PIETRO

A balança nunca está equilibrada

– Ah, querido. Finalmente! – a mãe da Thayla, Monique, diz assim que me vê – A louça tá ai ó, te esperando. – ri.

Eu me aproximo dela, que está sentada escrevendo o seu livro, na cozinha. Nos abraçamos e eu sento a sua frente, para começar a fofoca.

– Está acontecendo algo comigo ultimamente e eu preciso conversar sobre isso com você. – digo
– Posso? – ela assentiu sorrindo e deixa o notebook de lado.
– Deveríamos abrir um vinho? – diz brincando.

Eu não sei se a Monique soltou algum feitiço em mim que faz com que eu abra a boca perto dela e perca toda a minha vergonha. E se esse for o caso, eu agradeço. Nunca me senti tão a vontade de conversar com alguém como eu converso com a Monique. Eu sei que posso conversar com ela o dia todo sobre a minha vida e ela vai me dar uma luz; me dizer onde eu estou errando, dizer onde estou ultrapassando dos limites e como eu posso parar com isso. Uma verdadeira psicóloga. E por mais que eu ame conversar com ela, às vezes eu sinto tristeza. Pois às vezes é uma abertura que eu queria ter com a minha mãe; mas por conta da sua religião, eu não me atrevo.

– Então! – começo – Quando eu comentei sobre essa situação ali fora – aponto para a varanda – você já tinha saído de fininho – nós rimos – eu meio que estou saindo com um menino.
– Até que enfim, né?! – diz com um jeito que sempre me faz rir – Eu pensei que eu mesma teria que criar, sla, um Tinder pra você. Tava difícil, querido!
– Pois é! – assenti rindo – Mas enfim, eu descobri que o signo dele é de libra – ela assentiu – e o ascendente é em câncer.
– Tá brincando? – neguei – Pietro, quê? – ela riu – Não é possível. Cara, existe bilhões de pessoas no mundo e você se relaciona com alguém de libra e câncer? – riu – Se você está à procura de um conselho, corre. – eu ri.
– Foi o que eu pensei! – digo concordando – Porém, não sei. Ele pode ser diferente.
– Olha, eu sei que você sabe sobre os signos, mas eu vou ter que refrescar a sua memória. – assenti – Isso só pra você saber mais e ter um certo cuidado! – assenti novamente – Então, o símbolo de libra é uma balança e essa balança nunca está equilibrada. Uma hora tende a ir para um lado e outra vai para o outro. Libra é inconsistente. Ou ele quer tudo ou ele não quer nada. Uma hora ele querer você e na outra ele não vai quer mais. Eu, Monique! – diz apontando para si – Como te conheço bem, acho que essa indecisão de libra não tem nada haver com você. Você é de...

– Touro!
– Com ascendente em peixes?
– Escorpião!
– Amo! – diz entusiasmada – Imagina. Você com o sol em touro, gosta de ficar no seu canto de boas, ter que lidar com uma pessoa indecisa que de repente quer sair e daqui a duas horas não quer mais? – bebeu água – Sem contar que libra gosta de luxo. Você pode conquistar ele pelo valor da sua conta bancaria, por exemplo! – a encarei de lado – Espero que isso não seja o seu caso. Porque você é um cara super legal e eu sei que tem muito a agregar em alguém.
– Bom, também espero que isso não esteja acontecendo. – ri de nervoso.
– Tá. Isso tudo que eu estou dizendo, tá sendo super superficial – gesticulou – e ainda temos que falar sobre câncer.
– Que vive preso no passado – digo revirando os olhos.

– Exatamente! – concordou com a cabeça – Além de viver no passado, ele é muito manipulador; gosta de se fazer de coitado e de inverter a situação. Ou seja, não importa o quanto esteja errado. Ele sempre vai pegar algo no fundo do baú de mágoas dele e vai jogar contra você. Cara, eu não vejo você namorando alguém assim – contraiu os lábios e negou com a cabeça – mas se esse for o caso. Cuidado com o vitimismo e com a manipulação que eles tendem a causar.  – assenti – Por mais que a história seja triste, se você vê que é hora de sair dessa relação, saia.
– Então, quando ele estava lá em casa sábado passado – ela arregalou os olhos – não aconteceu nada! – neguei – Voltando, ele deixou a entender que no relacionamento passado dele, ele não teve o que queria.
– O que seria isso?
– Ele me perguntou umas três vezes quando iria conhecer a minha família. – soou estranho falar isso da boca para fora.

– Essa foi a balança dele de tipo "Quero muito conhecer seus pais, mas tem que ser agora" – fez aspas com os dedos – se passar três dias, ele desiste. E se você estiver excitado em fazer esse encontro acontecer e ele não quiser mais, esquece. Nada vai fazê-lo mudar de ideia! – olho para o chão.
– Mas não acha que está muito cedo? – pergunto – Eu o conheço não faz nem um mês.
– Não sei! Talvez. – deu de ombros – Se você apresentar agora, pode estar se precipitando. Mas se demorar muito, talvez você possa perdê-lo. A decisão é sua.
– Mas também tem o caso de eu perder os meus pais – silêncio – um machista e uma crente. Ótima família que eu fui nascer! – nego com a cabeça.
– Você prefere ficar escondendo quem você realmente é e o que você sente? – silêncio – Seus pais te amam e nada vai mudar o amor que eles sentem por você.

Fico parado encarando o chão pensando nisso.
Será que eu deva realmente abrir o jogo para os meus pais ou eu fico escondendo isso até onde der?
E se eu acabar perdendo o Henry por isso?
O que eu faço?
Quem eu escolho?
Os meus pais;
O Henry;
Ou eu mesmo?
Silêncio.