QUASE DESCOBERTA

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Dedilhou mais algumas notas no violão e sorriu satisfeito com o trabalho.

O estúdio a prova de som era seu refúgio quando tinha sua mãe o perseguindo a cada segundo do dia, perguntando como estava, se queria ensaiar um pouco. Aparentemente a imensidão da casa não eram páreos para o furacão chamado Molly, a mulher de pouco mais de um metro e cinquenta caminhando a passos rápidos para cima e para baixo de olhos pregados no celular - sem nem mesmo olhar por onde ia. Ela só podia ter decorado muito bem onde estavam os móveis para nem raspar neles e seguir com sua supervisão, o trabalho de tempo integral que as mães pareciam ter.

Não via seu pai desde o jantar da noite passada e não tinha ideia de onde Arthur tivesse ido. Clubes não eram a praia dele, muito menos pescar, nem nada que não estivesse relacionado a gerenciar a carreira do filho. Um amigo distante talvez. Tentou recordar de algum rosto que tivesse conhecido, amigo de Arthur, e ninguém além de Amos Diggory, o famoso escritor de livros sobre suas aventuras com animais ao redor do mundo, veio. Com um grunhido, lembrou que Amos gostava de bagunçar seus cabelos quando criança de um forma nada delicada - fosse por suas mãos calejadas ou sua falta de cuidado. Só podia ser isso.

- Filho? - escutou sua mãe dizer. Escorregou no barrinho levando junto o violão e se escondeu na parte sem ser vidro. O barulho do seu caderno caindo no chão foi alto demais.

- Outro lugar para compor?

Torceu o nariz e fuzilou o caderno.

- Só checando se a limpeza da Lily está em dia - disse e passou os dedos no chão, observando nem um grão de poeira. - Parece que eu estava certo. Sujo! - exclamou fingindo indignação. - Vou conversar com ela a respeito disso.

Saiu dali o mais rápido que suas pernas podiam e estranhou ao ver uma garota desconhecida varrendo as folhas caídas no jardim da cozinha. Se aproximou mais da janela e espremeu lado esquerdo do rosto para ver melhor. Viu ela circular a parte que faltava e colocar tudo em uma sacola plástica, porém, quando ia erguer o rosto para virar e entrar, a vassoura caiu do lado contrário.

- Xeretando, ruivo? - murmurou Lily batendo na nuca dele. Rony virou-se raivoso.

- Quem é aquela garota? - apontou para vidro. - É a funcionária nova? A que Ava contratou? Aliás, eu nem conheço ela ainda.

Lily ergueu as sobrancelhas.

- Por que o interesse?

- É normal eu querer saber quem trabalha aqui em casa. É a minha casa, ora! - explicou.

- Quem sabe um dia - a loira murmurou e desceu as escadas. Rony a olhou confuso... mas não dava para confiar em Lily. Ela era louca demais e assuntos sérios não eram costumes seus.

Os passos no topo da escada o fizeram voltar a correr de novo e rodar no mesmo lugar quando chegou a sala - uma cena bem ridícula para quem estava fugindo da própria mãe. Com uma recordação vinda feito um raio visualizou o local onde sempre ia desde a compra daquela mansão. Olhou pela vidraça a frente da casa e considerou um pouco. Poderia acontecer de ficar lá por um tempo maior do que pensasse? - sim. Poderia terminar de compor? - e até começar mais uma música. Seus pais poderiam chamar a polícia e relatar seu desaparecimento se não o vissem na hora do jantar e sem terem resposta alguma dos funcionários? - tentador recusar e evitar a situação, mas eles não se submeteriam a tanto. Que imagem teriam se a notícia de serem pais irresponsáveis saísse?

A foto dos seus pais separadas apenas por um risco branco com suas poses robustas sendo vítimas de expressões reprovadoras para quem lesse os jornais ou sites de notícia.

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