Dias atuais:
Tomo banho e troco de roupa. Ainda está frio aqui no Rio de Janeiro, então eu visto praticamente a mesma roupa de antes. Para quem não sabe, meu closet é parecido com um closet de desenho infantil; as roupas são todas iguais. Eu tenho centenas de calças e casacos moletons brancos; blusas brancas simples e algumas calças jeans. O que diferencia são alguns pares aleatórios de roupas. Eu sempre tive esse sonho incomum de ter apenas esses tipos de roupas.
Saio do banheiro e me junto às meninas na sala. Todas estão mexendo em seus celulares e os larga assim que me notam, menos a Pandora. Deixo a mala parada em um lugar qualquer e me sento no sofá, junto a elas.
– Sua mãe está viajando, de novo... – Ste começa – Mas pode voltar a qualquer instante. Você sabe como ela é – assenti – então, como sabemos que você não quer ficar aqui. Aonde você gostaria de ficar?
– Vocês sabem que eu volto pra casa amanhã, né? – todas começaram a falar ao mesmo tempo e eu não consigo entender nada – Thayla, você ainda está com o João? – ela assentiu. – Então, na casa da Ste.
– Ótima escolha! – se aproximou de mim – Vamos aproveitar que a Lua está no pai hoje e vamos come... – ela encarou a Pandora – nos reunir em homenagem ao pai de vocês! – sorriu nervosa.
– Sem noção! – Pandora levantou e saiu.
– Você vai? – Thayla perguntou gritando.
– Encontro vocês lá! – respondeu de longe.
– Ok! – Thayla diz levantando – Diferente de você, a minha filha está em casa. Então, eu vou cuidar dela e depois encontro vocês lá. – Ste assentiu.
– A branca vai fingir que cuida da filha dela! – Clarisse diz e Thayla revira os olhos – Eu vou com vocês! – se aproxima de mim – Aproveitar enquanto esse viadinho está na cidade. – ri de lado.
Nós levantamos e todos nós saímos da minha antiga casa. O carro que eu aluguei está parado nada frente, eu abri o porta malas e guardei a mala. Passo a chave para a Stefanie e sento no banco do carona. Ela não questiona, apenas entra, coloca o cinto e da partida.
Dessa vez a viagem não está nada tranquila e silenciosa. Clarisse pareou o celular dela com o Bluetooth do carro e colocou suas músicas nada agradáveis. Tirando isso, ninguém deu um pio. E talvez seja melhor assim.
– Sinta–se em casa! – Ste diz assim que entramos.
Ela também não mudou de casa desde o ano retrasado, então não é nenhuma novidade para mim. Então, já fui direto para o bar que eu sei que fica na cozinha. Chegando lá, preparo um Sex on The Beach, meu preferido. As caço e as duas estão jogadas no sofá.
– Realmente, você não mudou nada! – diz Ste, novamente.
Dou um gole em minha bebida.
– Aqui, eu sei que foi bem pesado o que você passou e tals... – encarei Clarisse – Mas você não acha que foi uma reação um pouco radical? – Clarisse nunca tem medo de falar o que pensa e é isso o que eu mais gosto nela e talvez odeie.
– Não! – neguei.
– Como dona da razão... – quase cuspi minha bebida – Eu acho que foi sim um pouco radical. – diz Ste – Tipo, você podia ter mantido contato com a gente que te apoiou.
– Me dói, mas eu tenho que concordar com essa garota que foi encontrada no lixão! – Ste faz careta.
– Como que eu vou me esquecer do passado convivendo com ele? – Ste da de ombros.
– E como você soube que seu pai morreu? – Clarisse pergunta.
– Eu tenho meus informantes.
– Aposto que é a Thayla! – as duas disseram juntas.
– Vocês nunca saberão! – dou mais um gole em minha bebida – Vocês vão fazer uma bebida para vocês ou vão me deixar bebendo sozinho? – pergunto tentando mudar o assunto.
