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M e u    p a s s a d o

Skay...

    "O dia em que perdi tudo. Conhecido popularmente como 29 de novembro de 2003. Estávamos no carro voltando de uma viagem divertida feita a poucas horas. Tínhamos ido visitar uma árvore centenária que vivia na beira da praia. Papai sempre nos levava lá uma vez no ano para podermos admira-la em toda sua beleza e majestosidade. Era como uma espécie de ritual anual.
    Mamãe já havia dito que tudo o que aconteceu na vida deles e o que fizeram para estarem juntos desde pedidos, reconciliações e encontros foram feitos ali. Era quase um marco na nossa história. Uma espécie de objeto mega importante na nossa existência.
     Estava tudo bem até certo ponto. Mamãe estava cantando enquanto papai dirigia feliz por conseguir realizar mais essa viagem anual. Agie estava bem e entretida com uma boneca antiga de pano que um dia já foi minha. Eu estava admirando a paisagem enquanto tomava meu suco de caixinha e ouvia minha mãe cantando. Tava tudo calmo, calmo de mais.

    Agora eu entendo aquela expressão de que antes da tempestade sempre vem a calmaria.

    Mas o céu não mudou.

    O mar no litoral não se levantou como em um daqueles filmes em que ele sempre fica agitado nas horas ruins.

    Eu nem ao menos tive um pressentimento ou algo do tipo.

    Ele apenas veio.

Um carro parcialmente destruído.

    Três pessoas dentro dele.

    Uma mulher, loira, olhos castanhos, boca fina, pele ressecada e cabelos desgrenhados.

    Dois homens, um moreno e outro ruivo.

    O moreno era bem auto até, tinha um porte esguio, cabelo liso e olhos azuis claros.

    O outro tinha os cabelos cacheados, uma pele muito pálida, e olhos negros como breu.

    Eu mesma fiz um retrato deles.
Eles pararam o carro caindo aos pedaços no meio da pista. Fomos obrigados a parar também, eles saíram.
    Vieram até nosso carro. Meu pai saiu e eles conversaram, um deles mostrou sua cintura, eu não conseguir ver o que era mas meu pai viu. Ele nos olhou. Voltou pro carro e nós pediu para pegar nossas coisas e sair fizemos tudo certo.
    Agie ficou quietinha no meu colo e ficamos sentadas do meio fio. Minha mãe na nossa frente e papai a frente dela. Coloquei Agatha atrás de mim quando a mulher loira também saiu do carro. Eles pegaram o nosso carro.
    A loira ainda não tinha entrado no carro, enquanto isso os rapazes ficaram por conta de guardar as coisas deles. Ela ficava nos observando. Disse algo pra um deles que se virou pro outro e apontou pra ela. Esse por sua vez conversou com ela que não tirava os olhos nossa família. Ele a fez olhar para ele e ela concordou com algo que ele disse.
    No final eles entraram no carro os homens na frente e quando deram a partida a mulher também decidiu entrar. Isso sim foi como em câmera lenta dos filmes. Ela não entrou imediatamente, só abriu a porta. Um dos caras se virou e viu a cena, chamando o outro e eles chamaram por ela. O do lado do motorista tentou sair e ela o chutou de volta se virando para nos puxou sua arma e atirou o equivalente a quatro vezes.
    Papai e mamãe se levantaram na hora e caíram em cima da gente.
    Agie ficou em choque deitada no chão ao meu lado, me olhando nos olhos, a cabeça de mamãe estava deitada na minha barriga e papai no meio de nós. Como em dos nossos piqueniques em que ficávamos deitados no pano chadrez observando o céu.

    Ouvi vozes brigando e então um carro partindo.

    Não fiquei em choque mas também não levantei. Me mantive perto dela. Olhando para ela.
    Agie não chorava. Ela apenas olhava.
E então depois de um tempo. Já estava entardecendo. Alguns carros apareceram, uns homens nos pegaram e nos tiraram dali. Fiquei o tempo todo com ela, dentro da ambulância. Eu não sentia muita coisa. Mas sabia que havia levado um tiro. Mas eu só me preocupei com ela.

▪︎▪︎▪︎

    Agie também havia levado um tiro. O dela foi na perna e o meu no braço. Fizemos fisioterapia. Fomos mandas para aquele orfanato e vivemos lá até então. Nós recusando a ficarmos separadas uma da outra.

Juiz: Obsessão Por AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora