Sua Natureza 1/2

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Desci as escadas e fui direcionada para sala de jantar por uma empregada. A mesma porta do inferno se abriu para mim e eu tive que entrar para ir de encontro com o demônio.

Veio outro empregado, acredito ser o mordomo, e puxou a cadeira para eu me sentar, logo após, nos serviu e foi pro canto da enorme sala de jantar.

A senhorita, não vai comer?- Perguntou.

O senhor só me chamou para poder me ver almoçar?- Perguntei mas sem olhá-lo e levei a mão a taça de suco e tomei um gole- Se dependesse de mim, só sairia daquele quarto morta.

Se não dependesse de mim, você estaria morta- Disse frio, porém, de uma maneira calma. Era incrível como ele gostava de deixar esse nervosismo no ar, ou era só eu que sentia?- Se dependesse de mim, Srta. Rebecca, você nem ao menos tinha saído daquele banheiro. Sua medrosa!

E quem liga?- O olhei de uma maneira firme em seus olhos, eu não estava brincando no que iria dizer- Viver aprisionada nessa casa é a mesma coisa de estar morta, você quer me usar como um boneco de ventríloquo. Uma pena que tudo que você consiga de mim é o medo. E eu assumo, eu só te obedeço pelo medo que sinto de você.

Agora me diga, como uma mulher medrosa vive nessa cidade?- Prendeu minha mão na mesa para que eu não saísse dali- Se é pra viver como um covarde, como um valente um morro. Se você não parar de temer ordens de pessoas que você não conhece, vai ser uma mera prostituta nessa cidade medíocre!- Soltou minha mão e bateu o punho na mesa fazendo as coisas que haviam em cima dela vibrarem- Era para eu ter avisado pra te mandar pro lugar que você veio, ou eu mesmo já ter te mandado pro quinto dos inferno!- Meu coração acelerou na mesma da hora, voltei meus olhos na mesa e sentia a pressão das lágrimas subindo em minha garganta- Para de chorar, você não acha que já deu!?- Se levantou e pegou meu queixo me fazendo o encarar- Você vai virar mulher, eu vou te fazer virar mulher nem que seja na marra!- Soltou meu queixo com força- Agora você come, e esqueci essa ideia de chorar e de fugir que tá sugando a sua mente!

Se sentou novamente na cadeira e eu fiz o possível e o impossível para conseguir segurar o choro para não deixar aquele homem ainda mais irritado do que ele estava. Mas só de lembrar os gritos e da maneira grotesca que ele me olhou e falou comigo a vontade veio e eu não consegui controlar.

Eu não tava acreditando, eu não podia acreditar no que estava acontecendo. Será que nenhum deus, nenhum santo, nada estava vendo o que eu estava passando.

Eu poderia ter esquecido. Mas eles não esqueceram, eu tenho certeza. A desgraça que a minha família já passou, a injustiça feita com eles, eu como sobrevivente do destino, merecia ser feliz.

Larguei o talher e tampei o rosto chorando enquanto o ouvia suspirar fundo, após falar, merda, merda! E sair da sala de jantar ainda mais irritado do que antes.

Mas o que ele queria afinal, queria que após tivesse gritado comigo eu sorrisse e lhe entrega-se flores como se houvesse falado coisas lindas e adoráveis para mim.

Levantei da cadeira após alguns minutos com a mão no rosto e subi as escadas correndo, o único lugar que eu me sentia acolhida era dentro daquele quarto.

Fechei a porta mesmo sabendo que ele poderia entrar na hora que ele quisesse no meu quarto. Me joguei encima da cama apertando o travesseiro tentando fazer aquela vontade de gritar passar.

Aliás, se eu gritar, ele realmente vai me matar. Já tá estressado o suficiente para conseguir fazer isso sem muita dificuldade. Eu não quero que ele me mate. Mas se for preciso, eu me mato.

(...)

Passo horas daquela tarde vagando pela minha mente, eu não estava pensando em nada. Eu já chorei o suficiente, pensei o suficiente, e não cheguei a conclusão nenhuma.

Talvez eu deve-se aceitar meu destino de uma vez.

Batidas na porta me fazem acordar dessa alucinação, eu assustei. Esperei a porta ser aberta, mas pela primeira vez desde que cheguei nessa casa, não entraram.

Fiquei com medo, mas também curiosa. Acho que a minha curiosidade uma dia vai me matar. A batida se repetiu, e pude perceber que foram batidas fracas, apenas para me alertar.

Fui me levantando da cama, devagar, estava um pouco exitante. Andei até a porta planejando em deixar essa ideia boba de abrir a porta para trás. Mas eu já estava na porta.

Rodei a maçaneta e abri um pouco da porta. Olhei pela sua pequena frecha, e pude ver que não havia ninguém. Abri mais um pouco e realmente não havia ninguém.

Apenas...apenas uma bandeja coberta no chão. A minha barriga roncou no mesmo momento, fiquei tão atordoada que cheguei a esquecer que não tinha comido nada o dia inteiro.

Botei a cabeça por completo para fora do quarto procurando quem a havia deixado ali, mas na verdade, nem me importava, abaixei e puxei a bandeja para dentro.

Sentei com as costas para porta e tirei a tampa da bandeja dando de cara com muita comida. Mais da metade eu nunca tinha comido na vida. Mas não era uma análise, apenas detalhei.

Comecei a comer, devagar, eu estava com fome mas isso não quer dizer que deveria agir com maus modos. Porém, parecia que não havia comido a anos.

Será que colocaram veneno de rato aqui? muito bom pra ser verdade.

CONCUBINAOnde histórias criam vida. Descubra agora