria em sua vida de shows - e acolhido outros arrogantes e fúteis.

Tinha sempre a frase que a irmã o tinha dito na última vez em que se encontraram na cabeça. Gina assustara-se com o jeito ostentoso que foram recebidos em um restaurante e puxou o irmão para mais perto. Os seres humanos me assombram. 

Realmente, de frases filosóficas aquela ali entendia muito bem. Sorriu ao lembrar da ruiva e seu peito doeu de saudade. Sentia falta dela, sentia falta de casa, da liberdade e principalmente, de conversar com Hermione.

- Filho? - a voz calma de seu pai o assustou. Para sua infelicidade constatou a sua realidade sufocante: um estúdio de música. As conversas animadas dos integrantes da banda e o falatório de sua mãe perto da saída enchiam seus ouvidos e tentou se recuperar da neblina que inundava sua mente sempre que pensava demais. 

- Já sei - resmungou, recolocando o headfone e pegando sua guitarra. - Só mais algumas e vamos para o hotel.

- Esse é o meu garoto - sorriu Arthur. Para não decepcionar o pai Rony devolveu o sorriso meio tarde, mas achou que o homem tinha visto. A sala estava quente por ser revestida por uma estranha, felpuda e preta camada de um tipo de tecido e a refrigeração era bem um costume de se ter. O suor escorria por seu rosto e sentia-o pegajoso.

Antes que as baquetas do baterista soassem sentiu o celular vibrar na coxa de onde estava guardado. Seu coração idiota e fraco palpitou pela primeira vez em dias com a remota possibilidade de Hermione o ter mandado mais um meme idiotamente engraçado, fazendo o restante de seu dia ficar mais leve e quando viu de quem era a mensagem, seu estômago foi parar no chão: era de Lexie. Não era nem a questão do mandar a mensagem. Lexie tinha a mania chata de falar em vídeo com uma voz de bebê que o irritava imensamente.

Cerrando os lábios em uma indagação silenciosa, decidindo se via ou não, Rony apertou o play; pouco lhe importava quem estaria escutando.

"Oi, meu lindinho! Sei que você está muito ocupadinho, mas o que acha de um jantarzinho para relaxar? Não aceito não como resposta. Vejo você no Oranjee as 20:30, tudo bem? Amo você cachorrinho!"

Rony fez uma careta. Cachorrinho? E, porque diabos, ela estava falando tudo no diminutivo? Revirou os olhos.

Apesar de sua beleza com seus cabelos negros, pele morena e olhos ônix o ruivo achava Lexie mimada demais. Óbvio que a garota tinha o total direito de ser daquele jeito com pais também cantores e já vinda de uma família poderosa. Mas nada desculpava o modo dela ser. As risadas por conta do apelido tirou Rony de seus devaneios e olhou feio para os outros garotos.

- Chega de papo - rosnou, jogando o celular no puff fofão mais próximo. - Vamos retornar com uma música fora do repertório: Piloto Automático.

Fechou os olhos, respirando fundo até começar a cantar.

Startruck - Ligados pela MúsicaOnde histórias criam vida. Descubra agora