Após ter aquele sonho esquisito, eu conversei com o Gustavo. Foi estranho, todavia, bem sincero e libertador. Ele disse que nunca faria algo assim comigo, pois somos melhores amigos e blá blá blá. Mas a questão nem é essa, a questão é: por que eu estou com medo de perder alguém que nem é meu para alguém que nunca me trairia?
Eu tenho que parar com essas paranoias desde já, antes que elas acabem comigo.
Hoje é considerado um dos meus dias favoritos; o dia em que eu fico sozinho em casa. Na verdade, o final de semana. Minha mãe foi viajar com o marido dela; os dois estão de "férias" e a minha irmã foi para São Paulo, supervisionar de perto a padaria que ela vai inaugurar lá. Assim que acordo, os três já não estão mais em casa. Então, ligo a música no máximo; começo a preparar um café da manhã caprichado – coisa que eu tenho preguiça de fazer e só faço quando estou sozinho – e começo a curtir minha solidão, logo cedo.
Mando mensagem para o Gustavo, perguntando se ele queria fazer alguma coisa hoje e ele respondeu "Eu não tenho sua vida não. Tenho que trabalhar para me sustentar", eu sempre esqueço que ele trabalha. Mando mensagem para a Clarisse perguntando o mesmo e ela não está em casa, está na casa da segunda mãe dela. Não mando mensagem para os meus amigos, pois eles sempre arrumam alguma desculpa e é isso, não sobrou mais ninguém. Ninguém além do Henry. Só que eu não quero ficar muito em cima dele, não quero sufocá-lo. Então, bloqueio o meu celular e taco no sofá. Começo a cantar alto a música "Doce - Jão".
As horas vão se passando e eu não faço nada. Pela primeira vez na minha vida eu me sinto sozinho em casa, na verdade, estou acompanhado do tédio. Ainda jogado no sofá, começo a pular as músicas que já estou exausto de ouvir e logo desligo a televisão. Bufo olhando para o teto e pego o celular que havia jogado para longe. Começo a encarar o contato do Henry e parece que a qualquer instante eu vou explodir com a indecisão. Decido abrir o chat e mando mensagem. "O que você pretende fazer hoje? Estou entediado."
Bloqueio rapidamente o celular.
Passaram–se cinco minutos... Dez... Meia hora... Uma hora... Dormi.
Acordo com o meu celular tremendo em cima de minha barriga; é ele.
– Henry –
H: Oi!
H: Então, estou pensando em sair com alguns amigos.
H: Quer ir junto?
H: Ou prefere fazer alguma outra coisa?
P: Eu não sei se estou com vontade de sair de casa hoje.
P: Você quer vir pra cá?
P: Se não quiser, tudo bem! Vai se divertir com seus amigos.H: Manda o endereço.
Sorri de lado.
Ele falou que chegaria lá pelas oito horas; e agora são sete. É obvio que ele vai chegar nove horas da noite. Então, sem pressa. Levanto do sofá e rapidamente arrumo a minha bagunça. Subo para o meu quarto, tomo banho, escovo os dentes e escolho uma roupa. Logo já estou de banho tomado, cheiroso e a casa está arrumada, como sempre; pena que ainda é muito cedo. Abro um aplicativo de fast food e escolho comida japonesa, mesmo sem saber se ele gosta.
Passaram–se meia hora e a campainha toca. Pelo menos os aperitivos chegaram antes dele. Abro a porta e na verdade é ele. Vestido todo de preto; seu cabelo cacheado e um cheio exótico de seu perfume. Nos abraçamos e ele entra.
– O porteiro deixou você entrar sem me comunicar? – digo fechando a porta.
– Acho que eu já sou de casa! – sorri. – Então, é hoje que você me apresenta a sua família? – perguntou me encarando.
– Não tem ninguém em casa.
– Então quer dizer que a casa é só nossa? – sorriu me encarando de lado.
– Eu acho que sim – dou de ombros.
– E que casa, em! – diz girando.
– Quer uma tour? – ele assentiu.
Começamos pela parte de baixo, sala; cozinha; banheiros; quarto de hóspede; dispensa; varanda; sauna... Depois subimos e eu mostrei tudo, menos o quarto da minha mãe. Estou prestes a abrir a porta do meu quarto, quando a campainha toca e eu me assunto.
– Quem será? – me pergunto em pensamento. – Entra ai e fica – digo abrindo a porta do meu quarto – volto em alguns segundos.
Vou andando devagar até a porta da frente, morrendo de... De alguma coisa que eu não sei citar agora. O que pode acontecer se alguém da minha família me pegar sozinho em casa com outro garoto? Certeza que eles duvidem de minha sexualidade, e eu vou entregar assim de bandeja para eles?
Começo a me aproximar da porta e dessa vez olho pelo olho mágico. É a porra do entregador. Esqueci completamente que havia pedido comida. A porra do porteiro tá dormindo enquanto trabalha? Abro a porta.
Após a entrega, a coloco em cima do balcão da cozinha e vou em direção ao meu quarto, aliviado.
– O que você está fazendo? – perguntou abrindo a porta e encarando Henry, que está virando de um lado para o outro em minha cama.
– O teste do colchão. – eu ri – Realmente, muito bom!
Fico parado, em pé, observando-o e logo ele parou de barriga para cima. Deu dois tapinhas no colchão para que eu deitasse ao seu lado. Me aproximo com um pouco de vergonha e deito ao seu lado. Ele vira de lado e ficamos encarando um ao outro.
– Quando que você vai me apresentar para a sua família?
– Que vontade é essa de conhecer a minha família? – pergunto.
– Não sei! – dá de ombros – Acho que é por causa do meu último relacionamento.
– Por que você está falando do seu ultimo relacionamento? – o fitei – E pera ai, o que eu sou pra você?
– Você é uma pessoa especial! – sorri de lado.
– Pera ai, qual o seu signo? – pergunto.
– Libra! – revirei os olhos.
– Estava demorando demais para aparecer um defeito – digo me afastando dele para levantar da cama e ele me puxa pelo braço, fazendo com que eu ficasse por cima dele.
– Como assim? – balançou a cabeça – Librianos são os melhores.
– Vocês não são nem um pouco confiáveis! – respondo rápido – Ascendente?
– Câncer!
– Puta que pariu! – afundo minha cabeça no colchão, ao lado da dele – Aonde que eu fui amarrar meu bode?
– Por que você está procurando mil e uma maneiras de me humilhar? – eu levanto a cabeça e o encaro.
– Desculpa! – sorri – Talvez você seja diferente.
– Eu sou! – diz com tanta convicção, que eu quase acredito – Algum outro libriano faria isso? – disse se aproximando e roubando um beijo.
Se afastou e me encarou com uma feição de convencido.
– Faria melhor! – ele arregala os olhos – Estou brincando. – ri.
– Você me chamou aqui para me esculachar? – tentou fazer cara de sério
– Não! – neguei – Eu te chamei aqui porquê... – travei.
– Por quê?
– Porque você também é especial para mim. – consigo dizer.
Ele ficou parado me encarando e não demorou muito para sorrir. Logo se aproximou de mim e começou a me beijar. A coisa começou a ir mais afundo e provavelmente chegaria a um momento em que nós não conseguíramos mais parar. Ele girou e me colocou na posição que ele estava, por baixo. Começou a beijar meu pescoço e minhas mãos começaram a ir em direção a sua calça. Estou prestes a abrir o zíper dele e paro. Eu não queria para. Porém, devo. Coloco a mão em seu rosto e me afasto de seus lábios. O encaro e está nítido que ele quer continuar. Afinal de contas, em sua cabeça, eu o chamei aqui para isso.
– Eu esqueci completamente que pedi lanche para nós! – digo me afastando – Vamos comer? – ele se jogou na cama e ficou ao meu lado.
Ele sentou na cama.
– Qual é daquele tênis velho ali? – disse se referindo ao meu All Star preto que está jogado no canto do quarto.
– Eu me esqueci de jogar fora. – digo abrindo a porta – Ele ficou todo sujo de terra lá em Teresópolis e eu não o limpei quando cheguei em casa.
– Não joga fora não! – negou – Bora personalizar. Tem caneta de tecido ai?
– Acho que sim! – assenti – Depois cuidamos disso. Vamos comer? – estendo a minha mão e ele segura.
Passamos um bom tempo na cozinha comendo, conversando e se conhecendo melhor. Deixamos a sujeira de lado e voltamos para o meu quarto, pois ele está doido para personalizar o meu tênis velho. Encontro um estojo de caneta de tecido e entrego para ele. Henry senta no chão, junto com o Tênis e eu deito em minha cama, com as mãos segurando o meu rosto, para que eu possa olhá-lo.
Ele acaba de personalizar um par e eu não pude deixar de encarar um dos meus desenhos preferidos, Saturno, que no caso, também é o meu planeta preferido. Ele parte para o outro par e eu continuo encarando-o. Não acredito que isso realmente esteja acontecendo.

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PIETRO
Ficção AdolescentePietro é um menino sensível, de poucos amigos e de muitos problemas. Ele não sabe ao certo a sua sexualidade, não consegue concretizar os seus sentimentos pelos outros, prefere ser uma pessoa reservada, mas nunca consegue escapar dos seus problemas;...