– Eu sei o que você está tentando fazer... – diz Clarisse – Enfim, tanto faz! – levanta do sofá – Vou preparar uma bebida.
O dia foi passando e a gente fofocando; digo, elas estavam falando mais do que eu. Clarisse contou da surra que ela levou ano passado, pois sua mãe descobriu que ela bebia e Stefanie contou das várias situações que aconteceram entre ela e vários dos seus ex's. Essas foram apenas as fofocas que eu me lembro. Se me recordo bem, elas também fizeram fofocas sobre antigos amigos meus que eu não tinha a menor curiosidade. Se eles deixassem de existir, eu não ligaria.
A campainha toca. Clarisse abre e é apenas Thayla e Pandora. Agora eu acho que a noite vai começar para todos, menos para mim.
– Vocês já começaram? – Thayla pergunta em relação à bebida – Depois você vem falar sobre eu ser individualista! – diz olhando diretamente para Stefanie.
– Minha filha, eu não vou impedir ninguém de beber! – diz seco.
– Mas quando eu vou pegar comida...
– Meu Deus! – revirei os olhos – Vocês ainda discutem por causa disso? Já se passaram o que? Cinco anos
– E a Stefanie ainda me odeia.
– Odeio mesmo!
– Chega dessa putaria! – diz Clarisse – Vamos logo começar a noite.
– Tá roubando a minha frase? – Pandora pergunta.
– Pensei que você ainda estivesse chorando pela morte do seu pai! – respondeu rápido encarando–a.
– Garota?! – Ste indaga.
– O que esperar de alguém que riu quando descobriu que a explicadora morreu? – pergunto.
– Pela milésima vez, eu não ri! – Clarisse diz aumentando a voz.
– Riu sim! – nós quatro falamos juntos.
– Mas enfim... – Ste levanta – Vamos lá pra fora que a Marta preparou alguns aperitivos e tem bastante bebida. Então, sirvam–se!
Levantamos do sofá e todos nós fomos para a área externar. Sentamos ao redor de uma mesa que está recheada de aperitivos e que é ao lado da piscina.
Enquanto elas conversavam de coisas que aconteceram recentemente, eu apenas bebo. Obviamente eu já não me encaixo mais nesse grupo e por mim está tudo bem, não pretendo voltar para cá mesmo. Após tanta fofoca e tanto disse me disse, eu me lembrei de algo que vi no funeral.
– Então quer dizer que você e Fred estão de volta... – digo encarando Pandora.
– Eu resolvi dar a ele uma segunda chance. – assentiu mordendo os lábios.
– Mesmo depois de ele ter largado você para voltar com a ex? – arregalo os olhos – Parabéns!
– O único que não consegue superar alguma coisa aqui é você! – solta. – Não acha que essa história de coitadinho não foi longe demais não?
– Tanto faz! – dou um gole em minha bebida.
– Por que eu sinto uma tensão entre vocês dois? – Thayla pergunta – O que eu perdi?
– O que nós perdemos? – Ste acrescenta.
– Nada! – digo negando.
Pandora não diz nada, mas continuamos nos encarando.
A campainha toca.
– Eu vou! – levanto para poder tomar um ar e me afastar de todas elas.
Sigo em direção à porta de entrada. A pessoa que está do lado de fora toca a campainha mais duas vezes e eu reviro os olhos. Dou uma leve esbarrada no sofá e logo me recomponho, nem estou tão bêbado assim.
Abro a porta.
Fico sóbrio em segundos enquanto encaro a pessoa que está na minha frente.
– Me disseram que você estava aqui! – diz Gustavo, sorrindo de lado.

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PIETRO
Teen FictionPietro é um menino sensível, de poucos amigos e de muitos problemas. Ele não sabe ao certo a sua sexualidade, não consegue concretizar os seus sentimentos pelos outros, prefere ser uma pessoa reservada, mas nunca consegue escapar dos seus problemas;...