Capítulo 3

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Dias atuais:

Acordo de um pesadelo em que eu dizia coisas horríveis para todos aqueles que um dia eu já amei. Bom, será que eu dormi? Será que foi pesadelo? Devaneio ou imaginação? Não sei.
Apenas uma coisa é certa, o meu cérebro está brincando comigo.

Foi estranho e ao mesmo tempo libertador. Querendo ou não, eu estou onde estou por conta do meu passado. E eu sei que não devemos retribuir nada com a mesma moeda, aprendi isso com o passar dos anos. Porém, como já disse, foi tão real e tão libertador que eu fiquei com um gostinho agridoce em minha boca. Se meu coração pudesse ouvir todos os planos que a minha mente pensou agora, ele se entristeceria. Deixo tudo de lado e começo o meu dia.

Desde ontem Thayla continua me mandando mensagem em relação à morte do meu pai. Ela tenta me convencer a ir ao enterro dele, pois talvez eu possa me arrepender no futuro. Eu sei que não irei me arrepender, mas será que eu quero viver com mais um peso que é essa dúvida? Sento na mesa com o notebook aberto na página de finalizar a compra da passagem. Será que eu realmente tenho que fazer isso? Algo dentro de mim diz que "sim!". Então, eu compro a passagem para daqui algumas horas, apenas de ida. Levanto e vou para o quarto. Arrumo uma pequena mala de mão, pois pode haver imprevistos e começo a me arrumar.

 Durante todo essa preparação, começou a me dar um frio na barriga. Eu sei que não irei agir igual... – vamos chamar esse sonho/imaginação de "situação" – porém tenho medo de como as coisas podem fluir.

 Pronto!
Agora é só descer e pedir um carro de aplicativo.
Visualizo a casa, para ver se está tudo em ordem e está. Coloco minha mochila nas costas, puxo a alça da mala e abro a porta.

 – Ei! – era a voz do Heitor – Você não apareceu aqui ontem. – me viro para encará-lo – você está indo viajar? – assenti.
– Aconteceu um imprevisto – respondo.
– Ah, entendi! – balançou a cabeça – Então, eu estou indo para o lado do aeroporto, quer uma carona? – colocou a mão na cabeça e a coçou.
– Não precisa! – neguei – Não quero ser um incômodo.
– Incômodo algum. Eu já estou indo para o lado de lá, então...
– Tem certeza? – o encarei e ele assentiu. – Então, eu aceito. – ele sorriu de lado.

 Descemos o prédio até o estacionamento e entramos em seu carro. Ele da partida e eu fico apoiado na janela, observando a vista.
Dá para sentir que ele me olha às vezes e eu sento que ele quer fazer alguma pergunta. Contudo, continuo quieto na minha, aproveitando os últimos minutos de silêncio que teria.

– Então, para onde está indo? – perguntou rompendo o silêncio.
– Rio de Janeiro!
– Ah, legal! – pausa – Vai aproveitar que o inverno de lá é menos brusco do que o daqui?
– Meu pai faleceu! – silêncio.
– Sinto muito! – assenti ainda olhando pela janela – Se você precisar que alguém cuide do seu apê enquanto estiver fora...
– Eu volto amanhã – o encarei – mas, obrigado! Acho.
– Disponha! – sorriu de lado.

 O silêncio se instalou no carro novamente e ficou assim até chegarmos ao aeroporto. Ele parou em frente à entrada e eu saio. Pego a mochila e a mala no banco de trás. Paro na janela do carona.

 – Boa viagem e volte logo! – ele diz sorrindo.
– Obrigado! – dou um sorriso fraco.

Viro as costas e ele dá partida.
Eu acho que ele deveria ter me desejado boa sorte, pois acho que é disso que vou precisar.

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