Fomo

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Ainda estou deitado na cama com o Henry e eu não quero sair daqui nunca mais. É como se ele fosse o meu porto seguro e enquanto nós dois estivermos aqui dentro nada de ruim acontecerá com a gente. Contudo, não posso fingir que nada aconteceu e me sentir cem por cento seguro.

Ainda muito oscilante, eu durmo e acordo o tempo todo. Todas as vezes que acordo, penso que o Henry não está mais aqui e sempre dou uma longa olhada para ele, que está dormindo e me abraçando. Acho que agora eu entendo o motivo de os casais separarem e voltarem. Existem muitos sentimentos para serem jogados no lixo tudo de uma vez. Eu continuo gostando dele, ele continua gostando de mim e eu acho que vamos seguir assim; afinal de contas, para que procurar algo novo se ainda estamos apegados ao passado? Enfim, nada do que eu disse tira o fato de eu ser um hipócrita, pois vivia dizendo que nunca aceitaria esse tipo de situação e aqui estou eu. Continuo encarando-o e me aproximo dele para dar um beijo em sua testa. Fecho meus olhos e volto a dormir.
Acordo e o que eu mais temia aconteceu, ele não está mais aqui. Alcanço meu celular que está no criado mudo e vou direto para a mensagem que ele enviou.

Henry: Ei, tive que vir embora e não quis te acordar

Henry: Vai rolar uma resenha na casa de um amigo mais tarde, se você topar nós vamos

Fiquei encarando a mensagem até o celular bloquear. Não sei se estou com clima para uma resenha, mas se ele quiser muito ir eu faço um esforço por ele. Voltei à posição inicial que eu estava e desbloqueei o celular. Antes que pudesse responder a mensagem, minha mãe abre a porta e eu deixo o celular cair em meu rosto. Droga!

– Agora não tem pra onde fugir! – disse rindo e se aproximando para me abraçar e me encher de beijo.
– Para! – digo estressado – Eu só quero ficar em paz.
– Quer ficar sozinho nesse quarto pra sempre? – pergunta passando sua mão em meu braço.
– Sim. – tiro sua mão de mim.

Silêncio.
Nós ficamos nos encarando.

– Então quer dizer que você está namorando um menino?! – deu nó em minha garganta – Por que você não me contou? – ri de lado, como se fosse uma piada.
– Talvez por você ser homofóbica?! – dei de ombros – Não tenho tanta certeza.
– Eu não sou homofóbica! – disse em um tom agudo – Eu só acho que...
– Ai que tá, você não tem que achar nada! – interrompo–a.
– Pietro, você acha isso normal? – silêncio – Você acha normal homem com homem, mulher com mulher; um homem dizendo que é mulher e se identifica como tal...?
– Óbvio! – assenti – Por que não seria normal? As pessoas são o que elas quiserem ser.
– Deus crio o homem e a mulher para se unirem. – cerrei os olhos – Isso não é normal. É igual o caso da ex namorada da Stefanie...
– Ex namorado! – a corrijo.
– Paulinha! – riu – Aquilo é uma menina. Não é um menino.
– Paulo! – a corrigi novamente – e ELE é quem ele quiser ser. Não o que você quer ou acha o que ele é.
– Isso não é invenção de Deus. – negou – Deus criou apenas o homem e a mulher. O resto é tudo criação do demônio. É um povo tudo cheio de espírito.
– Então você está falando que eu sou uma criação do diabo?
– Não. – negou rapidamente – Homem com homem e mulher com mulher, ás vezes, tá tudo bem, agora...

– Mãe, sério... – reviro os olhos – Inacreditável! Não sei como eu ainda estou aqui ouvindo essas besteiras.
– Ué, Pietro!
– Ué o que? – falo um pouco mais alto – Você fala sobre não ser normal... sabe o que não é normal pra mim? – silêncio – Uma seguidora de Jesus ficar falando tanta asneira. Cadê o amor ao próximo? Cadê o livre arbítrio? Cada um vive a vida que quiser. Você ao invés de ficar cuidando da vida dos outros, deveria cuidar da sua. Até parece que você nunca foi um desses povos da "vida". Euen. Você acha que Deus está gostando da sua atitude? Porque eu tenho certeza que ele deve estar com vergonha de você.
– Eu não ligo pra vida deles! – ri – Eu ligo pra sua e eu quero te ajudar.
– Ajudar como?
– Vamos pra igreja comigo! – arregalo os olhos e nego com a cabeça – Vai que Deus fala com você e te dá a libertação.
– Que libertação? – grito – Você quer me libertar de mim mesmo? Você acha o que? Que eu estou cheio de espíritos e demônios dentro de mim apenas por gostar de uma pessoa? Uma pessoa que Deus criou. Deus é amor e você não passa de um poço de arrogância.
– Eu já fui uma pessoa do mundo assim, igual a você, e nunca é tarde para se arrepender – levanto da cama e abro a porta – você é prometido de Deus.
– Eu tenho certeza que Ele me ama e vai me aceitar do jeito que sou. – sorrio ironicamente – Agora, licença! – digo apontando para fora.
– Mamãe ama! – diz passando por mim.
– Às vezes é difícil de acreditar! – fecho a porta assim que ela passa.

PIETROOnde histórias criam vida. Descubra agora