Capítulo 10

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Dias atuais:

– Eu me sinto muito vulnerável por estar te contando tudo isso. – digo enquanto estou deitado em seu sofá com minha cabeça em sua perna – Olhando agora, parece que tudo na minha vida foi precipitado e bem dramático. – silêncio – Mas tudo faz parte de um processo, certo? Não tem nenhum aviso na primeira vez e ninguém para te dizer que você deveria correr; como eu devia ter feito há muito tempo atrás.

Digo após ter aberto minha vida inteira para ele em minutos. Desde o momento em que vi o Henry; quando contei dele para o Gustavo; quando contei dele para todo mundo e o resto é história que todos já sabem. E também contei sobre o meu breve período de tempo no Rio de Janeiro, que acabou sendo bom para alguma coisa.

– Está tudo bem! – ele diz – Todos nós passamos por merdas nesse tipo. Eu inclusive já tive que enfrentar várias coisas.
– Tipo o que? – pergunto, agora encarando–o.
– Eu sei que você contou praticamente a sua vida toda, mas eu ainda não estou seguro de contar a minha – olhou para o chão, desviando do meu olhar.
– Você não pode contar nada? – silêncio – Esquece! – nego, pois percebo que estou sendo um idiota.
– Posso! – assentiu – Mas não chega nem aos pés da sua história. E eu só vou contar isso para ficarmos quites, ok? – assenti. – Lembra quando eu te pedi carona para ir ao mercado, para comprar coisas para a minha reunião de amigos? – assenti – Eu já tinha comprado tudo na noite anterior. – arqueei a sobrancelha.
– Ué? Então por que você foi de novo?
– Não é óbvio? – riu sem graça – Porque eu queria passar um tempinho com você.
Fico encarando–o sem saber o que falar.
– E quando você me levou ao aeroporto? Você realmente estava indo naquela direção? – negou.
– Na verdade, eu cheguei atrasado no trabalho. – puxo seu rosto para mim.
– Por quê? – pergunto novamente.
– Você acha que no começo eu ficava te entregando comida por quê? – silêncio – Não era porque obviamente você estava com anemia. Eu senti algo por você assim que bati meus olhos em você. Mas como eu poderia me aproximar? Você estava sempre tão deprimido.

– Você sempre me pegava entrando ou saindo de casa.
– Porque você costumava sair no mesmo horário. – sorri de lado.
– Stalker! – sorri – Ainda bem que você não tentou nada antes dessa viagem, pois seria deprimente demais para você. – respiro fundo – Eu precisei resolver meus problemas antigos para perceber que tudo o que eu precisava estava bem na porta da frente. – ele sorriu.
Se aproximou e deu um beijo em minha testa.
– Mas dessa vez eu vou devagar... – silêncio – Acho que já aprendi a lição. Para que fazer tudo às pressas se podemos aproveitar a viagem?
– Eu quero muito aproveitar essa viagem com você! – sorrimos.
– Cringe! – digo fazendo uma careta.
– Boboca! – nós rimos.

O silêncio se instalou no local. Eu continuei na mesma posição, olhando para cima enquanto ele faz cafuné em mim. O encaro olhando para frente e esse olhar dele está diferente, está mais pesado. Penso em perguntar o que está acontecendo, mas não quero forçar a barra. Então, deixo quieto.

– Ok! – ele diz do nada – Não é justo! Eu vou te contar o meu passado.
– Não! – tentei impedir – Não conta se você não se sentir confortável. Não quero pressionar. – ele solta um sorriso fraco de lado e acaricia meu rosto – Você não me deve nada. Eu te contei porque eu quis.
– E eu vou te contar, porque eu quero e confio em você.
– Tem certeza? – assentiu.
– Por mais que só esteja nós dois aqui, vou contar no seu ouvido, pois se eu falar alto vai parecer mais real do que já foi. – assenti.
Ele se aproxima da minha orelha e poucas palavras foram o suficiente para fazer com que eu arregalasse os o meus olhos e ficasse paralisado por alguns segundos.
– Sinto muito! – é a única coisa que consigo dizer.
– Está tudo bem! – cai uma lágrima de seu olho – Eu vou ficar bem.
– Você não precisava contar! – sento no sofá e o puxo para um abraço. Ele chora em meu peito enquanto eu o acaricio – Vai ficar tudo bem! – digo sem ter certeza alguma.

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